Alle_Marques 29/09/2021
História de Pescador... ou quase
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[...] Ouvi um barulho confuso próximo a mim, mas, na posição em que estava deitado, não conseguia ver nada além o céu. Pouco tempo depois senti um ser vivo se movendo sobre minha perna esquerda, ele avançava gentilmente por sobre meu peito chegando quase ao meu queixo. Foi então que, baixando meus olhos o máximo que pude, percebi que se tratava de uma criatura humana com não mais de quinze centímetros de altura, com um arco e flecha em mãos e uma aljava nas costas. [...]
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Interessante, curioso e, ás vezes, divertido, mas problemático e muitas vezes racista e machista. Não acho que seja um livro infantil e não acredito que crianças e/ou pré-adolescentes devam ter acesso a esse livro sem supervisão de um adulto(a) racional, adulto(a) esse(a) que esteja disposto(a) a explicar o porquê de algumas passagens serem tão prejudiciais para algumas pessoas, povos e culturas e não devem ser reproduzidas, isso tudo dependendo da edição, claro.
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Começa bem, os dois primeiros contos (Lilipute e Brobdingnag), são interessantes, divertidos e fáceis de se ler. A criação de mundo de ambos os lugares são bem feitas, e suas políticas, leis e culturas bem detalhadas, pra quem gosta de descrições é um prato cheio
O terceiro (Laputa, Balnibarbi, Luggnagg, Glubbdubdrib e Japão) é uma decepção em quase todos os sentidos, além de ser cansativo e apressado, o que torna cada história comprimida e com a aparência de incompleta, mas com algumas exceções, como a visita de Gulliver a Universidade de Lagado, a conversa do Gulliver com os mortos e descrição de como é a vida de um Struldbrugg.
O quarto e último (Houyhnhnms), apesar de ser bem interessante ver o mundo dos Houyhnhnms, sua sociedade, maneiras de agir e pensar, lembrando sempre que são cavalos, é o mais problemático dos quatro, me incomodou bastante as descrições dadas a quase todos os ‘yahoos’ e eu quase abandonei o livro aí, e não digo nem por eles parecerem humanos, mas do autor fazer questão de destacar sempre que tem a oportunidade como suas maneiras ‘primitivas e selvagens’ são semelhantes a dos “Selvagens” (entre muitas aspas) do nosso mundo, ou seja, as tribos e nativos africanos, achei até engraçado (Ironic Alert) que em quase todas as resenhas que eu bati o olho, não havia nenhuma única comentando sobre isso e as várias outras passagens racistas da obra, coisa que está presente especialmente nessa última história, haviam pessoas ou elogiando as aventuras, críticas políticas e etc, ou criticando as coisas cansativas, repetitivas e maçantes, mas nenhum único comentário sobre o racismo explicito. Não sei se a edição que essas pessoas leram estavam com essas passagens cortadas, o que é bem possível, ou se elas apenas preferem ignorar a realidade que não são suas, ou ambos, claro. E o fato de o livro ter sido escrito originalmente no século XVIII, não justifica fechar os olhos e ‘passar pano’ pra esses absurdos em pleno século XXI.
[...] Não é possível descrever meu horror e minha perplexidade ao perceber, nesse animal abominável, uma aparência humana perfeita. Seu rosto era de fato chato e largo; o nariz, achatado; os beiços, grossos; e a boca, grande, mas essas diferenças são comuns em todas as nações selvagens, onde os traços da aparência são distorcidos pelo fato de os nativos deixarem as crias rastejarem na terra ou carregá-las nas costas, com as fuças apertadas contra os ombros das mães. [...] (Edição ‘Principis’, 2020. Traduzido Direto do Original em Inglês)
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