Resenhas - Stoner

Marcelo217 13/02/2023

Uma vida de renúncias
Pela sinopse já é possível prever que o livro é bom. Com algumas ressalvas, após a leitura, o livro é como eu imaginava.

John Williams consegue fazer uma linha do tempo completa de William Stoner, um personagem modesto que se mostra resignado praticamente a vida toda. Uma existência silenciosa que acontece grande parte na universidade como professor.

Stoner vive uma vida cíclica completa do que pode se esperar de um homem estadounidense do início do século XX: a vida modesta, a ascensão na vida acadêmica, as poucas amizades no ambiente universitário (Sloane, Masters, Finch), o casamento (Edith), a paternidade (Grace), o caso extraconjugal (Katherine) e uma inimizade de longa data (Lomax). A narrativa delimitada desta forma mostra o personagem principal quase como coadjuvante de sua própria vida. Não há quase sinais aparentes de frustração, mas uma resignação frente a todos os acontecimentos.

O plot é linear, tranquilo e entrega, assim, uma trama sem surpresas. Uma vez que há uma cadência pronunciada em toda a extensão da escrita de Williams, é muito fácil adivinhar o que vai acontecer no decorrer da vida de Stoner. Os fatos são apresentados sem rodeios, mas com profundidade desmedida em alguns trechos fazendo do livro cativante sem ser totalmente envolvente.

Penso que se o autor adicionasse um pouco mais de profundidade aos personagens que fazem parte da vida de Stoner a postura de coadjuvante deste personagem seria mais bem justificada. Entretanto, entendo que talvez a proposta do escritor seja exatamente essa: trazer uma história ordinária que, mesmo monótona em alguns pontos, não deixa de ser interessante. O fim do livro é de uma sensibilidade muito bonita. O fecho de um ciclo condizente com a vida de Stoner é escrito de uma forma emocionante que me despertou tristeza e um pouco de conforto.

Como um aluno de mestrado, foi interessante ver que a dinâmica acadêmica daquela época ainda é muito semelhante a que se tem hoje. John Williams explora cenários comuns, vidas ordinárias e tira destes uma narrativa simples e introspectiva que vale muito a pena ser lida.

Ed Bortolotte 12/02/2023

Melancólico...
A trajetória de um homem cujo a única e perpetua infelicidade foi tentar viver o seu sonho em uma realidade que a princípio não era a sua...

Wynícius 10/02/2023

É a quinta vez na minha vida que esse livro me destrói de uma maneira que eu continuo sem explicação.

Monique 02/02/2023

Um livro sobre uma vida comum
Eu realmente amo quando livros vazios de enredo conseguem atribuir novos significados a Vida. Stoner conta história de William, um jovem filho de um casal que vivia da roça e do que eles produziam.

O Jovem William Stoner vai pra faculdade cursar ciências agrícolas, mas acaba tropeçando na literatura se apaixonando por ela e levando uma vida acadêmica por conta disso.

A história é muito simples em si a prosa é terna e refrescante ( mas tem seus momentos pra passar raiva viu?), pra mim Stoner é um homenagem a vida comum e aos seus fracassos pequenas felicidades e percalços, a mensagem que me passou é que até as vidas vistas como "insignificantes" deixam algo de si no mundo e tem um valor nelas que é intrínseco a própria Vida.

Esse livro definitivamente será relido?

Laís 31/01/2023

Posição 168
Archer Sloane, e ele vinha cumprir sua tarefa de ensinar com o que parecia ser desdém e desprezo, como se percebesse um abismo tão profundo entre o seu conhecimento e a possibilidade de transmiti-lo que era inútil tentar preenchê-lo.

Posição 255
Não tinha amigos e, pela primeira vez na vida, teve consciência de sua solidão.

Posição 265
Depois pensava em seus pais, e se dava conta de que eles eram quase tão estranhos quanto o filho que haviam criado e sentia por eles um misto de piedade e amor distante.

Posição 316
?Mas você não entendeu, Sr. Stoner?? perguntou Sloane. ?Você ainda não entendeu mesmo? Você vai ser professor.? De repente Sloane pareceu muito distante, e era como se as paredes do escritório tivessem recuado. Stoner teve a sensação de estar em pleno ar, e ouviu sua voz perguntar: ?O senhor tem certeza?? ?Tenho?, respondeu Sloane suavemente. ?Como o senhor sabe? Como pode ter certeza?? ?É amor?, disse Sloane animado. ?Você se apaixonou. É só isso.?

