Trasgo #05

Trasgo #05



Resenhas - Revista Trasgo 05


2 encontrados | exibindo 1 a 2


Laís Helena 05/04/2017

Resenha do blog Sonhos, Imaginação & Fantasia
OS AMERICANOS QUE VIERAM DO CÉU (GEORGE DOS SANTOS PACHECO)
O conto narra a história de dois irmãos que, na época da Segunda Guerra Mundial, tiveram de deixar sua casa em Niterói a mando do pai, que queria evitar a morte dos filhos na guerra. Assim, eles partem para morar com o tio excêntrico em Friburgo.

Eu não sou exatamente fã de histórias que tratam das criaturas abordadas no conto (não vou estragar a surpresa contando qual é). Entretanto, isso talvez nem fosse problema se outras coisas não tivessem me incomodado. No caso, os personagens, a narrativa e o enredo.

Depois de certo ponto, torna-se óbvio o que vai acontecer. Tanto que até esperei um plot twist, mas ele não veio: o conto terminou exatamente da forma que eu imaginava.

A narrativa conta o tempo inteiro, e grande parte do texto é contada em forma de resumo narrativo, sem que haja espaço para que os personagens mostrem quem são (e por isso nenhum deles me despertou algum sentimento, eles mais parecem um veículo para que a história seja contada). Também não consegui imergir na leitura: toda hora algum tell me tirava dela. Os incisos dos diálogos também me incomodaram. Grande parte deles une a identificação do dono da fala e uma ação, o que acarreta o gerúndio. Não sei se é uma coisa particular minha, mas incisos nesse formato costumam me tirar da leitura (e, aqui, estão em excesso).

★ ★ ☆ ☆ ☆

O PREÇO DA CURA (ROBERTA SPINDLER)
Simão é um vampiro que se alimenta da energia das pessoas. Ele também tem alguns outros poderes, por isso é procurado por Jonas, seu genro, que precisa desesperadamente de ajuda para salvar seu filho Miguel (neto de Simão). Um tanto relutante, Simão aceita ajudar, mas vai cobrar muito caro por isso.

Apesar de ter um pouco de tell aqui e ali, a cena de abertura é bem instigante. O problema é que ela me fez esperar por algo completamente diferente, e eu não gostei muito do que se desenrolou a partir dessa cena. Não que a escolha de enredo seja problemática: foi mais uma questão de gosto; normalmente prefiro outros tipos de história.

Ainda assim, terminei a leitura com a sensação de que falta algo. Isso é, em parte, devido aos personagens: eles não são muito bem caracterizados, não tiveram suas motivações tão bem exploradas. A filha morta de Simão foi mencionada várias vezes, sem que houvesse preocupação em dar ao menos uma leve caracterização a ela. Além disso, os relacionamentos entre todos eles (Jonas, Simão, a filha morta deste, os filhos de Jonas) não foram muito bem trabalhados, algo que seria importante para dar um brilho a mais ao conto.

A narrativa tem um pouco de tell, como eu mencionei, e isso acabou tirando o impacto de duas cenas importantes. Mas conseguiu me manter entretida, sem me tirar da leitura muitas vezes.

★ ★ ★ ☆ ☆

O PREGO DE BATALHA (A. Z. CORDENONSI)
O Prego de Batalha narra uma guerra entre a Áustria e a Itália, travada com máquinas mecânicas: os dreadnought austríacos e os cacciatori italianos. A narrativa se alterna entre os pontos de vista do Almirante Kuhn, do Capitão Giuseppe e de um garoto que espera o retorno de seu pai da guerra.

A princípio a narrativa me fisgou, apesar de contar um pouco aqui e ali e do excesso do uso de gerúndio nos incisos dos diálogos (os personagens sempre estão fazendo alguma coisa enquanto falam). O enredo também se mostrou interessante, focando nas estratégias de batalha e naquele embate específico, portanto não sabemos o motivo que desencadeou a guerra e nem dos acontecimentos que levaram àquele embate.

Esse não foi de jeito nenhum o problema. Mas eu esperava que os personagens fossem um pouco mais explorados, já que a estrutura escolhida me fez esperar um enfoque maior neles. Se as motivações deles tivessem sido ao menos um pouco trabalhadas, o conto provavelmente seria muito mais interessante e impactante.

