Mari 18/01/2022
Todos deveriam conhecer Gabriela
Neste livro, Jorge Amado narra uma das grandes histórias de amor da literatura: a de Nacib e Gabriela. Porém, essa é só uma parte da história, porque, na realidade, ele usa esse romance como pano de fundo para contar a história de Ilhéus, uma cidadezinha na Bahia, tomada pelo coronelismo, que começa a se modernizar. Assim, ele inicia a narrativa fornecendo ao leitor um panorama da cidade, das pessoas mais influentes, das mais humildes, dos comerciantes, das esposas, das amantes, das carolas, todos são importantes para Jorge Amado. Porém, é preciso tempo para fazer isso e, consequentemente, páginas. Por isso, chega um momento na narrativa em que o leitor começa a se perguntar: "Mas, e Gabriela, cadê?". Jorge Amado, definitivamente, não era um escritor qualquer, ele sabia muito bem que o grande trunfo de sua obra era Gabriela e, por isso, ele demorou tanto em introduzí-la na história, porque sabia que assim que ela aparecesse, ninguém conseguiria resistir a ela. Contudo, não por causa de sua beleza, de seu corpo, de seus cabelos ou de seu cheiro de cravo, mas sim, por causa de seu jeito de ser, pela sua liberdade e pela sua inocência (sim, Gabriela é inocente, apesar de ser sexualmente ativa, porque ela tem a inocência daqueles que são absolutamente livres, ela é livre de limites, regras, arrogância, ganância, preconceitos, dos "bons costumes" e de definições. Ela é inocente, pois não vê maldade em ninguém, inclusive nela mesma e nos seus atos, que são chocantes para todos ao seu redor, mas que para ela, não são nada demais). É impossível definir Gabriela, ela não se adequa a nada, ela simplesmente existe, como as estrelas, as flores e os pássaros, sem ter a menor vergonha de ser quem é.
Contudo, isso não significa que a introdução do contexto local seja inútil para a história, pelo contrário, é essencial para compreendermos os impactos da existência de Gabriela naquela sociedade que até então existia alheia a ela, mas que passa a não ser capaz de se enxergar sem ela. Para mim, a melhor parte é quando Gabriela tenta se adequar às regras da sociedade a fim de agradar Nacib e... falha miseravelmente, porque essa nova vida, na qual ela não pode ser Gabriela, a deixa completamente infeliz. E, assim, ela começa a murchar, como uma flor que deixou de ter contato com a luz do Sol e, com isso, a sociedade ao seu redor também se entristece, pois já estava acostumada com a presença de Gabriela sendo Gabriela.
Enfim, demorei meses para conseguir fazer a resenha, mas isso sempre acontece quando o livro é maravilhoso!