Posição 385
Seus pais ficaram felizes de vê-lo, e pareciam não ter guardado rancor pela decisão. Todavia, descobriu que não tinha nada para dizer a eles. Percebeu que já estavam começando a ficar alheios um ao outro. E essa perda aumentou o amor que sentia por eles. Voltou para Columbia uma semana antes do que planejara.

Posição 388
Às vezes, imerso em seus livros, vinha-lhe a consciência de tudo que ele não sabia, de tudo que ele não lera.

Posição 397
Embora lhe coubesse apenas ensinar os fundamentos da Gramática e da Redação para um grupo misto de calouros, ele se preparou para a tarefa com entusiasmo e forte senso de responsabilidade.

Posição 403
Quando chegou a hora de suas primeiras aulas, após a rotina das listas de chamada e dos planos de estudo, e quando começou a se dedicar à sua matéria e aos seus alunos, descobriu que seu entusiasmo permanecia guardado dentro de si. Às vezes, enquanto falava para os estudantes, era como se estivesse do lado de fora de si mesmo e observasse um desconhecido falando para um grupo reunido contra a própria vontade.

Posição 542
Ela mata algo num povo que nunca pode ser recuperado. E, se um povo atravessa várias guerras, logo só o que sobra é o bruto, a criatura que nós? eu e você, e outros como nós, tiramos do lodo.? Fez uma longa pausa, e então deu um leve sorriso. ?Ao acadêmico, não se deveria pedir que destrua o que passou a vida construindo.?


Posição 554
Disse lentamente: ?Você precisa lembrar o que você é, o que escolheu ser e o significado do que está fazendo. Há guerras e derrotas e vitórias da raça humana que não são militares e não são registradas nos anais da história.


Posição 806
Agora William Stoner se intrometera naquela profunda intimidade, e algo insuspeito dentro dela, algum instinto, fez com que ela o chamasse de volta enquanto ele saía pela porta e falasse naquele tom rápido e desesperado, como nunca tinha feito antes, e como nunca faria de novo.


Posição 1163
Stoner continuava a ensinar com uma intensidade e uma ferocidade que assustavam alguns dos membros mais novos no departamento e causavam uma ligeira preocupação entre os colegas que o conheciam havia um longo tempo.

Posição 1423
Enquanto trabalhava no escritório, que lentamente começava a tomar forma, deu-se conta de que por muitos anos, sem perceber, ele guardara em algum lugar dentro de si uma imagem, como um segredo inconfessável. Uma imagem que na realidade era de si mesmo.

Posição 1492
Enquanto ela falava, Stoner a observou: era como se ela também tivesse morrido, como se uma parte dela tivesse ido irrecuperavelmente para aquela caixa com o seu marido,

Posição 1574
Estava pronto para admitir a si mesmo que não tinha sido um bom professor. Sempre, desde o tempo em que se atabalhoara com suas primeiras aulas de Inglês para o primeiro ano, tivera consciência do abismo que havia entre o que sentia pela sua matéria e o que conseguia comunicar em sala de aula.

Posição 1587
Ficou ao mesmo tempo entristecido e encorajado pela sua descoberta do que era capaz de fazer. Sentia que, mesmo sem querer, estava enganando tanto seus alunos quanto a si mesmo. Os estudantes que tinham conseguido sobreviver à monotonia de suas aulas sempre iguais começaram a olhá-lo com perplexidade e ressentimento; aqueles que não se haviam matriculado em suas disciplinas começaram a vir a suas aulas e a cumprimentá-lo nos corredores. Stoner falava com mais confiança e sentiu uma severidade dura
e calorosa crescer dentro dele.

Posição 2510
Via-se perguntando a si mesmo se sua vida valia a pena ser vivida.
Se alguma vez valera.

Posição 2510
Era uma pergunta, suspeitava, que mais cedo ou mais tarde ocorria a todos os homens.

Posição 2716
que a pessoa a quem se ama no começo não é a pessoa que enfim se ama, e que o amor não é um fim, mas um processo através do qual uma pessoa experimenta conhecer outra.

Posição 3054
Não falava com frequência nessas reuniões, mas, quando o fazia, era sem tato ou diplomacia, de modo que entre os colegas ganhou a reputação de ser rabugento e mal-humorado. Mas, com seus jovens alunos, ele era gentil e paciente, embora exigisse deles mais trabalho do que estavam dispostos a fazer, com uma firmeza que era difícil para muitos deles compreenderem.