O final ficou em aberto, dando apenas pistas do que poderia ter acontecido, o que sugeriu algo bem interessante — mas, mais uma vez, achei que o conto perdeu um pouco do brilho por não focar tanto quanto podia nos personagens.

★ ★ ★ ☆ ☆

UM CONVITE PARA O JANTAR (CLAUDIO VILLA)
Um Convite para o Jantar tem ambientação inspirada na cultura árabe e narra a trajetória da família de Omar Abbud, que foi um mercador com bastante influência durante a guerra entre os reinos Aldarian e Azhir.

Apesar de ter começado de forma instigante, o conto mergulha em explicações sobre o contexto da guerra entre os dois reinos. Embora isso não se estenda por muitos parágrafos, quebrou um pouco a minha imersão, e talvez os diálogos pudessem até mesmo ter dado conta de passar esse contexto, mesmo que de forma subentendida.

O enredo me agradou, embora algumas cenas tenham ficado um tanto apressadas, e os personagens me despertaram o interesse. Quanto a eles, porém, senti que poderiam ter sido um pouco melhor trabalhados. As ideias por trás deles são ótimas (gostei especialmente de Capitã Rosa, que busca a ajuda de Omar), e isso teria deixado o conto bem mais instigante.

★ ★ ★ ✭ ☆

ISSO É TUDO, PESSOAL (CESAR CARDOSO)
Isso é tudo, pessoal é um conto que narra o fim do mundo de uma forma bem diferente, alternando entre os pontos de vista de diversos personagens. Dessa forma, um tema tão batido rendeu um conto bem instigante e inovador — e bem humorado.

Os trechos são curtos, então passamos pouco tempo na mente de cada personagem. Ainda assim, a voz de cada um transpareceu na narrativa, e, a partir dos poucos detalhes que aparecem aqui e ali de forma natural entre os pensamentos deles, é possível entender o que está acontecendo e o que levou o mundo ao seu fim. É o tipo de narrativa que te joga na história sem parar para explicar o contexto e o universo, deixando que você pegue as pistas, e eu gosto muito desse estilo de narrativa.

★ ★ ★ ★ ★

CANÇÃO ABISSAL (PRISCILA BARONE)
Clara vive em uma casa que flutua sobre boias no mar aberto. Ela nunca viu terra firme e, exceto por sua mãe, que morreu há alguns anos, nunca viu outro ser humano. O motivo para ela estar nessa situação não é explicado, e nem é importante para a história. O que importa é Clara e seu dia-a-dia, e a descoberta que faz com Pérola, a sereia que há anos a visita de vez em quando.

Eu gostei da narrativa. Ela é simples, sem grandes floreios, mas eficiente em me manter imersa na história. O enredo foca em Clara e em um mistério que Pérola encontrou em uma fenda abissal. É um enredo mais intimista, focado na transformação da personagem, e me agradou bastante. Os elementos fantásticos foram bem colocados e, apesar de a autora não parar para explicá-los, soam naturais dentro da história.

★ ★ ★ ★ ★

site: http://contosdemisterioeterror.blogspot.com.br/2017/03/resenha-trasgo-05.html
comentários(0)comente



Paulo 07/08/2017

1 - Os Americanos que Vieram do Céu (George dos Santos Pacheco)

Histórias sobre contatos imediatos sempre estiveram em nossa imaginação. Quantos de nós já pensaram em estabelecer contato com uma raça alienígena? Filmes como o de Steven Spielberg já trataram amplamente do tema. Mas, a história de George cai mais no colo de histórias como Guerra dos Mundos. Há muito tempo eu não via essa temática sendo trabalhada por autores de ficção científica (não atualmente e não dessa forma). O autor consegue entregar uma história arrepiante que nos deixa olhando para os lados querendo saber quem está ao nosso lado.

A ambientação é bastante curiosa: o Brasil no final da década de 1930 e início da de 1940. Eu entendi o porquê de situar a história nesse período, mas não senti que a periodização teve um impacto específico na história. Era mais uma justificativa para tirar o personagem da cidade e limitar o nível tecnológico. A história poderia ser ambientada em qualquer outro período histórico. Esse poderia ter sido um ambiente melhor explorado pelo autor. Mesmo assim, eu gostei da ideia de isolamento. O isolamento cria uma atmosfera de claustrofobia: o personagem não pode sair dali. Existe um perigo ali, mas ele está a quilômetros da civilização. Qualquer informação sobre o seu paradeiro poderia levar dias até alcançar alguém.

