Allan Regis 10/11/2015
Excelente livro!
Ao contrário do que possa parecer, este não é um livro cujo objetivo repouse simplesmente em denunciar versões errôneas do passado apostólico e contrapô-las a "versões verdadeiras". O exercício histórico empreendido nesta obra é mais complexo, como aponta o subtítulo "política e imaginação na história". O autor enxerga os mitos políticos não como pura ficção, delírio ou manobra maquiavélica, mas como produtos de anseios sociais que devem ser levados a sério, não por seu conteúdo explicito, mas por sua mensagem política latente.
Por isso o livro perpassa sempre duas dimensões temporais: ao tempo do mito (em que se diz ter ocorrido evento 'x'), e ao tempo que o mito foi elaborado (geralmente muito mais tardio que o tempo que o mito se reporta). Do tempo do mito, vê-se narrativas que vão do cristianismo primitivo até o século XX, passando pelas Idades Média e Moderna. Do tempo da construção desses mitos, o recorte temporal é bem específico e conferem unidade a todos eles: o século XIX e XX. Porque as pessoas estavam revisitando a história do papado tão constantemente naquele período?
A mim o livro foi um grande exemplo de "conhece-te a ti mesmo". No correr da minha leitura vi mitos serem verdades aparentes amplamente acreditadas se tornarem ilusórias só para, em seguida, revelarem seu verdadeiro valor: mitos são espelhos da experiência humana, estão sempre embaçados, como todo fragmento do passado está para nós, mas suficientemente claros para nos ensinar algo sobre nós mesmos.