Posição 3063
Mas William Stoner conhecia a vida de uma maneira que poucos de seus colegas mais jovens podiam compreender. No seu íntimo, no fundo de sua memória, havia o conhecimento das privações, da fome, da resistência e da dor. Embora ele raramente pensasse nos primeiros anos de sua vida na fazenda em Booneville, sempre mantinha a consciência do próprio sangue e da herança de seus ancestrais, cujas vidas foram humildes, duras e estoicas, e cuja ética lhes impunha oferecer ao mundo cruel rostos inexpressivos, duros e impenetráveis.


Posição 3428
Os anos da guerra toldaram-se num borrão, e Stoner os atravessou como se estivesse atravessando uma tempestade borrascosa e infinita, com a cabeça baixa, os dentes cerrados e a mente fixa no próximo passo, e no próximo, e no próximo.

Posição 3439
Durante todo o tempo, ele continuou a ensinar e a estudar, embora às vezes sentisse que curvava em vão as costas contra o ímpeto da tempestade, fechando inutilmente as mãos em concha, em torno do tênue tremular de seu último pobre fósforo.

- Posição 3734
?Eu ensinei nesta universidade por quase quarenta anos. Não sei o que teria feito se não tivesse sido um professor. Se eu não tivesse ensinado, eu poderia??

Posição 3735
Fez uma pausa, como que distraído. Então, num tom definitivo, disse: ?Eu gostaria de agradecer a todos por terem me deixado ensinar?.

Posição 3854
quisera ser professor, e se tornara um. Mas sabia, sempre soubera, que na maior parte de sua vida tinha sido um professor medíocre. Sonhara com uma espécie de integridade, uma espécie de pureza imaculada, mas encontrara a banalidade e a força destrutiva da superficialidade. Aspirara à sabedoria e, no fim de longos anos, encontrara a ignorância. E o que mais?, ele pensou. O que mais?

Wanderley 23/01/2023

O milagre da existência
Livro simplesmente fantástico, forte e, ao mesmo tempo, delicado. O texto tem uma elegância, um esmero, uma paciência naqueles pormenores que sempre se revelam, mais cedo ou mais tarde, fundamentais para a trama. John Williams é simultaneamente simples e sofisticado na construção de suas imagens, personagens e sentimentos.

O personagem título, William Stoner, não lidera revoltas, não é porta-voz de causas, nem símbolo de lutas contra preconceitos e injustiça, é somente um homem comum, um professor universitário sem grandes feitos, com poucos amigos e limitada conexão com a própria família, que busca compreender a vida sem receitas, apenas vivendo (viver é a aventura). Parece banal, mas mesmo assim - é complicado explicar - temos em Stoner uma baita história.

No posfácio, Peter Cameron explica essa singularidade: “Nada disso [as premissas do livro] parece material muito promissor para um romance. No entanto, de alguma forma, quase milagrosamente, John Williams transforma a existência de William Stoner em uma história apaixonante, profunda e pungente”. É isso! Milagre. Destaque para o final, que é de uma inspiração tocante. De algum modo, a história de uma pessoa comum – e assim como as nossas próprias histórias – pode ter muito mais significado do que se imagina.

Um livro fantástico. Experimente.

Cássia 22/01/2023

A triste vida de William Stoner
Filho de agricultores, William Stoner vai para a universidade e faz um curso medíocre, depois se torna professor medíocre da mesma universidade e se casa com a medíocre Edith.
Mas o que tanta mediocridade pode fazer um livro bom?
Não sei. Mas o escritor dá um show de genialidade só nisso aí.
E, aos que dizem que o livro é cansativo, faltou o olhar de Stoner na leitura.

Aliocha III 17/01/2023

Uma história pungente
Nem sei pq leio... Isso acaba comigo.
Tenho a impressão que fiz um bom e velho amigo.
É uma história dura, nada extraordinária porém de uma profundidade que causa nó na garganta.

