Viagem ao fim da noite

Viagem ao fim da noite Louis-Ferdinand Céline




Resenhas - Viagem ao Fim da Noite


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Lista de Livros 01/03/2017

Lista de livros: Viagem ao Fim da Noite, de Louis-Ferdinand Céline
“O amor é como o álcool, quanto mais somos fracos e bêbados, mais nos acreditamos fortes e espertos, e convencidos de nossos direitos.”
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“Não há vaidade inteligente. É um instinto. Tampouco há homem que não seja antes de mais nada um vaidoso.”
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“Viver sozinho é se exercitar para a morte.”
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Arsenio Meira 04/10/2015

A viagem de todos nós
Ferndinand Bardamu, protagonista deste romance epilético, soturno e genial, é um jovem estudante de medicina que se apresenta para combater na primeira guerra mundial, o romance narra o percurso que vai da experiência crua da guerra, mortes, dureza até o momento em que, por ter sofrido um ferimento em combate, retoma sua vida em Paris, na sua dura experiência na guerra conhece a seu amigo Robinson.

Em um hospital em Paris começa uma relação com a enfermeira Lola, uma americana com a qual se envolve amorosamente, Ferdinand (o protagonista) sofre uma alucinação persecutória no meio de um restaurante e é internado e uma clinica onde cuidam de pessoas com problemas mentais; desenvolve alguns recursos para sobreviver, para afastar o medo, aqui um dos relatos: "Quando somos fracos, o que dá força e despojar aos homens que mais tememos do prestígio que ainda tendemos a atribuir-lhes". Seu namoro com Lola fracassa quando ela percebe uma falta de heroísmo patriótico, Ela diz: "Mas Ferdinand é impossível recusar a guerra, só os loucos e covardes que poderiam fazê-lo"; ele, então, responde : "Então vivam os loucos e covardes ou melhor , sobrevivam os loucos e covardes!".

Céline ataca fortemente todo o establishment o chamando de covarde, de corrupto, falando que o Poder só elogia ao homem comum quando esta prestes a usá-lo, quando o quer manipular. O personagem finalmente recebe alguma liberdade e começa a freqüentar Paris, se apaixona por uma mulher de nome Musyne , decide morar junto com ela em um bairro no subúrbio de Paris. Musyne o abandona e ele voltou a ser internado em um hospital para feridos de guerra. O autor alterna fatos com pensamentos, em um deles nos comenta sobre as classes sociais: "Existem para os pobres neste mundo duas grandes maneiras de morrer , seja pela indiferença de seus semelhantes em tempos de paz, seja pela paixão homicida dos mesmos em tempos de guerra."

Relata uma última aventura no hospital, um pedido de grana a familiares de pessoas que morreram na guerra; o clima é de falta de princípios éticos, de lei da selva, de desolação.
Da tranqüila vida no Hospital, Céline descreve no seu romance como o protagonista passa por uma aventura aterrorizante, parida pela idéia de fugir da França e da guerra; Ferndinand Bardamu, decide embarcar para África. Resolve sair do país, e e joga no navio com destino a África. Lá padece intimidações por parte da tripulação até o ponto de sofrer uma ameaça de morte; o clima esquenta, a tal ponto que nosso peculiar protagonista corre risco de vida; no final finge certa afinidade com os outros embarcados, disfarça, cria um discurso patriótico para se salvar e consegue fugir de que o joguem ao mar.

Com sua linguagem crua, agressiva, veloz, ele vai direto ao ponto: Céline sabe o que diz, a sua escrita expressa a potência da coisa em si, não escreve propriamente como se fala, como muitos dizem. Contudo, através da sua intensidade criadora, faz a escrita ganhar a potência de uma fala bruta (essa é sua contribuição para literatura); converter a escrita em vibração, recriar através da escrita a febre das ruas / inventando uma escrita em carne viva.

Essa é a sua força, assim o vemos inicialmente falando como Bardamu. Mas o que Céline evidencia através da sua escrita passa alhures de um testemunho ou confessionário, pois não se trata de uma volta às idiossincrasias do sujeito, mais sim da edificação de uma experimentação, verdadeira erupção na linguagem, uma jogada violenta no coração da literatura.

