Viagem ao fim da noite

Viagem ao fim da noite Louis-Ferdinand Céline




Resenhas - Viagem ao Fim da Noite


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yasneryst 01/11/2024

O primeiro cancelado.
Em primeiro lugar, preciso dizer que esse é o livro com a maior quantidade de reviravoltas inesperadas.
Pense em uma pessoa que não sabe o que quer e vai sendo levada pela vida como ela quer.
Causou um escândalo quando publicado, por expor com linguagem verbal e explicita o que a sociedade tem de mais podre. E coloco tem no presente porque fora ser ambientado na Primeira Guerra e depois no Imperialismo os temais, em especial a pobreza e a precarização do trabalho, são muito atuais.
Muito vanguardista, hoje um livro quase comum (e muito preconceituoso).
O autor era uma péssima pessoa, espero que esteja queimando no inferno.
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everlod 04/06/2024

"Aqueles que perseverarem até o fim serão salvos"
Uma viagem alucinante, absurda e violenta como a guerra, cheia de mentiras e ardis como a guerra que intermeia toda a narrativa. Não há heróis, salvação e nem avaliações morais. Faça-se o que tem que ser feito, por ordem de superiores, para manter as aparências, para ganhar mais no fim ou apenas por enfado. Confesso que gostei muito, ainda sem saber porque. Uma prosa fluida, cheia de movimento e ação, nem que seja apena aparente a evolução de quem anda em círculos, batendo cabeça.
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@cemlivros 17/05/2023

O livro preferido de Bukowski
Os que se dizem fãs de Bukowski precisam ler esse livro para ontem! E prepare-se para inúmeras, infinitas risadas!
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Ramon.Amorim 22/10/2022

"Contra a abominação de ser pobre, é preciso, vamos confessar, é um dever, experimentar tudo, se embriagar com qualquer coisa, com vinho, do barato, com o cinema"
É necessário um ótimo estado anímico para ler Viagem ao fim da noite (1932) sem se contaminar pelo pessimismo de Louis-Ferdinand Céline. Essa energia que emana do seu romance não é, contudo, aleatória: na primeira metade do livro o personagem já se enredara nos confins da Primeira Guerra Mundial, pouco tempo depois vira funcionário numa região remota do Congo na fase aguda do colonialismo europeu e, por último, em Detroit, se torna operário da Ford no prelúdio do modo de vida fordista. É difícil sustentar qualquer entusiasmo diante da imensa brutalidade que atravessa as circunstâncias do protagonista.

Viagem não é um desses livros com enredo fechadinho em torno de um propósito, a maioria dos bons livros não se circunscreve a isso, pois estão voltados ao desenvolvimento dos personagens e a uma abordagem mais profunda da complexidade humana e de nossas volatilidades; referem-se, eles, às nossas felicidades e tristezas profundas, à consciência da nossa efemeridade e à busca por apegarmos a algo fixo que permita nos equilibrarmos em meio às águas revoltas que cercam a vida. Livros assim merecem o devido reconhecimento: eles oportunizam uma formação mais complexa à nossa estrutural emocional e inteligência cognitiva.

A outra virtude que valoriza as qualidades já ressaltadas é que se trata de um livro com uma escrita furiosamente vívida. Céline é realmente capaz de gerar no leitor um espetáculo de imagens e de sensações em uma quantidade enorme de cenas que se prolongam e se reconstroem na nossa memória. Ele faz da guerra o que a guerra é: um evento absurdo, cruel e sem sentido, despido de qualquer heroísmo como o padronizado por Hollywood. O colonialismo no Congo surge, por sua vez, com sua impetuosidade e ganância, com absoluto desprezo pelos povos colonizados e por um abismo que separa seus modos de vida e interesses.

Há espaço também para um dos encontros mais comoventes da história da literatura, embora curto, entre Bardamu e Molly, esta uma prostituta na cidade de Nova York. A maneira como ele, solitário num país desconhecido e hostil, é protegido e recebe dela amabilidade não encontrada em lugar nenhum nos três continentes por onde passou, é muito tocante. A empatia que exala nessa alma surrada de Bardamu - os três parágrafos em que ele expressa todo o seu reconhecimento sincero e tocante me arrepiam da mesma maneira toda vez que os releio.

