otxjunior 02/01/2022Caçada Mortal, Lawrence BlockSegundo livro da premiada série de Lawrence Block, que acompanha o detetive particular Matthew Scudder, que leio e já posso atestar a consistência do autor desde o primeiro capítulo. Este funciona aqui quase como um conto com começo, meio e fim de um sequestro, da fase de execução à negociação, até seu desfecho trágico. E apesar de cenas violentas gráficas envolvendo mutilação e estupro, são nos diálogos irônicos e bem-humorados, ainda que muitas vezes mórbidos, e espertos demais, mesmo para os novaiorquinos, que a série encontra sua marca.
Não poderia ser diferente nesta Nova Iorque suja dos anos 90, cujo pessimismo usual e sombrio previa um colapso da humanidade para antes do fim do século. A ambientação dá um verdadeira sensação da cidade nesta época. Os personagens de moral duvidosa, quando possuem uma, viciados, corruptos, pervertidos e sádicos trazem um realismo das coisas que assumidamente não se resolvem como no cinema. Por outro lado, a agilidade da escrita remete diretamente a cortes de uma montagem cinematográfica.
Block parece desviar das armadilhas do gênero, principalmente na construção de personagens. Do senso distorcido de justiça, nada ortodoxo, do protagonista à imaginação do policial competente, para variar, a quem recorre para a resolução do caso. Entre outros assistentes, estão o pentelho TJ, que aqui justifica um spin-off de série YA de mistério, uma dupla de hackers responsável pela excessiva e datada exposição tecnológica e, claro, a prestativa namorada, cujo relacionamento a despeito de sua atividade remunerada apresenta evolução nas últimas páginas.
Gentrificação, alcoolismo e dependência de drogas, e a questão do imigrante circulam a trama principal, que não deve nada às histórias fundadoras do noir. A atualização não dispensa o escritor de nomear seu vilão de Raymond Callander, numa alusão ao mestre quase homônimo Chandler da literatura policial norte-americana. Já a tradução pouco inspirada do título original, algo como Um Passeio entre Os Túmulos, eu substituiria por uma igualmente sinistra imagem recorrente no romance, Apenas mais Uma Noite no Brooklyn.