"Viagem ao fim da noite" é na literatura um caso do intempestivo, sua força se desloca por fora das cronologias, num tempo puro, na intensidade de uma obra que não se rende, talvez porque, no fundo, seja mesmo uma viagem a ser destinada a todos nós.
Márcio_MX 04/10/2015minha estante
Depois de sua resenha esse livro se tornou prioridade!
Há pouco li 'Servidão humana' e agora 'Crime e castigo', ambos um soco na boca do estômago, que nos tira o ar. Pelo visto esse é outro soco.
Abraço


Arsenio Meira 04/10/2015minha estante
Márcio, esse é uma traulitada grande! Mas é um clássico dos clássicos! Valeu, e um excelente domingo! Abraços


Arsenio Meira 04/10/2015minha estante
Concordo, Thiago, integralmente!




Agnaldo 24/07/2022

Quem muito anda, muitas coisas encontra em seu caminho
O livro é muito bom socialmente, mostra realmente a sociedade depravada e como o mundo é muitas vezes uma busca incessante de se sobrepor ao outro, o autor explora muito bem a jornada do Ferdinand e mostra cada detalhe de forma crua e terrível, as vezes chega a ser maçante por ele carregar muitos detalhes e querer apresentar o contexto pra aquilo acontecer. Mas cada lugar por onde vamos passando encontramos histórias absurdas e outras tantas tristes, e querendo ou não o mundo é um lugar onde muitos vão aproveitar oportunidades e outras vão criar oportunidades em cima dos outros. Foi uma obra bem interessante.
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@cemlivros 17/05/2023

O livro preferido de Bukowski
Os que se dizem fãs de Bukowski precisam ler esse livro para ontem! E prepare-se para inúmeras, infinitas risadas!
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Airton 31/08/2012

O Livro do Ressentimento
Não digo com isso que ele seja ruim: pelo contrário, é um romance genial, cujo valor pode ser um pouco difícil de captar no todo: a revolução da linguagem despojada era muito mais chocante para os contemporâneos da primeira edição do que para nós. Mas não se pode perder de vista que o romance abriu caminho na literatura para uma linguagem mais crua e mais próxima dos sentimentos brutos do dia a dia. Até que ponto interessa a história em si? Para mim, digo-o pessoalmente, como leitor, nada mais devastador do que a voz do narrador se opondo contra tudo. Tipo se o cara dissesse: que haja o absurdo no mundo, mas que ao menos o absurdo não tente mais me enganar.
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Ramon.Amorim 22/10/2022

"Contra a abominação de ser pobre, é preciso, vamos confessar, é um dever, experimentar tudo, se embriagar com qualquer coisa, com vinho, do barato, com o cinema"
É necessário um ótimo estado anímico para ler Viagem ao fim da noite (1932) sem se contaminar pelo pessimismo de Louis-Ferdinand Céline. Essa energia que emana do seu romance não é, contudo, aleatória: na primeira metade do livro o personagem já se enredara nos confins da Primeira Guerra Mundial, pouco tempo depois vira funcionário numa região remota do Congo na fase aguda do colonialismo europeu e, por último, em Detroit, se torna operário da Ford no prelúdio do modo de vida fordista. É difícil sustentar qualquer entusiasmo diante da imensa brutalidade que atravessa as circunstâncias do protagonista.

Viagem não é um desses livros com enredo fechadinho em torno de um propósito, a maioria dos bons livros não se circunscreve a isso, pois estão voltados ao desenvolvimento dos personagens e a uma abordagem mais profunda da complexidade humana e de nossas volatilidades; referem-se, eles, às nossas felicidades e tristezas profundas, à consciência da nossa efemeridade e à busca por apegarmos a algo fixo que permita nos equilibrarmos em meio às águas revoltas que cercam a vida. Livros assim merecem o devido reconhecimento: eles oportunizam uma formação mais complexa à nossa estrutural emocional e inteligência cognitiva.