Não é um livro fácil de ler, mas faz jus a todos os elogios que já recebeu. É com sobras um dos maiores romances do século XX.
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Agnaldo 24/07/2022

Quem muito anda, muitas coisas encontra em seu caminho
O livro é muito bom socialmente, mostra realmente a sociedade depravada e como o mundo é muitas vezes uma busca incessante de se sobrepor ao outro, o autor explora muito bem a jornada do Ferdinand e mostra cada detalhe de forma crua e terrível, as vezes chega a ser maçante por ele carregar muitos detalhes e querer apresentar o contexto pra aquilo acontecer. Mas cada lugar por onde vamos passando encontramos histórias absurdas e outras tantas tristes, e querendo ou não o mundo é um lugar onde muitos vão aproveitar oportunidades e outras vão criar oportunidades em cima dos outros. Foi uma obra bem interessante.
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Ju 04/03/2022

Não é para todos, mas...
Li do começo ao fim esperando algo mais que a insanidade da mente de um homem conturbado, em luta contra sua própria pessoa e jornada.

A história pode não ter sido o meu tipo de história, não foi uma daquelas leituras que me faz agarrar um livro e nunca mais querer soltar. Mas não posso negar a habilidade de Celine na escrita - apesar de todas as controvérsias que existem sobre o autor como pessoa.

É um livro que recomendaria para pouquíssimas pessoas, mas ainda assim, uma boa obra para adicionar em seu repertório.
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marcelo.batista.1428 15/11/2021

O livro é escrito em primeira pessoa e muito do que o personagem viveu, também se encontra na biografia do autor, por isso, alguns consideram uma “pseudoautobiografia”. A narrativa é direta, sem palavras muito trabalhadas e sem eufemismo, reflexo de uma fala coloquial, com muita ironia e perspicácia. Parece que estamos lendo algo contemporâneo, mas o romance foi publicado na terceira década do século passado. Com certeza, aí está um dos seus valores como grande obra.
No começo, estamos na Primeira Guerra Mundial, e o autor, com essa narrativa já descrita, traz uma crítica a ela em vários momentos, como em um onde refere, ser necessário um discurso muito bom para se convencer um jovem a ir viver atrocidades em um front de batalha, onde vai enfrentar jovens que provavelmente teriam mais coisas em comum para compartilhar do que motivos para se odiar.
Mesmo com o fim da guerra, o autor mantém uma visão pessimista da humanidade, e manterá, ao meu ver, uma postura em que nós nunca estamos vivendo, e sim, sobrevivendo. E, também na minha visão, o personagem principal vai cada vez mais se afastando de uma crítica social, e indo em direção a um individualismo oportunista. Há uma progressiva objetificação do outro (que só será amenizada mais ao final do livro), com direito a passagens racistas, misóginas, homofóbicas, colonialistas, entre outras na mesma direção.
Se no começo do livro o autor parece mostrar que toda vida humana não vale nada; com o decorrer do romance, o tom muda, e parece que a vida de uma parte da humanidade não vale nada e pode ser descartada ou mesmo capitalizada em nosso favor. O que mistura o personagem principal com o autor, é o fato de Céline ter escrito panfletos antissemitas e ter apoiado o nazismo.
Então é isso, fiquei com a impressão de ter encontrado um bom escritor numa pessoa desprezível.
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Italo306 08/05/2021

O que teria a nos dizer sobre o mundo um declarado anti-semita, apoiador da invasão nazista e que morreu em ostracismo condenado pelo seu ponto de vista? Influenciado pelos horrores que viveu, Louis-Ferdinand Céline escreveu um dos romances mais influentes do século XX, um ode ao pessimismo!

‘Viagem ao Fim da Noite’, obra de cunho autobiográfico, conta a jornada pelo mundo de um soldado que vivenciou os horrores da guerra, os absurdos da África colonial, uma América indiferente e de uma França onde o sofrimento humano é varrido para baixo do tapete. Rompendo com os academicismos da época, utiliza de uma linguagem despojada e depravada numa narrativa que exalta a sujeira e os detalhes sórdidos da relações humanas.

