Alle_Marques 24/12/2023
E como viver sem ela, sem seu riso tímido e claro, sua cor queimada de canela, seu perfume de cravo...?
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[...] Foi a temporada dos poemas longos, de exaltação daquele amor que nem a morte e nem mesmo o passar dos séculos destruiriam jamais. Eterno como a própria eternidade, maior que os espaços conhecidos e desconhecidos, mais imortal do que os deuses imortais, escrevia o professor e poeta. [...]
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Costumo gostar bastante do estilo do Jorge Amado, da forma como ele escreve e desenvolve suas histórias, mas esse aqui não foi nada fácil.
Ele é bem mais político do que dá a entender e bem mais “distante” da Gabriela do que o título sugere, esperava também que fosse ter uma conexão maior com a obra por ser ambientada em uma cidade que eu já morei, mas nem isso funcionou. Para mim, a leitura seria bem mais interessante caso se concentrasse nos protagonistas e entregasse uma história mais intima e pessoal, ao invés de tão divagada, foi decepcionante, enrolado e arrastado, e as várias tramas paralelas me tiraram completamente da história, além disso, nenhum dos outros personagens, além da Gabriela, me agradou.
Grabriela é de longe a melhor coisa do livro, é tão fascinante, encantadora e apaixonante quanto promete, as partes que aparece ou é citada são os pontos altos da obra, mas senti falta de mais dela, para um personagem com tamanha importância, ela não aparece tanto assim, além de ser ofuscada pelo excesso de divagações do autor. O Nacib, por sua vez, é um personagem interessante e embora seja fácil começar gostando dele, é mais fácil ainda terminar odiando. Mas sobre o romance de ambos, é aí que o livro ganha e perde ao mesmo tempo, ele parece simples, mas é cheio de camadas, além de dar um frescor pra obra, mas seu desfecho é detestável e impossível de defender.
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[...] O que é que ela tem? Como ia saber? Não adiantara dormir com ela, deitada em seu peito, nas noites do caminho, do sertão, da caatinga, dos prados verdes depois. Não aprendera, nunca soubera. Uma coisa tinha, impossível esquecê-la. A cor de canela? O perfume de cravo? O modo de rir? Como ia saber? Um calor possuía, queimando na pele, queimando por dentro, um fogaréu. [...]
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24° Livro de 2023, 34ª Resenha de 2023
Desafio Skoob 2023