Alex 30/10/2017
Liberdade, ainda que tardia
A questão em destaque na capa não poderia resumir melhor o que o livro procura elucidar, ao longo de suas 322 páginas: Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado? Escrito por Bruno Garschagen, "Pare de acreditar no governo" é um ensaio sobre a história política brasileira, abrangendo todo o período compreendido entre a regência de D. Manuel I à presidência de Dilma Rousseff. Investigando as raízes culturais brasileiras, que culminaram no modelo de governo vigente, Garschagen busca referências, principalmente em Roberto DaMatta, para explicar que, apesar da imensa maioria da população assumir-se avessa à política (e aos próprios políticos), acabam desejando que o Estado (governado justamente pelos políticos e aproveitadores da falta de interesse da população) resolva todas as mazelas, de maneira paternalista ao extremo.
A leitura de "Pare de acreditar no governo" é engessada. O autor foi bastante burocrático para construir suas teses, que resumem os governos que o Brasil já teve - enquanto colônia, monarquia, república e eventuais ditaduras. A obra acaba sendo repetitiva e prolixa em alguns momentos, o que realmente não anima o leitor a manter-se totalmente focado. Precisei de uma boa dose de empenho para chegar ao final, até porque não gosto de abandonar os livros pelos quais já paguei.
"Pare de acreditar no governo" tem um viés ideológico bastante evidente, conforme seu próprio título denota. Com clara tendência liberal, mas sem ser irracional, Garschagen consegue dialogar muito bem até mesmo com os não-convertidos, que por ventura tenham interesse em conhecer um outro lado da moeda, tão pouco difundido nos centros de estudos nacionais. Enquanto nas escolas e universidades brasileiras o que impera ainda é o marxismo cultural, fruto da influência de Paulo Freire e Florestan Fernandes, é sempre muito importante perceber que existem muitas coisas fora dessa caixa ideológica. E é neste contexto que reside a importância deste livro.
Quando conhecemos as raízes do amor enrustido do brasileiro pelo seu Estado, percebemos o porque de, geração após geração, termos uma população tão preocupada com seus direitos, mas que ao mesmo tempo, não demonstra o mesmo interesse por seus deveres. O brasileiro sofre, endemicamente, desta necessidade de cobrar mais esforço do Estado, mais intervenção do Estado, mais influência do Estado, até mesmo sobre os problemas criados pelo próprio Estado. Se o liberalismo é uma solução para alguns dos principais males produzidos pela alta carga intervencionista que todos os últimos presidentes brasileiros originaram, não há como afirmar. Porém, é realmente catártico cogitar, ainda que por um minuto, a possibilidade de viver num país menos dependente de seu governo, com uma população mais autônoma e, verdadeiramente, livre.