@thereader2408 18/08/2024A moça do sertão baiano que conquistou o Brasil e o mundo"Gabriela" (1958) é uma obra que retrata de forma vívida as realidades sociais, políticas e econômicas do Brasil no período de 1920-30. Esse período foi marcado por mudanças, como a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, o Estado Novo e a centralização do governo federal.
Esses eventos têm reflexos indiretos na trama de "Gabriela", especialmente no que diz respeito às relações de poder e às disputas políticas locais que influenciam a vida dos personagens. A riqueza e o poder estão nas mãos dos grandes coronéis do cacau, que controlam não apenas a produção e o comércio, mas também as estruturas sociais e políticas da região.
A personagem principal, Gabriela, uma mulher simples e cativante, representa a luta por autonomia e liberdade em um contexto marcado por convenções sociais rígidas e relações de poder desiguais. Gabriela é uma figura emblemática do protagonismo feminino na literatura brasileira.
A relação amorosa entre ela e Nacib, dono do bar Vesúvio, é um dos elementos centrais da trama. A sensualidade, a paixão e o desejo presentes nesse relacionamento exploram aspectos profundos da natureza humana, revelando nuances emocionais e psicológicas dos personagens.
A interpretação sobre se "Gabriela" é uma obra sexista pode variar dependendo do ponto de vista. Existem argumentos a favor e contra essa visão, e é importante considerar diferentes perspectivas. Quando "Gabriela" foi publicado, em 1958, as discussões sobre gênero, feminismo e representação das mulheres na literatura estavam em estágios iniciais no Brasil. A obra reflete, em certa medida, as normas e valores da sociedade da época, incluindo aspectos que hoje podem ser interpretados como sexistas.
Em algumas passagens Gabriela é retratada de forma estereotipada, como uma mulher submissa, objeto de desejo masculino e cuja principal característica é sua sensualidade. Por outro lado, "Gabriela" também aborda temas complexos relacionados à liberdade feminina, autonomia e resistência às normas sociais.
JA frequentemente utilizava a ironia e a sátira para criticar as injustiças e desigualdades. O debate sobre se "Gabriela" é ou não sexista muitas vezes envolve considerar as complexidades da narrativa, as intenções do autor, as críticas sociais presentes na obra e como ela é percebida na atualidade.
Na época de sua publicação Gabriela foi um estrondoso sucesso. Em letras garrafais um jornal da época exaltou: “Fato inédito na história da literatura brasileira e da América Latina: Jorge Amado ganhou 2 milhões de cruzeiros de direitos autorais com seu Gabriela (um apartamento de dois quartos em Copacabana custava cerca de 750 mil cruzeiros em 1959).
Seis edições em sete meses, TV e cinema o procuram. JA o comunista, que apesar da perseguição política é o escritor mais procurado e querido”. No mesmo ano pela Câmara Brasileira do Livro, Gabriela venceu na categoria romance. Hoje o troféu se chama Jabuti.
No fim de 1960, Gabriela estava na 16ª edição. O clássico de Euclides da Cunha, Os sertões, levou quarenta anos para chegar a isso. Nem Castro Alves, nem Olavo Bilac, nem Erico Verissimo, nem Zé Lins tiveram esse sucesso. Entraram e saíram das listas de mais vendidos títulos como Lolita e Doutor Jivago, e a moça da região do cacau continuava. Em três anos fez mais que "E o vento levou..." em vinte, no Brasil. No exterior não foi a portuguesa, e sim a russa a primeira edição de Gabriela.
Já conhecido em solo russo por Seara vermelha e Os subterrâneos da liberdade, Gabriela encaixava-se com exatidão no contexto cultural daqueles dias: a desestalinização trazia o espírito de liberdade — saía afinal em 1961, o auge do degelo, com censura e repressão abrandadas. O resultado: Jorge passou a ser lido ainda mais do que antes. O tradutor costumava levar visitantes brasileiros à Biblioteca Lênin, em Moscou, para que vissem que o livro mais procurado e mais lido era Gabriela.
Nos dias seguintes ao lançamento, em setembro de 1962, as vendas da edição em capa dura levaram o autor pela primeira vez à lista de mais vendidos do jornal The New York Times, e ali permaneceu por um ano. De uma só tacada, vendeu 20 mil exemplares, volume sem precedentes para um latinoamericano.
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