Mari 16/01/2023

Uma história sobre a vida
Interessante que parece que todos conhecem alguém como Stoner, que parece observar a distância sua própria vida, em momentos cruciais onde deveria agir, não se move parece imóvel e sem reação. A vontade é chacoalhar o personagem para que ele se torne o protagonista da própria história. Um enredo que trás muitas reflexões. Gostei do livro

David Atenas 08/01/2023

Simples e muito bom
Li o livro antes da pandemia; havia me interessado pelo autor a partir da leitura de artigos sobre ele, mas enfim: como disse, "Stoner" é muito bom na sua simplicidade, embora tenha incorrido a certos clichês incômodos em alguns poucos pontos da obra, como ter um idealista e um irônico entre os três amigos, além de uma parceira que se debilita mentalmente e acaba sendo "abandonada" gradativamente pelo herói, enquanto ele se interessa por outra; embora a mulher debilitada seja justamente mais interessante.

Erica 11/12/2022

Amo
Segunda vez q leio esse livro e ele mexeu comigo denovo. Muito bem escrito e uma história simples, mas envolvente. Me deixa pensativa q nossa vida não precisa ter acontecimentos mirabolantes pra ser especial. Eu amo demais esse livro.

Jonas Migotto 09/10/2022

Uma vida banal rende um livro? Oxe, rende muito. Stoner é uma baita reflexão sobre a existência humana.

Willian Stoner é um homem que aceita. Deixa-se levar pelo ritmo das ondas do mar da vida.

Vive de forma estoica um casamento infeliz. Uma relação cada dia mais distante com a filha. Um caso extraconjugal.

Aguenta as picuinhas acadêmicas atemporais no trabalho como professor universitário. Passa por duas guerras mundiais como espectador distante, sentindo o peso do mundo na rotina transformada dos jovens no campus, nas perdas.

A história do cara que sai de uma vida humilde no campo rumo à universidade, trabalha pesado para conseguir um lugar para morar enquanto estuda, descobre uma paixão inexplicável pela literatura, segue os estudos e vira professor na mesma instituição, não é uma narrativa clássica de self made man estadunidense que vira herói. É só a vida de um homem. A beleza está na simplicidade.

Pedro 14/09/2022

A tragédia do herói comum estoico
Como pode um livro que na sua primeira página já revela tudo que vai se desenrolar ser tão bom?
Com sua escrita minimalista, fria e seca, John Williams dá vida a um dos mais fascinantes personagens que já me deparei na literatura. Um homem comum, que viveu uma vida de forma banal, mas que nos impressiona porque nos causa proximidade, porque nos vemos nele. Talvez não em sua por vezes irritante passividade ou indiferença perante os acontecimentos e percalços da vida, mas sim pelos conflitos com seus pais, pela sua dificuldade de relacionamento com a esposa, pelos problemas de conexão com a filha, por sua paixão interrompida, pelas adversidades no trabalho, enfim, por ser demasiado humano.
Ora, é porque para Stoner a vida é menos sobre o fim e mais sobre o caminho.
É a frustração pela vida medíocre, o arrependimento, o amargor de se sentir incompleto e a posterior aceitação de que não há tempo pra mais nada, de que chegara a hora.
No fim, a história ficcional de Stoner acaba por parecer mais real que a própria realidade.
É incrível como John Williams consegue manter o ritmo do livro perante as mais de 300 páginas em que conta a vida de um homem sem grandes conquistas ou feitos extraordinários. Por sua vez, o autor também não utiliza de grandes artifícios ou malabarismos literários. Isso pois já basta seu poder de contar uma história forte e pungente através de uma premissa simples.

Vanessa.Lima 07/09/2022

Sobre a vida
Stoner é daqueles livros de escrita simples e fluida, que narra a vida de um jovem estudante que descobre seu amor pela literatura.
No início você não imagina como ele pode tocar sua alma, mas ele toca, e faz isso profundamente.
Por várias vezes me vi refletindo sobre a vida junto com Willian Stoner, me peguei pensando quantas oportunidades de viver desperdicei, nso anos que perdi, mas percebi que não é tarde (não ainda).
O final me deixou enebriada e reflexiva como poucos livros tem o poder de fazer, e por isso ele entra pra minha lista de preferidos.
Uma injustiça essa obra prima não ser mais conhecida, mas sou grata por ter tido a oportunidade de conhecê-la.

stillwoozy 07/09/2022

Uma vida que não é nada e de repente é tudo.
Eu amo livros sobre nada, e esse é exatamente o que eu gosto. Sobre a vida comum de um professor de inglês universitário, e a vida não é nada até que um acontecimento dá sentido a tudo. Muito lindo, parecia até que eu tava vivendo aquilo. Te amo, Stoner!