O impacto de Dostoiévski na literatura é indiscutível, que se utilizou de um pessimismo fundamental (que viria a ser a base da filosofia de Nietzsche) para moldar seus personagens revoltosos contra tudo, e Celine de certa forma moderniza esse pessimismo. Se ‘A Montanha Mágica” é um livro valoroso que condensa algumas ideologias vigentes do século XX à medida que constrói seu personagem, ‘Viagem ao Fim da Noite’ é o desenvolvimento de um personagem decadente, sem nada a construir, que passa a vida divagando sobre a sordidez do mundo. Obra que modernizou a linguagem e impactou a literatura do século XX, e é difícil imaginar o que seriam um Bukowski ou Philip Roth sem esse livro.

Não se trata porém de um livro triste ou de uma nota de ódio contra a humanidade, mas antes de um desânimo e desesperança diante dela, a crônica do homem sem ambição, de quem foge da guerra pois não vê sentido algum em matar seus semelhantes e continua fugindo pela vida toda porque não vê sentido também em construir algo.

É a mais pura epopeia do homem cotidiano, que não se apega a nada, não respeita ninguém e não tem objetivos senão os de sobreviver dia após dia, tentando fugir da solidão e numa busca eterna por algo inalcançável. Uma verdadeira e simples viagem ao fim da noite.
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Picón 14/02/2021

Vômito pessimista
Após esse livro, a ressaca literária é certa. O autor escreve numa verve crua e rascante. Emulando a oralidade, ele vai "botando para fora" toda a mesquinhez, a sordidez, enfim, tudo o que há de pior na natureza humana. Apesar de muito bom, o livro é um tanto difícil de ler por conta de toda essa crueza.
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Nelson 05/12/2020

Difícil viagem até o final do livro
Esse não é o tipo de livro que costumo resenhar, dado que a a obra exige um conhecimento que, como leitor, ainda não sinto possuir. E se tratando de Viagem ao Fim da Noite, temos implicações dos eventos históricos (guerra, colonialismo, industrialização norte americana) em meio ao contexto anterior na Europa, que criam uma grande e profunda reflexão histórica, política e social. E isso só se acentua quando acrescentamos o anti-semitismo de Céline.

A apresentação (ou introdução) de Rosa Freire é um belo começo para se entender um pouco do autor e do livro, principalmente por Céline, apesar de marcante na literatura, não ser exatamente o nome mais lembrado, já que se tornou um nome "amaldiçoado". Outro importante fato destacado ainda nessas páginas, é a marcante linguagem que, para a época de seu lançamento, era um diferencial para a obra, com sua forma coloquial, extenso uso de palavrões e uma pontuação bem notável. Porém, sinto que algo se perdeu no tempo, já que estamos há quase 90 anos da sua publicação. Não digo isso para tentar tirar o seu mérito, mas como já estamos bem acostumado com linguagens assim atualmente, o livro acaba sendo um pouco cansativo em certas partes que o estilo de pontuação é exagerado em um parágrafo grande que tenta descrever alguma ação rápida, mas acaba empacado nas palavras devido a isso. Aí entra outra coisa que se perdeu, dessa vez na tradução. Acredito que, em português, nunca estaremos cientes da dimensão da linguagem criada por Céline nesse livro.

Composto por partes (ou momentos) bem diferentes entre si, Viagem ao Fim da Noite, aborda uma grande extensão temporal. Existe uma diferença tão grande no ritmo da história de seu início (a guerra) até a desventura do protagonista, Ferdinand Bardamu, na África colonial, que a história parece ficar sem um rumo, sem objetivos após esses eventos. Não que isso não fosse algo planejado, afinal Ferdinand é um completo perdido na vida e, sem forças maiores agindo sobre ele, é de se imaginar seu destino de mudanças e fugas. Entretanto, isso acaba nos levando de nenhum lugar a lugar nenhum. Confesso que a falta de um objetivo para a história a partir do momento de sua fuga da África para a América, me deixou um tanto desanimado.

