Tamara 12/01/2018
*Resenha postada originalmente e na íntegra em: http://www.rillismo.com/2018/01/resenha-as-cores-do-entardecer-por.html
Quando comecei As cores do entardecer, eu não possuía a menor noção do quanto esta história me tocaria, ou do quanto ela permaneceria noites a fio em minha mente, reverberando com suas lições tristes, reais e em alguns momentos até mesmo belas. Mas, foi exatamente isso que aconteceu, e agora, ouso dizer que foi um dos livros mais incríveis que li a respeito de preconceito racial, e também um dos mais crus e realistas.
Esse livro traz para o leitor um intenso sentimento de pertencimento. Sim, em primeiro lugar pertencimento ao cenário, pois é extremamente bem construído, e conseguimos imaginar de forma bastante detalhada tudo que nos é descrito, e em todas as vezes que a autora voltava ao passado, nos anos de 1940 e seguintes, eu sentia que conhecia todos os locais, pessoas e objetos dos quais ela falava. Em segundo lugar o sentimento de pertencimento que tive não deveria existir, mas existe, pois é um sentimento de pertencer à mesma sociedade preconceituosa que existiu na juventude de Isabelle, e que existe ainda hoje, o que é provado pelo momento presente no livro, onde Dorrie e Isabelle sofrem diversos preconceitos e até mesmo olhares de nojo ou ódio, por estarem juntas e terem cores diferentes, e também quando mostra o passado de Isabelle que teve um amor tão conturbado somente por causa da diferença de cores, e isso também é provado pois todos os dias em nossa própria realidade esses preconceitos são completamente reais e escancarados e mesmo com toda a evolução social pela qual passamos desde a juventude de Isabelle, esse não é algo que deixou de existir.
Há diversos fatores que contribuem para o conjunto dessa obra ser "perfeito", ouso dizer, e o primeiro deles é essa descrição que nos insere dentro da obra e nos faz sentir tudo que cada personagem sentiu. Além disso, é um enredo bastante diferente dos romances a que estamos habituados, contando-nos uma história que já aconteceu, e que não tem mais como ser mudada, e, dessa forma, o sentimento que mais predomina é o de nostalgia. Ainda, eu tenho uma verdadeira queda por tudo que diz respeito às décadas de 1920, 1930 e 1940, e o fato de o livro se passar nessa última foi deliciosa para mim, e eu adorei as idas e vindas entre o passado e o presente, e admito que cada vez que estávamos em um momento, eu queria saber do outro momento, pois ambos, passado e presente, são deveras intrigantes e conseguem nos prender de uma forma incrível.
Ainda, vale dizer que as personagens desse livro são incríveis, principalmente as protagonistas Dorrie e Isabelle. Dorrie é uma mulher que se tornou mãe muito nova, e interrompeu parte de seus sonhos para viver um dia de cada vez em sua vida real. É uma pessoa que sofreu bastante, e que pouco ousa sonhar, com receio de que tudo dê errado novamente. Dorrie é aquele típico exemplo de mãe-heroína, por criar os filhos na maior parte do tempo sozinha e por fazer o melhor possível com o que tem. Já Isabelle é uma mulher que também possui uma história dolorosa que é muito bem escondida por sua vida silenciosa e solitária, mas, quando esta começa vir à tona, encontramos uma mulher que já viveu muito e que possui uma força incrível e um amor do tamanho do mundo. Temos ainda personagens secundários como Robert e Teague, dois homens admiráveis e muito diferentes um do outro, mas que nos marcam intensamente e são grandes exemplos.
Preciso dizer que quando comecei essa história, imaginei qual seria o desfecho e não ousei esperar algo tão diferente. No entanto, o meio do caminho trouxe fatos que me surpreenderam, e que serviram para me deixar apreensiva pelos personagens e me deixaram com o coração acelerado. O final, apesar de completamente nostálgico, e apesar de ter me arrancado algumas lágrimas, foi o mais adequado e não haveria algo mais lindo que pudesse acontecer para fechar essa obra maravilhosa com chave de ouro.
Arrisco dizer que esse é o tipo de livro que irá mexer com a emoção da maioria dos leitores. Contudo, caso você não esteja na vib de livros mais melancólicos e nostálgicos, talvez deva deixá-lo para depois. Ainda, caso você seja o leitor que ama romances fofos e com finais perfeitos, certamente nessas páginas talvez você não encontre exatamente isso.
O livro é narrado em primeira pessoa, e na maioria das vezes os quarenta e três capítulos se alternam, sendo um de Isabelle e um de Dorrie em quase todo o livro. Além disso, temos um paralelo sendo que algumas cenas se passam no momento atual, e outras voltam a 1940 e os anos subsequentes, trazendo o relato das lembranças de Isabelle, mas tudo é muito bem sinalizado e não há confusão entre os tempos. Também, cabe destacar que realizei a leitura em ebook e a edição está muito bem revisada.
Recomendo para os leitores desejosos de conhecer uma história única, especial e tocante. É uma obra que fala de preconceitos, tristeza e dor, mas também aborda com perfeição o amor, a família, os sonhos, a esperança, a fé e a amizade de uma maneira fascinante e emocionante.
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