A outra virtude que valoriza as qualidades já ressaltadas é que se trata de um livro com uma escrita furiosamente vívida. Céline é realmente capaz de gerar no leitor um espetáculo de imagens e de sensações em uma quantidade enorme de cenas que se prolongam e se reconstroem na nossa memória. Ele faz da guerra o que a guerra é: um evento absurdo, cruel e sem sentido, despido de qualquer heroísmo como o padronizado por Hollywood. O colonialismo no Congo surge, por sua vez, com sua impetuosidade e ganância, com absoluto desprezo pelos povos colonizados e por um abismo que separa seus modos de vida e interesses.

Há espaço também para um dos encontros mais comoventes da história da literatura, embora curto, entre Bardamu e Molly, esta uma prostituta na cidade de Nova York. A maneira como ele, solitário num país desconhecido e hostil, é protegido e recebe dela amabilidade não encontrada em lugar nenhum nos três continentes por onde passou, é muito tocante. A empatia que exala nessa alma surrada de Bardamu - os três parágrafos em que ele expressa todo o seu reconhecimento sincero e tocante me arrepiam da mesma maneira toda vez que os releio.

Não é um livro fácil de ler, mas faz jus a todos os elogios que já recebeu. É com sobras um dos maiores romances do século XX.
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marcelo.batista.1428 15/11/2021

O livro é escrito em primeira pessoa e muito do que o personagem viveu, também se encontra na biografia do autor, por isso, alguns consideram uma “pseudoautobiografia”. A narrativa é direta, sem palavras muito trabalhadas e sem eufemismo, reflexo de uma fala coloquial, com muita ironia e perspicácia. Parece que estamos lendo algo contemporâneo, mas o romance foi publicado na terceira década do século passado. Com certeza, aí está um dos seus valores como grande obra.
No começo, estamos na Primeira Guerra Mundial, e o autor, com essa narrativa já descrita, traz uma crítica a ela em vários momentos, como em um onde refere, ser necessário um discurso muito bom para se convencer um jovem a ir viver atrocidades em um front de batalha, onde vai enfrentar jovens que provavelmente teriam mais coisas em comum para compartilhar do que motivos para se odiar.
Mesmo com o fim da guerra, o autor mantém uma visão pessimista da humanidade, e manterá, ao meu ver, uma postura em que nós nunca estamos vivendo, e sim, sobrevivendo. E, também na minha visão, o personagem principal vai cada vez mais se afastando de uma crítica social, e indo em direção a um individualismo oportunista. Há uma progressiva objetificação do outro (que só será amenizada mais ao final do livro), com direito a passagens racistas, misóginas, homofóbicas, colonialistas, entre outras na mesma direção.
Se no começo do livro o autor parece mostrar que toda vida humana não vale nada; com o decorrer do romance, o tom muda, e parece que a vida de uma parte da humanidade não vale nada e pode ser descartada ou mesmo capitalizada em nosso favor. O que mistura o personagem principal com o autor, é o fato de Céline ter escrito panfletos antissemitas e ter apoiado o nazismo.
Então é isso, fiquei com a impressão de ter encontrado um bom escritor numa pessoa desprezível.
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Silvio 13/09/2012

Ame ou Odeie
Depois de ler a resenhas tão apaixonadas sobre este livro fui até conferir se era o mesmo que eu tentei ler por diversas vezes e acabei abandonando, rsrsrs. Céline para mim é um autor 8/80. Ou você ama ou odeia (o meu caso). O que não tira os méritos do autor.
Wil 08/10/2024minha estante
Odiei!




spoiler visualizar
Peleteiro 06/12/2014minha estante
Escreveria uma resenha se a sua não estivesse completa. Parabéns!


Keroway 16/02/2016minha estante
Muito obrigado! Grande abraço!




jota 15/08/2017

O absurdo do mundo...
Quem leu Morte a Crédito conhece bem a literatura de Céline, então não vai estranhar tanto assim as histórias por ele contadas em Viagem ao Fim da Noite nem o jeito como ele as conta. Tampouco vai achar estranho o modo de pensar, sentir e agir do personagem Ferdinand Bardamu, que em grande parte é o próprio autor uma vez que que ambos os livros são altamente biográficos. É só comparar um pouco a vida e a obra do escritor nascido em 1894 e falecido em 1961 para perceber isso.