Mas o pior fica para o final, quando já de volta à França, Ferdinand passa a relatar seus problemas cotidianos, igual a uma novela de televisão. Nesse momento, tudo acontece devagar, tendo um ritmo melhor de desenvolvimento dos personagens, porém tanto eles quanto os fatos narrados não são muito cativantes. É quase como beber um copo de açúcar. Não fossem pelas pausas reflexivas do narrador-personagem, talvez eu tivesse desistido da leitura.

Em minha opinião, a maior beleza da obra está nas reflexões de Céline, principalmente quanto à guerra. Se tratando de uma obra semiautobiográfica, é notável a realidade de que não existem herois de verdade em uma guerra. Os horrores são descritos a exaustão, tornando a atmosfera um tanto niilista. Isso se reflete por todos os pensamentos do narrador-personagem. Todos. Se caso eu tivesse de grifar as partes mais emocionantes de seus pensamentos, acabaria grifando toda essa primeira parte.

Minha opinião pode ser um pouco confusa por elogiar e criticar negativamente o livro, por isso avisei de antemão que não me sentia preparado para resenhá-lo, ou mesmo, entender sua beleza nas partes mais dramáticas e arrastadas que não levam a lugar algum. Tenho um grande apreço por bons enredos, portanto esse livro me desafiou como leitor de sua metade em diante. Achei o final é um tanto anticlimático, mas não no sentido negativo. Nem toda história precisa de um fim engrandecedor. Além de que seus eventos finais fazem do título algo bem literal.

A minha edição é da primeira reimpressão da Companhia Das Letras e, apesar de ser uma boa casa editorial, penso que o copidesque poderia ter adaptado alguns termos sem causar prejuízo algum a obra. Outra coisa que não chega a incomodar, mas que também poderia ter sido melhor, é a diagramação. Há muito espaço sobrando entre a última linha, o número da página e o fim da folha. Por fim, a capa é feita de uma material bastante poroso, dando uma bela aparência, mas ao mesmo tempo conferindo uma fragilidade maior do que um material liso como de costume. A ilustração de Gus Bofa também não ganha destaque devido ao seu pequeno tamanho.
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Bruna 15/09/2020

Pessimismo
Cheguei a este livro porque um outro livro que eu estava lendo (Como ser uma parisiense) o indicou, e eu amo quando um livro me indica outro livro.

Em Como ser uma parisiense, a narradora diz que há muitos livros na estante de uma francesa, há livros que ela sempre diz que leu (apesar de nunca ter lido), há livros de arte que seus pais lhe deram, há livros que ela comprou só por causa do título, e por aí vai, mas há livros que ela leu, amou e que fazem parte da sua história, e entre eles estava Viagem ao fim da noite. Como não se interessar após uma descrição dessas?

Ao pesquisar sobre o nosso autor, Céline, confesso que torci o nariz por ele ser um antissemita ferrenho. Como um renomado escritor pôde apoiar tamanha atrocidade? Porém, foi isso que aguçou minha curiosidade, considerando que Viagem é um livro autobiográfico, o que pensa, como vive, onde habita, uma pessoa que apoiou Hitler?

Primeiramente, tenho que dizer que finalizei a leitura de forma sofrível, além de não ter me identificado em nada com a forma de ver o mundo pelos olhos de Céline, a obra tem uma narrativa difícil. Ao menos para mim, não fluiu.

Em resumo o livro fala da podridão da humanidade do início ao fim, e Bardamu (Céline) me parece apenas contribuir para toda essa imundice, sem nunca ter uma atitude nobre, seja na guerra, na Africa, em Nova York, ou como médico. Sinto falta de um pensamento esperançoso, uma vontade real de mudar sua condição, ajudar o próximo, ser útil.

Deixo um trecho que exemplifica bem o que irão encontrar página após página ao se disporem a ler esse livro:

"Queria se livrar de mim na noite, o quanto antes. Era sempre assim. De tanto ser empurrado desse jeito na noite, a gente deve acabar chegando em algum lugar, eu pensava cá comigo. Era um consolo. “Coragem, Ferdinand”, eu repetia, para me aguentar, “de tanto ser posto no olho da rua em todo lugar você certamente há de acabar descobrindo o troço que lhes dá tanto medo, a todos eles, a todos esses filhos da puta, sejam quantos forem, e que deve estar no fim da noite. É por isso que eles não vão até lá, até o fim da noite!”

