Lauraa Machado 16/09/2017
Não se deixe enganar pela capa
Antes de mais nada, quero deixar bem claro que minha intenção não é ofender ninguém e que tudo que eu disser aqui é simplesmente minha opinião. Se você leu esse livro e amou, bom para você. Mas eu sofri do começo ao fim e acho que mereço uma medalha de ouro por ter conseguido terminar, então não vou me segurar na hora de dar minha opinião sobre esse livro.
Tem outra razão para eu querer ser completamente honesta nessa resenha: quando eu vi esse livro pela bienal e fiquei interessada em comprar, vim procurar antes aqui algumas resenhas. Pelas que tinha, o livro parecia ser a oitava maravilha do mundo, não uma completa perda de tempo, uma bagunça mal desenvolvida e criada do começo ao fim, como realmente é. Quero que a próxima pessoa que se interesse possa ver que ele não chega nem perto de perfeito ou de agradar todo mundo.
Tem tanta coisa de errada com esse livro, que fica difícil decidir por onde começar. Conforme lia, usei uma querida amiga de saco de "pancada", já que ela teve que ouvir todas as minhas críticas e ataques de frustração quando algo absurdo acontecia na história (ou seja, praticamente o livro inteiro). Mas agora, na verdade, tenho até um pouco de preguiça de lembrar de tudo pelo que tive que passar para chegar ao epílogo mais clichê e inútil do universo. Ainda assim, vou tentar.
O livro já começa errado. O jeito que a protagonista conhece Nicolas é a definição acadêmica de instalove (se esta existisse). É ridículo como os dois estão jurando amor eterno dois segundos depois de se conhecerem. Achei que haveria uma explicação para isso, como se fossem destinados, mas não. Simplesmente aconteceu. A garota vê um cara estranho a encarando na saída do cinema de noite e, depois do cara a seguir no metrô vazio e ficar conversando com ela (e prometer que a deixaria ir embora sozinha), ela acaba dando de cara com ele de novo na rua. Tudo, absolutamente tudo nessa cena diz que o cara é perturbado, perseguidor e que ela deveria correr o mais rápido possível para longe dele. O que ela faz? Ela o beija. Literalmente, logo depois de dar de cara com ele na rua outra vez, depois de ele ter prometido deixá-la em paz. Lógica? Cadê? Alguém faz o favor de encontrar? (Isso tudo acontece no primeiro capítulo, não é spoiler!)
Honestamente, não há uma única cena desse casal que faça sentido. O livro deixa a desejar em muitas coisas, mas talvez a pior delas seja essa falta de lógica, de realismo, que deixa absolutamente todo o resto impossível de convencer. A segunda pior parte tem que ser as informações absolutamente inúteis e constantes! O livro tem 400 páginas e eu apostaria que 300 dessas são completamente dispensáveis! Tem criatura nova aparecendo até às últimas trinta páginas do livro - praticamente todas inúteis, que não fizeram a menor diferença para o enredo, nem nada. Aliás, quase todas as informações trocadas na história são assim também. Parece que a autora estava tentando provar que tinha pesquisado muito sobre mitologia e sobre as cidades por onde a história se passa.
E eu entendo essa vontade de provar que sabe de alguma coisa. Eu mesma, como escritora, sei que noventa e nove por cento das pesquisas que se faz para um livro acabam não aparecendo, sendo essenciais só para evitar uma besteira. Mas essa autora fez questão de colocar toda sua pesquisa nesse livro.
Sangue Azul me ensinou uma coisa muito preciosa por isso também. Entender muito de um assunto e dominar a língua na qual se escreve definitivamente não faz um escritor. Não adianta nada você saber todas as regras de português e sinônimos sofisticados para as ações mais simples (como assentir com a cabeça) se você não tem instinto de escritor e não sabe contar uma história com naturalidade. Isso, pude perceber desde as primeiras páginas do livro. Não teve fluidez, todos os personagens falavam do mesmo jeito, nenhum tinha personalidade ou profundidade. Mas o pior da escrita era a falta de ritmo, falta de tato para algumas coisas, a completa falta de naturalidade. Existem truques não falados entre os escritores que fizeram falta aqui. Um deles é que, se você vai fazer seus personagens contarem um plano do começo ao fim antes de ele acontecer, é porque ele vai dar errado. Não existe a necessidade de contar algo em detalhes se depois você vai narrar o acontecimento exatamente igual. E ela errou isso aqui mil vezes. Não eram só planos, eram as mesmas informações sendo repetidas inúmeras vezes por pessoas diferentes sem qualquer sentido!
