Tiago 13/03/2023
Um turbilhão que mistura loucura, obsessão, paranóia, intempestividade.
Uma leitura surpreendente. O livro começa com uma espécie de prefácio onde Lúcio, o narrador e protagonista da história, já lança a bomba para o leitor:
"Cumpridos dez anos de prisão por um crime que não pratiquei e do qual, entanto, nunca me defendi, morto para a vida e para os sonhos... nada podendo já esperar e coisa alguma desejando - eu venho fazer enfim a minha confissão: isto é, demostrar a minha inocência."
Lúcio é um jovem escritor português que mora em Paris e frequenta círculos sociais com uma espécie de intelectualidade decadente. Tem uma vida boêmia e até certo ponto inconsequente. Lúcio é um personagem que vive uma realidade muito parecida com a do próprio Mário Sá-Carneiro.
Numa das inúmeras festas que frequenta em Paris, Lúcio conhece Ricardo, um jovem poeta, e ambos começam uma amizade profunda e intensa. Aliás, intensidade é o que não falta para os personagens desta novela. Ricardo muda-se para Lisboa e, tempos depois, Lúcio também regressa a Portugal. Lá, ele descobre que Ricardo está casado com Marta. A partir daí, caímos em um turbilhão que mistura loucura, obsessão, paranóia, intempestividade. É algo angustiante e até perturbador. E dado as semelhanças entre as realidades de Lúcio e Sá-Carneiro podemos vislumbrar toda a tormenta que talvez tenha levado o jovem autor desta novela ao suicídio, dois anos depois da sua publicação.
Antes de ler 'A Confissão de Lúcio', eu conhecia Mário Sá-Carneiro apenas como uma nota de rodapé do meu livro de literatura da escola. O livro focava nas correntes literárias brasileiras e tinha uma ou outra nota pontual a respeito do que acontecia em Portugal na mesma época. O capítulo sobre modernismo citava Mário Sá-Carneiro como um dos expoentes desta corrente em Portugal. Graças a coleção de clássicos essenciais da literatura portuguesa, lançada recentemente pela editora Bookcover, tive a oportunidade de conhecer um pouco a sua obra.