Enfim, um livro interessante por ser bem escrito, nos mostrar o outro lado da vida, a podridão que habita esse mundo, sem meias palavras escancarar toda sujeira humana, mas que não entrou na minha lista de boas leituras, de ruim já basta os noticiários e pessoas pessimistas que temos que conviver.
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Lennon.Lima 29/10/2018

Sobre o livro

Viagem ao fim da noite trata-se de um relato semiautobiográfico. O personagem central é o anti-herói Ferdinand Bardamu que, assim como o seu autor, tem uma vida repleta de experiências marcantes, mas nem por isso agradavelmente memoráveis. Começamos a acompanhar a jornada de Bardamu na batalha que é a vida em sua modesta participação como simples soldado de infantaria em um dos maiores conflitos bélicos da história: a Primeira Guerra Mundial. Depois, seguimos com Ferdinand para a África colonial, por uma América do Norte em franca industrialização e novamente para a França onde passamos a conhecer a sua rotina de médico iniciante em um subúrbio de Paris.

O que achei de positivo

Esse livro é um retrato do absurdo da vida, ou, na definição de Lev Trotski sobre este romance, “panorama do absurdo da vida”. Uma das grandes virtudes que achei da escrita de Céline em “Viagem ao fim da noite”, especialmente na primeira metade do volume, é a capacidade de passar para o leitor o quão absurda, indignante, mesquinha, sem sentido são determinadas situações em que a vida pode nos colocar, ainda mais em um período de guerra. Situações que já foram naturalizadas devido a repetição constante em que se impõem, o que explica o excruciante estado de impotência a que nos submete, mas se analisadas além da superfície, revelam falta de sentido e de justiça insofismáveis.

O estilo de sua narrativa consegue transmitir, mesmo não se valendo de um discurso direto, uma crítica direta, o tom de revolta, de pessimismo e também de conformismo frustrante. É possível visualizar o jeito de ser de Bardamu e, consequentemente, de Céline. É possível imaginá-lo trombando com você na rua. Se você tem um mínimo de vivência, já deve ter cruzado com o tipo em algum momento de sua vida: desbocado, prático, contundente, de gestos largos, por vezes inconsequentes, de uma simplicidade rústica na forma de se vestir, mas digna, e dono de inteligência que não o faz um intelectual, mas esperto, malandro, principalmente em esconder suas misérias, suas fraquezas, seus medos inconfessáveis.

E essa percepção se deve ao tom, a linguagem despojada, coloquial, agressiva, incisiva, responsável muito do impacto que causou a época e que deve gerar até hoje, a mim me surpreendeu, porque ao saber que estou lendo um romance de 1932 a minha expectativa era de um tom mais formal, mais tradicional, mas de repente me vejo com a impressão de estar lendo um livro que poderia ter saído da gráfica a 10, 20 anos atrás, sem provocar estranheza. Ou seja, tem tons modernistas, é uma obra, em termo de estilo, a frente de seu tempo e que se mantém atual.

Em boa parte do livro, fiquei com a impressão de estar consumindo um livro de não ficção, mas isso não se deveu a riqueza do relato, dos detalhes de determinadas ocorrências, mas pela narrativa se semelhar muito ao estilo do gênero, se debruçando mais em relatar, explicar os porquês da concretização dos fatos e de suas consequências, do que focar em aspectos como descrição de ambientes, de aparência dos personagens, constituição física, de personalidades. Essa forma de narrar, neste caso, entendi como uma faca de dois “legumes”. Obviamente vou me ater aqui a parte positiva.

O livro é extenso

Verdade que li a versão de bolso da Companhia Das Letras, mas mesmo em um formato tradicional seria mais denso que qualquer coisa que o Felipe Neto já publicou ou venha a publicar. Sem dúvida é muita estória/história para contar e muitos personagens no enredo. Um estilo literário mais tradicional faria do volume muito maior do que é e provavelmente renderia trechos cansativos. Com esse estilo, Céline consegue expor os principais eventos de sua conturbada vida, fazer as observações, reflexões que julga pertinente e entregar uma narrativa fluída, envolvente, que faz o leitor percorrer páginas e páginas sem perceber. É o que sempre esperamos de um bom livro, não?

