Monalisa (Literasutra) 06/01/2016História forte com personagens marcantesEm sua brancura que machuca os olhos, em sua fofura que gela os ossos, o inverno é implacável. Para a família Bandini especialmente: O casal Svevo e Maria e os rebentos Arturo, Federico e August (em ordem de nascimento). Para eles o inverno é obstáculo. As roupas não são suficientes; o cimento congela e atrapalha o andamento da obra; não há treinos no campo de beisebol coberto de neve. O inverno é estação a ser suportada, relevada, sobrevivida. Portanto, “Espere a Primavera, Bandini”, e tudo poderá se acertar.
Primeiro romance do aclamado John Fante, o título foi publicado pela primeira vez em 1938. Aclamado pelo público e pela crítica, o livro acaba de ganhar uma nova edição pelas mãos da Editora José Olympio (que fez o mesmo com “Pergunte ao Pó”, publicado em 1939 e considerada sua obra-prima).
Embora em terceira pessoa e contemplando a , a narrativa tem preferência pelo ponto de vista de Arturo, alter ego do autor. O filho primogênito (e claramente o de personalidade mais complexa) divide o fio condutor da história com o pai, seu grande ídolo. E assim, com um retrato da pobreza mas sobretudo da inocência, John Fante apresenta e desenvolve personagens inesquecíveis.
“Seu nome era Arturo, mas ele o detestava e queria se chamar John. Seu sobrenome era Bandini, mas queria que fosse Jones. A mãe e o pai eram italianos, mas ele queria ser americano. O pai era pedreiro, mas ele queria ser um lançador dos Chicago Cubs. Morava em Rockling, Colorado, população: 10 mil, mas ele queria morar em Denver, a 50 quilômetros dali. Seu rosto era sardento, mas ele queria que fosse limpo. Frequentava uma escola católica, mas queria ir para a escola pública. Tinha uma namorada chamada Rosa, mas ela o detestava. Era coroinha, mas era um demônio e detestava coroinhas. Queria ser um bom menino, mas tinha medo de ser um bom menino porque receava que seus amigos o chamassem de bom menino. Era Arturo e adorava o pai, mas vivia no temor do dia em que cresceria e seria capaz de bater nele. Venerava o pai, mas achava que a mãe era fraca e tola.” (Pág. 26)
Há histórias que merecem ser lidas; autores cuja obra transcende datas e lugares, sendo capaz de nos atingir até mais profundamente do que gostaríamos. John Fante, com seu “Espere a Primavera, Bandini”, é um desses casos.
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