Além daquilo que falei dos personagens falarem todos iguais, todos amavam e admiravam a protagonista nos primeiros segundos que a viam. Revirei os olhos milhares de vezes, porque aparentemente ninguém precisou trocar mais de duas frases com ela para já declarar que ela era esperta, sábia e seria uma ótima rainha. Fiquei esperando durante o livro todo uma única cena que provasse isso e não veio. Aliás, a autora cometeu também um dos piores erros que poderia do começo ao fim: nada foi mostrado, tudo foi falado. Todas as características dos personagens foram declaradas em falas e diálogos, nenhuma foi provada. E, sinto muito, mas mil pessoas podem falar que a Olívia é sábia, se ela nunca tiver uma atitude sábia, eu não vou acreditar. Não vou nem lembrar que falaram isso dela.
Todos os personagens também só pensavam na protagonista, a vida deles parecia girar em torno dela! E todos sabiam de tudo que precisavam saber, sem qualquer explicação de como tinham descoberto. Quando informações teoricamente secretas eram declaradas pelos 'inimigos', fiquei pensando que acabariam descobrindo um traidor entre eles. Não, não tinha. Todo mundo sabia de tudo magicamente.
Os personagens realmente foram muito mal desenvolvidos, se é que houve qualquer desenvolvimento ali. Não tem a menor surpresa aqui, todos que parecem mal são, todos que parecem bons são. Ponto. Nada de surpreendente, nada de interessante. E essa separação de bem e mal é muito infantil. Tem muita coisa, aliás, nesse livro que me faria indicar só para crianças, mas não quero que meninas por aí cresçam pensando que é aceitável e uma boa ideia confiar no estranho esquisito que ficou te encarando minutos atrás.
Outra coisa que partiu meu coração foi ver a falta de emoção e sentimento que tinha na narração. As cenas que deveriam ser mais angustiantes passaram em poucas linhas sem demonstração alguma de sentimentos e eu não consegui me comover por nada, absolutamente nada que aconteceu na história inteira. Nunca vi um livro tão inútil, uma história tão mal contada. E, como eu disse, não quero ofender ninguém, mas foi uma verdadeira luta para mim ler até o final. É muito triste pensar no tempo que passei pensando em comprar esse livro e no desamor que ele acabou se tornando.
Acho que minha última crítica tem que ir à narração outra vez, que vai de terceira pessoa para primeira pelo ponto de vista da Olívia e para primeira pelo ponto de vista do Nicolas sem absolutamente qualquer indicação! E, vamos admitir, sem necessidade também.
Infelizmente, nada realmente salva aqui. A história não tem muito propósito, realismo ou lógica. Nem apelo tem, na verdade, já que nada me interessou aqui. O esqueleto da ideia até que é bom, mas a autora se apegou a detalhes inúteis e os descreveu ao extremo (é necessário descrever todos os cômodos de todas as casas nas quais ela entra, mesmo aqueles que nem chegam a aparecer na história? Para que eu preciso saber a cor das paredes de cada banheiro?) e depois correu nas cenas que deveriam ser mais emocionantes, além de cometer alguns erros de inconsistência (claro que vampiros conseguem ouvir barulhos de longe, mas quando é para ouvir a garota chorando do outro lado da porta, os ouvidos deles se comportam como de meros mortais).
Quem sabe, com um pouco mais de experiência e um editor que realmente sabe o que faz, esse livro não virasse um tesouro. Mas, do jeito que está, é uma história completamente dispensável e eu espero que ninguém mais perca seu tempo e sua paciência com ele.