E esse êxito de construir uma narrativa fluída se deve, como já exposto, a linguagem acessível, cativante, impactante, o estilo objetivo, incisivo, franco, mas também ao seu incrível talento de definir situações e pessoas em pouquíssimas palavras. Poucas, mas cirúrgicas, marcantes. Esse livro é uma fábrica de frases de efeito. De boas frases de efeito. Daquelas de grifar, colar um postite amarelo no livro.

Tenho que destacar a fase na África colonial

Entendo como o melhor momento de “Viagem ao fim da noite”. Onde se reúne praticamente todas as virtudes mencionadas acima. O que acho especial dessa fase é que a escrita de Louis é exitosa em passar a desolação, o clima cáustico, o retrato palpável da condição de vida dos habitantes, o contexto da época, especialmente dos moradores locais, a condição escrava, sub-humana, desalentada, sem perspectivas, primitiva, estagnada, atrasada. É o trecho em que o leitor realmente se sente viajando sem sair do lugar. É imerso em uma gostosa solidão inculpe em região erma, na mata, afastado da civilização, sem previsão de retorno, com recursos parcos, mas suficientes, com longo tempo para pensar a vida que vivera até ali e a que gostaria de viver em futuro próximo.

A saída de Bardamu da África é, no mínimo, inusitada e o seu destino, surpreendente.

Confira no link o que achei de negativo do livro.
https://cartolacultural.wordpress.com/2018/10/28/resenha-viagem-ao-fim-da-noite/

site: https://cartolacultural.wordpress.com/2018/10/28/resenha-viagem-ao-fim-da-noite/
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Lopes 02/07/2018

| o intruso corrompido |
O leitor é um inesquecível ser volátil, doar a ele virtudes físicas e sentimentais, articulando um poder inerente da fala e escrita, encobre muitos feitos de artistas inesgotavelmente podres. Ruminar diante do papel as agruras de forma latente, aproximando a quem de direito sobre aquele livro de forma extrema e muitas vezes contrária, e, ainda assim, ser motivo de genialidade, causa um dos únicos e mais poderosos choques existentes no corpo e alma do leitor. Esse cursor vulgar é o princípio de “Viagem ao fim da noite, de Louis-Ferdinand Céline. O autor estilhaça qualquer vontade mínima de existência dentro da bolha em que o mundo se transformou durante e após a Primeira Guerra Mundial. A aridez nesta obra tem vínculos, ou o é em termos práticos, a visão eloquente da vida do autor por ele mesmo. Tudo é muito pesado, histérico e mortalmente cômico. O extermínio da beleza artística é rompida por uma linguagem simples e de vocábulo incessante. Na história, Ferdinand Bardamu, narra sua estridente trajetória a partir de sua participação como soldado na Primeira Guerra, depois é enviado para um país do continente africano. Mas será nos EUA que sua consciência o perturba de forma crua ao se deparar com um país infeliz, cordialmente material e falso. E por fim volta ao país de origem, França, e expõe toda sua experiência ao descrever seu trabalho como médico, fazendo um acerto de contas ao contrário do espaço em que formou sua essência cruel. O extremo corrompe, e quando esse se posiciona como objeto inerente à consciência, coloca em xeque o risco da obra, porém, o niilismo de Celine elabora uma nova miríade, em que é quase impossível não compreender tais seres humanos, autor e personagem. E o fator incisivo é que ao corromper consigamos deslocar ideias e perambulações românticas e saber, o mínimo possível que seja, que em nenhum momento a vida é uma literatura, e sim, algo bem menos robusto e arcaicamente animalesca, no entanto, onipresente e onisciente, que precisa dos mais variados diálogos para não cessar.
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Zeka.Sixx 24/01/2018

Uma epopeia niilista
Provavelmente o livro mais pessimista que já li. Não há um pingo de esperança em lugar algum. E Céline, no que se propõe, é magistral. Um livro recheado de passagens marcantes, embora um pouco maçante em algumas (poucas) partes. Minhas partes favoritas do livro foram a da África (absurdamente surreal e, contraditoriamente, realista) e de Nova York (impressionante a descrição ácida mas certeira dos Estados Unidos).