A escrita do autor é bastante descritiva porque o personagem busca se isolar. Vamos percebendo aos poucos que o contato que ele tinha com o irmão vai desaparecendo à medida em que os dias se passam. E ele acaba buscando no tio a atenção que ele não tinha. Também senti que o romance que acontece em seguida poderia ter gerado outros momentos interessantes. Serviu para aprofundar a distância entre os irmãos. Mas, o momento que eu mais gostei no conto foi a dúvida. Saber se o que aconteceu ao protagonista foi real ou não. Acho que esse elemento narrativo foi o que eu mais me ressenti. Achei que o autor poderia ter brincado muito mais com o leitor questionando sua percepção do que é ou não real. Teria gerado algo fenomenal.

Entre muitos "se" e "poderia" o conto tem várias coisas positivas. Me ajudou a conhecer o autor e a me interessar por seu trabalho. No final de seu conto tem dicas sobre outros contos e romances publicados por ele. Vale a pena procurar mais a respeito.

2 - O Preço da Cura (Roberta Spindler)

Esse não é o primeiro conto que eu li da Roberta Spindler. O outro que eu li estava na coletânea Solarpunk e tocava no mesmo tema: o que um pai é capaz de sacrificar por um filho. Lógico que aqui a autora apresenta o tema de uma maneira diferente e o torna um pouco mais complexo. Não tenho nada a falar da narrativa porque eu gosto muito da escrita da autora. Só achei que o outro conto que eu li me tocou mais do que esse. Não sei se eu fui com uma expectativa alta demais por conta da minha primeira experiência ou se a história em si não me atingiu de todo. Fato é que para mim eu gostaria que a autora tivesse trabalhado um pouco mais a relação entre Jonas e Simão.

Falando nos personagens, como a autora sabe construir bem os personagens em suas histórias. Gostei dos dois personagens. Já tinha curtido muito anteriormente e agora só reforçou a minha impressão a respeito. Mesmo Simão sendo um personagem sobrenatural, aqui ele ficou realmente como a representação do corruptor. Gosto quando o autor pega o trope do vampiro e trabalha a partir do estereótipo do ser que corrompe, que traz a essência do mal em si e quer passá-la ao outro. É uma leitura bem a la Bram Stoker, só que a autora dá uma leve mexidinha no mito do vampiro para atender às suas necessidades. Acabou saindo algo único.

A escrita da Roberta recorre bastante à imaginação do leitor. E para um conto que, para mim, é mais terror do que fantasia, ela precisa construir a tensão em suas linhas. E ela constrói isso bem seja apresentando a atmosfera suja e decadente frequentada por Simão em busca de suas vítimas ou a ida até a casa de Jonas onde tudo transborda tensão e recriminação por uma ação que vai causar algo dolorido no personagem. Mesmo a troca de olhares entre os dois personagens é muito revelador. Por esse motivo eu queria ter visto mais disso... mas, talvez no espaço pequeno deste conto isso não fosse possível

Qualquer história escrita pela Roberta Spindler eu vou sempre recomendar. É uma escritora talentosa com uma veia para um estilo de ficção especulativa que eu tenho certeza que vai agradar aos leitores.

3 - O Prego de Batalha (A.Z. Cordenonsi)

Fazer resenhas de livros, às vezes, é uma coisa ingrata. O blogueiro ou o crítico literário ficam divididos entre ser um leitor e ser um "avalista" (detesto essa palavra). De que maneira compor uma resenha sem ser parcial ao ler um trabalho? Não sei se muitos blogueiros são assim, mas eu costumo separar bem as duas coisas. Já fiz uma resenha negativa de um livro que eu gostei e já fiz uma resenha positiva de um livro que eu não gostei. Neste caso, O Prego de Batalha se encontra no segundo caso. A escrita não é ruim, a narrativa é apresentada de maneira muito competente e dá para perceber o estilo do autor ao compor os personagens. Mas, a história não foi capaz de me cativar. Já até marquei o conto para uma releitura em uma próxima oportunidade.

