Julhaodobem 14/05/2022
Meu primeiro livro acadêmico
Ler livros de teses acadêmicas nunca foi o meu estilo de leitor mesmo que diga que leio de tudo a literatura acadêmica era algo que não conhecia, um território misterioso que estou conhecendo agora pois eu mesmo estou me tornando um acadêmico. o ensino da filosofia e a Lei 10.639 talvez seja o meu início em leituras acadêmicas, este livro chegou em minhas mãos depois de algumas aulas de filosofia no cursinho pré-vestibular dado por uma jovem professora mestranda em filosofia e que estuda a questões da filosofia africana. Em todas as aulas seu teor crítico se ligava quando o assunto era a origem da Filosofia, o marco zero onde tudo começou, suas ideias de que a filosofia grega não era o centro tentavam sair enquanto ela dava aula como um ser interior que estava irritado para sair do céu e ditar a palavra do novo mundo, infelizmente ela não podia fazer, não era por regra mas para não confundir a cabeça dos vestibulandos pois todos os vestibulares do Brasil ainda cobram a filosofia grega como a principal então nada de África, só Platão, Aristóteles e Sócrates.
Sempre gostei da filosofia, reformulando esta curta frase, eu sempre gostei da filosofia depois que comecer a fazer o cursinho pré-vestibular, então depois de perguntas sobre a filosofia, sobre a filosofia, dúvidas e conversas a mestra e filósofa me mostrou um livro que poderia tirar as minhas dúvidas e explorar os conceitos da filosofia e da filosofia africana. "Leia este livro", uma frase simples mas para o leitor é o Santo Graal que pode mudar o futuro da sua percepção de mundo para sempre. Escrito pelo filósofo Renato Noguera é um grande estudo sobre ensino da filosofia no Brasil como a filosofia africana e a lei 10.639 que colocou a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira mas que na filosofia ainda existe um grande problema com a sua centralidade e origem, ela é totalmente grega pois é a forma que está colocada ensinada tanto na academia como no ensino público e particular no Brasil.
Durante o livro é possível perceber que pode existir uma falta de preparo nas escolas públicas do Brasil de proporcionar uma difusão da filosofia africana, como estudante eu peguei o início da Lei 10.639, cheguei a ver algo na História sobre culturas africanas mas que logo foi esquecida pois não estavam nas provas finais já na filosofia nenhuma palavra ou citação africana foi apresentada em aula até o término do meu ensino médio a predominância da filosofia grega dada em aula ao meu ver de forma descuidada foi o que predominou. Isto me mostrou que mesmo que ela exista ainda é preciso lutar contra a má vontade de certos profissionais em dar o conteúdo africano começando pela filosofia algo que poderia iniciar é cobrar a filosofia africana em vestibulares se tornando obrigatório no momento das provas, por quê não temos filosofia afro-brasileira para começar? Alguém como Djalma Ribeiro, Renato Noguera e Katiuscia Ribeiro são alguns dos nomes atuais que poderiam mostrar que a filosofia brasileira e a filosofia africana existem mostrando por meio da filosofia afro-brasileira. No ramo Acadêmico a luta também continua, a filosofia africana não é obrigatória no currículo como é mostrado no livro existem cursos de extensão e debates neste meio tempo muitos formandos não escolhem a filosofia africana porque não é falado nos órgãos do Estado, esta centralidade da filosofia não fica apenas nestes casos, palavras como filosofia islâmica, filosofia asiática e filosofia indígena foram coisas que descobri pesquisando sozinho depois de ler este livro algo que poucos adolescentes conectados hoje irão fazer em tempos de streaming e redes sociais.
O ensino da filosofia e a lei 10.639 foi um livro acadêmico intelectual mas divertido que não mudou apenas a minha perspectiva diante da Filosofia mas também mostrou que o conceito de ser o primeiro a fazer algo talvez tenha que ser discutido mais atentamente. Pegando com a filosofia é certo que a filosofia grega existe mas colocar isto como centro de tudo é um grande equívoco com a história da humanidade negando em lugares como a África, a Ásia e territórios indígenas que não existe conhecimento sendo produzido muitos antes do homem europeu fazer sua epopeia pelo mundo. Principalmente com o racismo intelectual e negar que pessoas pretas tenham conhecimento e inteligência de produzir uma filosofia tão rica quanto à grega. A questão final não é apagar qualquer questão de filosofia branca o que muitos querem é simplesmente o direito de existir e compartilhar o espaço de conhecimento entendendo que existem múltiplas formas de origem da Filosofia como outros conhecimentos em vários lugares pelo mundo não somente na Europa.