Para quem não leu, Bardamu é colonialista, racista, sexista e outras coisas condenáveis (nem tanto assim no tempo em que o livro foi escrito, 1932) que vamos encontrando pelas longas páginas de Viagem... , livro de estreia de Céline (são 536 páginas na edição da Companhia de Bolso, 2009). O escritor também era um antissemita ferrenho, tendo sido julgado e condenado pela República Francesa em 1950: ficou preso durante um ano, pagou multa pesada, teve bens confiscados, perdeu direitos políticos etc.

Na Apresentação, a tradutora Rosa Freire D’Aguiar traz diversas informações sobre Céline e aí podemos conhecer um pouco melhor o polêmico e provocador (também genial) autor francês. Seus defeitos (ou preconceitos) não tiram os méritos de seus livros, pois como alegam alguns intelectuais, é preciso separar o antissemitismo que exerceu de sua obra literária. Desse modo, em Viagem... acompanhamos Bardamu como soldado durante a I Guerra Mundial, depois seus giros pela França e pela África, depois ainda por Nova York e novamente de volta à França.

Tudo isso é narrado em linguagem falada (ou fabricada, estilizada, como querem alguns críticos), popular, cheia de palavrões e quase sempre áspera, mal-educada, raivosa, ofensiva etc. E sobretudo extremamente preconceituosa, como quando Bardamu fala de sua estadia em terras africanas. Mas no fundo mesmo Viagem ao Fim da Noite é sobre a fragilidade da condição humana; é a respeito daquela viagem que todos os homens, cada qual a sua maneira, fazem em direção à morte indefectível. E como tal, uma viagem pessimista, desesperançada, povoada de embates, mentiras e crueldades...

Por outro lado, a obra é igualmente uma viagem pelas primeiras décadas do século XX, pois Bardamu/Céline é um arguto observador da sociedade de seu tempo e dispara seu olhar e sua metralhadora de palavras para todos os lados. Então, a obra vai além da visão pessimista da humanidade: ao mesmo tempo ela denuncia a torpeza da sociedade humana seja em qual tempo for. Há tanta coisa para se ver (ler) e refletir (ou se divertir por vezes) em Viagem... quanto numerosa é a quantidade de suas páginas.

Da mesma forma que em Morte a Crédito, é pegar ou largar: não que a leitura de Viagem... seja difícil, mas seu conteúdo grande parte do tempo é complexo, amplo, exagerado, por vezes absurdo, como é o mundo. Então, conforme li antes em um comentário ou resenha, não me lembro mais onde foi, se a algum leitor parecer de imediato que esse livro possa ser aborrecido, longo ou complicado demais, que o deixe de lado rapidamente e vá tentar algo na linha de cinquenta tons de alguma cor...

Lido entre 31/07 e 15/08/2017.
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Psicodideo 13/03/2011

Viagem ao Fim da Noite
Perfeito. Sarcasmo, visão crítica do mundo (às vezes pessimista) vida da gente simples, permeiam está obra. Boa leitura e um passeio por uma parte da história do século XiX.
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AleixoItalo 08/05/2021

O que teria a nos dizer sobre o mundo um declarado anti-semita, apoiador da invasão nazista e que morreu em ostracismo condenado pelo seu ponto de vista? Influenciado pelos horrores que viveu, Louis-Ferdinand Céline escreveu um dos romances mais influentes do século XX, um ode ao pessimismo!

‘Viagem ao Fim da Noite’, obra de cunho autobiográfico, conta a jornada pelo mundo de um soldado que vivenciou os horrores da guerra, os absurdos da África colonial, uma América indiferente e de uma França onde o sofrimento humano é varrido para baixo do tapete. Rompendo com os academicismos da época, utiliza de uma linguagem despojada e depravada numa narrativa que exalta a sujeira e os detalhes sórdidos da relações humanas.

O impacto de Dostoiévski na literatura é indiscutível, que se utilizou de um pessimismo fundamental (que viria a ser a base da filosofia de Nietzsche) para moldar seus personagens revoltosos contra tudo, e Celine de certa forma moderniza esse pessimismo. Se ‘A Montanha Mágica” é um livro valoroso que condensa algumas ideologias vigentes do século XX à medida que constrói seu personagem, ‘Viagem ao Fim da Noite’ é o desenvolvimento de um personagem decadente, sem nada a construir, que passa a vida divagando sobre a sordidez do mundo. Obra que modernizou a linguagem e impactou a literatura do século XX, e é difícil imaginar o que seriam um Bukowski ou Philip Roth sem esse livro.