"É a idade também que está chegando talvez, a traidora, e nos ameaça com o pior. Já não temos muita música dentro de nós para fazer a vida dançar, é isso. Toda a juventude já foi morrer no fim do mundo no silêncio de verdade. E aonde ir lá fora, pergunto a vocês, quando não temos mais em nós a soma suficiente de delírio? A verdade é uma agonia que não acaba. A verdade deste mundo é a morte. É preciso escolher, morrer ou mentir. Eu, eu nunca pude me matar".
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jota 15/08/2017

O absurdo do mundo...
Quem leu Morte a Crédito conhece bem a literatura de Céline, então não vai estranhar tanto assim as histórias por ele contadas em Viagem ao Fim da Noite nem o jeito como ele as conta. Tampouco vai achar estranho o modo de pensar, sentir e agir do personagem Ferdinand Bardamu, que em grande parte é o próprio autor uma vez que que ambos os livros são altamente biográficos. É só comparar um pouco a vida e a obra do escritor nascido em 1894 e falecido em 1961 para perceber isso.

Para quem não leu, Bardamu é colonialista, racista, sexista e outras coisas condenáveis (nem tanto assim no tempo em que o livro foi escrito, 1932) que vamos encontrando pelas longas páginas de Viagem... , livro de estreia de Céline (são 536 páginas na edição da Companhia de Bolso, 2009). O escritor também era um antissemita ferrenho, tendo sido julgado e condenado pela República Francesa em 1950: ficou preso durante um ano, pagou multa pesada, teve bens confiscados, perdeu direitos políticos etc.

Na Apresentação, a tradutora Rosa Freire D’Aguiar traz diversas informações sobre Céline e aí podemos conhecer um pouco melhor o polêmico e provocador (também genial) autor francês. Seus defeitos (ou preconceitos) não tiram os méritos de seus livros, pois como alegam alguns intelectuais, é preciso separar o antissemitismo que exerceu de sua obra literária. Desse modo, em Viagem... acompanhamos Bardamu como soldado durante a I Guerra Mundial, depois seus giros pela França e pela África, depois ainda por Nova York e novamente de volta à França.

Tudo isso é narrado em linguagem falada (ou fabricada, estilizada, como querem alguns críticos), popular, cheia de palavrões e quase sempre áspera, mal-educada, raivosa, ofensiva etc. E sobretudo extremamente preconceituosa, como quando Bardamu fala de sua estadia em terras africanas. Mas no fundo mesmo Viagem ao Fim da Noite é sobre a fragilidade da condição humana; é a respeito daquela viagem que todos os homens, cada qual a sua maneira, fazem em direção à morte indefectível. E como tal, uma viagem pessimista, desesperançada, povoada de embates, mentiras e crueldades...

Por outro lado, a obra é igualmente uma viagem pelas primeiras décadas do século XX, pois Bardamu/Céline é um arguto observador da sociedade de seu tempo e dispara seu olhar e sua metralhadora de palavras para todos os lados. Então, a obra vai além da visão pessimista da humanidade: ao mesmo tempo ela denuncia a torpeza da sociedade humana seja em qual tempo for. Há tanta coisa para se ver (ler) e refletir (ou se divertir por vezes) em Viagem... quanto numerosa é a quantidade de suas páginas.

Da mesma forma que em Morte a Crédito, é pegar ou largar: não que a leitura de Viagem... seja difícil, mas seu conteúdo grande parte do tempo é complexo, amplo, exagerado, por vezes absurdo, como é o mundo. Então, conforme li antes em um comentário ou resenha, não me lembro mais onde foi, se a algum leitor parecer de imediato que esse livro possa ser aborrecido, longo ou complicado demais, que o deixe de lado rapidamente e vá tentar algo na linha de cinquenta tons de alguma cor...

Lido entre 31/07 e 15/08/2017.
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