Georgeton.Leal 20/03/2022Sátira e aventura na medida certaLonge de ser o que muitas pessoas acham, "As Viagens de Gulliver" não é uma obra ingênua ou simplória. Nesse clássico, Jonathan Swift satiriza de forma muito inteligente a sociedade inglesa do século XVIII, tecendo várias críticas ousadas sobre a ambição e a hipocrisia humanas.
O protagonista, Lemuel Gulliver, é um médico-cirurgião que trabalha em navios e acaba se envolvendo em inesperadas aventuras por lugares estranhos e desconhecidos. Aqui vale lembrar que as adaptações que sempre vimos na TV retratam apenas a primeira aventura de Gulliver em Lilliput, mas na verdade, a história original é dividida em quatro partes que compreendem várias outras aventuras, como as viagens à Brobdingnag, à ilha flutuante de Laputa e à terra dos Houyhnhnms. A fim de não me estender muito, falarei um pouco apenas das quatro principais já citadas.
Em Lilliput, Gulliver encontra um reino formado por pequeninos homens, perante os quais ele é um gigante. Lá, se envolve no conflito entre os liliputianos e os habitantes de um país vizinho chamado Blefuscu. Já em Brobdingnag, acontece o contrário: Gulliver chega numa terra de gigantes, sendo a estatura dele minúscula diante de todos. Após ser descoberto, ele é transformado numa curiosa atração para os habitantes daquele reino e procura uma oportunidade para fugir daquele lugar. Em outra ocasião, quando visita a ilha flutuante de Laputa, o viajante conhece um povo bastante intelectual, obcecado pela música e matemática, mas que não aplicava seus conhecimentos de maneira conveniente, deixando de lado questões práticas do dia a dia. Na sua última aventura, Gulliver conhece a terra dos Houyhnhnms, uma raça de cavalos falantes que vivem numa sociedade altamente racional e organizada. Em contraste com os virtuosos Houyhnhnms, que são os governantes daquela região, há os Yahoos, seres humanoides que são uma espécie inferior e grosseira, muito similar ao homem primitivo.
Durante toda a leitura achei algumas passagens bem engraçadas devido a ácida ironia do autor. É claro que diversas analogias estão implícitas no texto e por isso, é necessário atentar a esses detalhes que, inclusive, fazem possíveis relações com personagens e fatos da época. Nesse quesito, seria interessante se alguma editora lançasse uma edição comentada desse clássico, pois muitas referências podem passar despercebidas ao leitor menos diligente.
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