Joylande 08/10/2017Estou com a sensação de: o problema sou eu ou a história é de fato uma droga.
Mas espere um pouco! Antes de pensarem que estou me excedendo, entendam que a ideia para a história é ótima. É de longe, uma das mais legais da atualidade. Poderia ter sido melhor aproveitada/explorada: SIM, mas não foi, não é mesmo?
"Ah mas é um infanto juvenil, o que esperava?" Ué já li muito infanto juvenil decente e, até reli capítulos de alguns pra confirmar de que estou ficando seletiva ou não com relação a literatura, porém mesmo que a vibe seja outra, leio obras da classificação que poderiam me divertir tanto quanto a adulta. Até hoje me divirto com Diário de um Banana. Logo, o problema não está na classificação literária.
Enfim, listarei os pontos que mais me incomodaram:
PERSONAGENS
São todos uns chatos. A protagonista, Mare Barrow, não tem carisma ou magnetismo algum, não é um mártir que eu desejaria na história. Até o velho Julian consegue ser mais revolucionário do que ela.
O príncipe Cal consegue ser mais intragável que o irmão, Marven, em determinada parte da história. Normalmente, os heróis guerreiros ou mocinhos passam a ter aspectos antipáticos na trama após a declaração ou demonstração de afeto a donzela. Ele vira o "chato de galocha" que de uma hora para a outra nutre sentimentos e, no caso desta obra, mal espera o corpo do ente querido esfriar para voltar a normalidade. Muitos personagens (de outras obras), no lugar dele, estaria enlutada por dias (pra não tomar tempo demais da história), ele se recupera do choque tão rápido que torna tudo falso e fútil.
O Kilorn, é outro que não entendo a utilidade em quase todo o decorrer da obra. Seria só mais um dos elementos (mal de escritor) para admiradores em potencial da protagonista? Em Trono de Vidro isso é muito mais legal! Neste romance é forçosamente apelativo. Para uma personagem tão sem sal como Mare, até que é sortuda, a garota.
Arven foi bem risível, pois lembra muitos daqueles personagens improváveis que ninguém espera, mas tá de conclave com o outro lado.
A rainha Elara e Evangeline, até que são interessantes, mas parecem deslocadas da história, como se não pertencessem. Elara está mais para a madrasta má da Branca de Neve e Evangeline uma das Selecionadas de A Seleção disputando um homem a todo custo.
ENREDO
Como dito anteriormente, em teoria a idéia da obra é excelente, questões políticas e sociais são sempre bem-vindas quando bem executada, mas na prática deixou a desejar. O auge deste primeiro volume ainda foi a cena em que determinado personagem revela o verdadeiro objetivo (quando as máscaras caem) e força um personagem a assassinar o outro (não disse QUEM). É muito digno. Na arte de matar, Victoria Aveyard até que se sai bem. Deve ser influência de George R. R. Martin. Entretanto, a história é extremamente PREVISÍVEL e faltou detalhar mais essa questão das Casas e poderes, empoderar bem mais a Guarda Escarlate ou os próprios protagonistas.
INCOERÊNCIAS ou PONTAS SOLTAS
Em que sã consciência estava a Guarda Escarlate para confiar em personagem de certa influência apenas pela gentileza e boa lábia? QUE? Esperava um pouco mais de discrição ou burocracia.
Antes de controlar e manipular seu poder, subtendia-se que as explosões de poder acontecia quando estava com medo, raiva ou em perigo. Então por que não surgiu antes, sendo Mare Barrow, uma ladra que vive riscos e, por exemplo, quando vê o conflito da primeira vez em que entra na cidade dos prateados? O engraçado é que ocorre justamente na frente da sociedade prateada. A previsibilidade envia lembranças.
Se a rainha lê mentes, como não desconfiou dos próprios servos/criados/escravos/funcionários, sendo ela tão invasiva e controladora?
Qual o poder do rei? O tempo inteiro parecia ser fraco. Provavelmente, manipulava fogo como os próprios herdeiros, mas ficou como vulnerável a trama toda.
Alguém poderia informar se nos próximos livros é explicado o motivo de alguns vermelhos terem poderes e outros não? Como pode mais de um da mesma família ter essa mutação e não todos?
Por que não se livrar de Mare Barrow assim que reconheceu seu potencial ao invés de fazê-la nobre? Para quase "ditadores", a família real não devia explicação a ninguém, era só eliminar e procurar novos indícios pelos vilarejos para exterminar. Na situação de Mare foi necessário uma promessa de casamento, chantagem e coagimentos. O negócio foi alto.
ROMANCE
O romance mais morno que li esse ano. Eu que pensava ser fria a relação de Peeta e Katniss, NUNCA mais falarei o mesmo. Se eu pudesse diria: "Vic, miga, tu forçou demais a amizade". Se é pra fazer mais ou menos, então NÃO FAZ ou faça o favor de retardar o acontecimento porque se de uma hora pra outra os personagens já encarnam o Romeu ou o Jace Wayland (da fase amando-muito-demais-mesmo a Clare) aí não arde forte o coração, pelo contrário. É o tempo inteiro o leitor expressando tédio. Para não ficar em palavras vou citar um trecho que quase tive um "treco" de tão tosca que foi:
"(...) Cal quem me salvou de Evangeline. Foi ele quem me salvou de fugir e causar mais dor para mim mesma. Foi Cal quem me salvou do recrutamento. Passei muito tempo tentando salvar os outros para notar o quanto Cal me salva. O quanto ele me ama." (PÁG. 345)
Car*lho, borracha! *risos de nervouser* mal trocaram dez palavras e já ama. Detesto quando um dos personagens prevê ou subtende o que o outro pensa ou sente. Se não é do ponto de vista dele então sua opinião não é válida, sabichona.
OK
Chega de tanta crítica negativa.
Pra não ficar como carrasca, finalizarei dizendo que é uma boa obra pra quem tá iniciando na leitura porque a história é muito fluída, agradável de acompanhar APENAS pela linguagem fácil. Além disso, para aqueles que curtem o gênero fantasia-romance-mártires, o livro certo para despretensiosos com pouca ou nenhuma expectativa e sem a síndrome do rabugento.
Síndrome do rabugento: foi eu mesma durante toda a resenha, nada mais é do que um leitor criticão.
Portanto, essa é uma daquelas obras que te encantam, primeiramente, pela capa, depois a premissa e por fim o hype. Decepciona pelas expectativas.
Título Original: Red Queen
Tradução: A Rainha Vermelha
Gênero: Ficção
Páginas: 414
Editora: Seguinte
Classificação: 2/5