Dito isso, a escrita do autor é incrível. Ele apresenta um combate entre um dreadnought (uma espécie de encouraçado) austríaco e um grupo de infantaria italiano no período da Segunda Guerra Mundial. O acontecimento é a Batalha de Lissa, que ocorreu durante o período de unificação italiana em que se buscava o domínio de Veneza. Estamos diante de um romance de história militar interessante porque o autor mostra todos os lados do conflito. Seja o dos tripulantes da SMS Tegetthoff (o encouraçado austríaco) ou o lado da infantaria italiana (chamada de cacciatore). Vemos o que eles estão sentindo naquele momento e como são feitos os planos para as ações a seguir. No meio de tudo, está um pequeno garoto que observa a tudo de sua cabana de caça.

O tema da guerra retorna em mais um conto. Diferentemente do brilhantismo e da elegância colocada em algumas histórias, a guerra não é algo bonito. Envolve perda de pessoas, envolve inocentes que são tragados acidentalmente para o conflito. Sim, existe aqui ou acolá algum brilhante estrategista militar que, com sua inteligência e sagacidade consegue mudar alguma coisa durante os combates. No caso desta história vemos como o capitão do Tegetthoff realiza uma manobra ousada e pega os membros da infantaria de surpresa. Ao mesmo tempo estes cacciatore conseguem surpreender a tripulação do encouraçado com sua coragem e destemor.

Não quero comentar muito sobre a história porque posso estragar alguma surpresa planejada pelo Cordenonsi. Só vou deixar um último adendo do que realmente aconteceu: o capitão do Tegetthoff realizou a última ação de abalroamento proposital de um encouraçado a outra embarcação.

Dito isso, recomendo a leitura do conto até para conhecer o trabalho do autor. Quero ler outros trabalhos dele porque eu decididamente gostei do estilo de escrita dele, porém a história não me chamou a atenção. Os motivos? Não vou saber explicar.

4 - Um Convite para o Jantar (Cláudio Villa)

Temos mais uma vez uma história que lida com a temática da pirataria. Só que dessa vez se trata de um autor que mostra uma personagem que acaba se envolvendo em ações corsárias de forma a beneficiar o seu reino. E que até mesmo uma pessoa honrada acaba precisando recorrer a ações pouco condizentes com a sua natureza.

Em primeiro lugar é preciso destacar como o autor apresenta de uma maneira respeitosa uma protagonista feminina. A capitã é uma personagem decidida, ativa e com suas fragilidades. As ações de sua imediata acabam sendo uma mancha em sua reputação, mas ela acaba aceitando não tendo outra alternativa. A troca de palavras entre ela e Omar é muito interessante porque marca dois lados opostos de um conflito: o político e o econômico. Uma guerra é um acontecimento que envolve domínio político e militar entre dois ou mais países. Mas, e quem lida com a economia, como fica nessa história? Na discussão entre os dois personagens nenhum está inteiramente certo ou inteiramente errado. São apenas pontos de vista distintos.

A opção de escrita do autor foi a de apresentar uma situação no presente, contar o que se sucedeu no passado para dar um fechamento retomando a narrativa iniciada no começo. Nesse sentido isso é feito de forma muito competente. Só senti que o conto precisava de um pouco mais de espaço. Entendi que o autor queria apresentar a capitã como uma pessoa honrada. Mas, isso não ficou inteiramente claro para o leitor. E o fato de ela ter se tornado uma figura lendária não teve o ímpeto necessário para que eu pudesse entender que isso realmente aconteceu. Faltaram algumas poucas cenas para lidar com essas questões. Também achei que uma ou duas cenas precisavam ter algum separador. Em um momento, a capitã está conversando com Lao, sua imediata e na linha seguinte estamos na mesa da família Abbud. Faltou aqui algo que separasse estes dois momentos. A transição foi abrupta demais.

No mais, gostei da história. Claudio Villa retoma uma antiga tradição de autores que empregam esse tipo de ferramenta para deixar algo mais no final. E foi exatamente isso o que eu pude retirar desta história.

5 - Isso é tudo, Pessoal (Cesar Cardoso)

O que vai atrair imediatamente o leitor é a escrita caleidoscópica do autor. E é o que me atraiu de cara também. O conto é uma série de pequenas vignettes em que cada uma delas apresenta uma pessoa lidando com o fato de que a Terra será destruída em um curto espaço de tempo e apenas um grupo seleto de pessoas se encaminha para a galáxia de Cerberus para iniciar uma futura colonização. Temos todo o tipo de pessoas desde alguém envolvido no projeto de colonização, um noticiário de TV, um dj chamando pessoas para uma última noitada.