Não se trata porém de um livro triste ou de uma nota de ódio contra a humanidade, mas antes de um desânimo e desesperança diante dela, a crônica do homem sem ambição, de quem foge da guerra pois não vê sentido algum em matar seus semelhantes e continua fugindo pela vida toda porque não vê sentido também em construir algo.

É a mais pura epopeia do homem cotidiano, que não se apega a nada, não respeita ninguém e não tem objetivos senão os de sobreviver dia após dia, tentando fugir da solidão e numa busca eterna por algo inalcançável. Uma verdadeira e simples viagem ao fim da noite.
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yasneryst 01/11/2024

O primeiro cancelado.
Em primeiro lugar, preciso dizer que esse é o livro com a maior quantidade de reviravoltas inesperadas.
Pense em uma pessoa que não sabe o que quer e vai sendo levada pela vida como ela quer.
Causou um escândalo quando publicado, por expor com linguagem verbal e explicita o que a sociedade tem de mais podre. E coloco tem no presente porque fora ser ambientado na Primeira Guerra e depois no Imperialismo os temais, em especial a pobreza e a precarização do trabalho, são muito atuais.
Muito vanguardista, hoje um livro quase comum (e muito preconceituoso).
O autor era uma péssima pessoa, espero que esteja queimando no inferno.
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Bruna 15/09/2020

Pessimismo
Cheguei a este livro porque um outro livro que eu estava lendo (Como ser uma parisiense) o indicou, e eu amo quando um livro me indica outro livro.

Em Como ser uma parisiense, a narradora diz que há muitos livros na estante de uma francesa, há livros que ela sempre diz que leu (apesar de nunca ter lido), há livros de arte que seus pais lhe deram, há livros que ela comprou só por causa do título, e por aí vai, mas há livros que ela leu, amou e que fazem parte da sua história, e entre eles estava Viagem ao fim da noite. Como não se interessar após uma descrição dessas?

Ao pesquisar sobre o nosso autor, Céline, confesso que torci o nariz por ele ser um antissemita ferrenho. Como um renomado escritor pôde apoiar tamanha atrocidade? Porém, foi isso que aguçou minha curiosidade, considerando que Viagem é um livro autobiográfico, o que pensa, como vive, onde habita, uma pessoa que apoiou Hitler?

Primeiramente, tenho que dizer que finalizei a leitura de forma sofrível, além de não ter me identificado em nada com a forma de ver o mundo pelos olhos de Céline, a obra tem uma narrativa difícil. Ao menos para mim, não fluiu.

Em resumo o livro fala da podridão da humanidade do início ao fim, e Bardamu (Céline) me parece apenas contribuir para toda essa imundice, sem nunca ter uma atitude nobre, seja na guerra, na Africa, em Nova York, ou como médico. Sinto falta de um pensamento esperançoso, uma vontade real de mudar sua condição, ajudar o próximo, ser útil.

Deixo um trecho que exemplifica bem o que irão encontrar página após página ao se disporem a ler esse livro:

"Queria se livrar de mim na noite, o quanto antes. Era sempre assim. De tanto ser empurrado desse jeito na noite, a gente deve acabar chegando em algum lugar, eu pensava cá comigo. Era um consolo. “Coragem, Ferdinand”, eu repetia, para me aguentar, “de tanto ser posto no olho da rua em todo lugar você certamente há de acabar descobrindo o troço que lhes dá tanto medo, a todos eles, a todos esses filhos da puta, sejam quantos forem, e que deve estar no fim da noite. É por isso que eles não vão até lá, até o fim da noite!”

Enfim, um livro interessante por ser bem escrito, nos mostrar o outro lado da vida, a podridão que habita esse mundo, sem meias palavras escancarar toda sujeira humana, mas que não entrou na minha lista de boas leituras, de ruim já basta os noticiários e pessoas pessimistas que temos que conviver.
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