A maneira como o ser humano lida com o fim iminente é o tema fundamental desta história. Aqui vemos algumas das pessoas envolvidas despertando o seu lado mais primitivo, suas paixões mais intensas. Por exemplo, o DJ chama para uma noitada onde tudo é válido, desde transar com quem quer que seja e com quantos forem, até o êxtase na dança e a matança indiscriminada. Em outras sequências vemos até onde uma pessoa é capaz de chegar para conseguir sobreviver mesmo com tudo diante de si. Ou então um grupo de pessoas que já saíram da Terra refletindo sobre a beleza agora inócua de um antes lindo planeta. Algumas passagens são bem intensas enquanto outras são repletas de uma melancolia que passa para o leitor.

Vou soltar um spoiler, mas acredito que no caso deste conto nem seja um spoiler propriamente dito já que as vignettes devem ser lidas como se fossem independentes. Não existe propriamente uma história com início, meio e fim. A história começa com um irmão matando seu irmão através do envenenamento e se encerra com um grupo de exploradores espaciais buscando um sinal no espaço. Tratava-se de uma gravação relatando o milésimo gol do Pelé. No último caso a cena é totalmente absurda que quebra o ritmo melancólico do final da história. É extremamente curioso e merece a atenção do leitor. A escrita do autor é bem simples e fácil de entender. Um bom encadeamento de palavras faz com que o conto seja bem dinâmico. E a história precisa ser lida por inteiro para que todo o escopo dela seja compreendido pelo leitor.

6 - Canção Abissal (Priscila Barone)

Fantasia é um gênero mágico para apresentar histórias que explorem os sentimentos e o encantamento de tudo o que nos cerca. Priscila Barone faz isso com incrível destreza ao nos apresentar a história de uma menina que mora em uma casa isolada acreditando ser uma das últimas pessoas na Terra. Ela desenvolveu uma relação de amizade com Pérola, uma sereia que é sua companheira de aventuras.

No começo o conto tem um tom bastante reflexivo apresentando os sentimentos de Clara, nossa protagonista. Acho bacana que a personagem tem uma vivacidade e uma doçura que vemos pouco em histórias desse tipo. O conto chega até a ter um pouco do estilo de contos de fadas em alguns momentos. Mas, este primeiro trecho do conto serve para mostrar a situação em que Clara vive e seus sentimentos em relação à sua aparente solidão. Depois a autora introduz Pérola como alguém que tira Clara do lugar-comum. Somos guiados pela forte amizade das duas e o quanto esta é importante para acabar com a solidão da protagonista. Pérola atua como um contraponto para Clara. E no final somos guiados até uma missão onde as duas personagens ao lado da lula Zasian.

É preciso destacar a boa pegada que a autora tem em seus personagens. A exploração das características dos mesmos é muito bem feita e ao final sentimos que nos importamos com os personagens. É até emocionante quando Clara toma algumas decisões importantes para si. Aliado a isso a autora consegue construir boas cenas expansivas. Aquelas descrições de mundo em que o leitor consegue criar uma imagem clara sobre aquilo que está ao seu redor. Os diálogos também servem demais ao seu propósito. Bem encadeados e conseguem individualizar bem os três personagens que compõem a história.

A história é uma jornada para a maioridade. Clara precisava expandir seus horizontes acerca do mundo que a rodeava. A segurança de sua pequena casa nas rochas serviu a um propósito inicial, mas é chegado o momento em que a protagonista precisa encontrar um novo objetivo de vida. Os perigos vão aparecer, mas com coragem e perseverança ela vai vencer os obstáculos. Ela só precisava sentir que era chegado o momento de mudar o seu status quo.

Se trata de uma história pós-apocalíptica feita de uma forma muito leve. Apesar de ter toda a tristeza da personagem diante de uma realidade solitária, a personagem mantém a alegria e o otimismo. Uma história simples de ser lida e com um bom dinamismo, Canção Abissal é uma bela história sobre a amizade entre duas meninas e como estas podem contribuir para o crescimento uma da outra.

site: www.ficcoeshumanas.com
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR