Ricky 05/10/2021
Ladrão que rouba ladrão...
Tive várias oscilações e diferentes emoções durante toda a leitura, que descia e subia no meu conceito o tempo todo, me trazendo prazer e raiva em cada página. O que mais esperar da profundidade visceral de Anne Rice? Porém, um pensamento se repetiu constantemente: como eu gostaria que o nível dos livros de Rice tivesse se mantido no decorrer do tempo.
A História do Ladrão de Corpos, quarto volume das Crônicas Vampirescas, é uma obra de arte. Sedutor, envolvente, erótico, reflexivo, profundo, delicioso. O padrão impecável da narrativa dos seus antecessores se repetiu e a autora me presenteou com uma leitura inesquecível.
A já conhecida melancolia do vampiro Lestat e sua busca incansável por autoconhecimento, dessa vez, envolvendo a possibilidade do retorna à humanidade, absorve o leitor para dentro da história com uma competência assustadora. No início, a narrativa é bastante lenta e eu, já familiarizado com os livros de Rice, não me senti incomodado de forma alguma. Pelo contrário, a lentidão reflexiva do começo abre alas para a ação contida no resto do volume. E que ação!
Lestat é meu personagem preferido da literatura, mas pela primeira vez, senti raiva mais do que me apaixonei por ele. A História do Ladrão de Corpos mostrou um lado do "vampiro bad boy" que eu ainda não conhecia. Lestat é aquele típico amigo faz a m3rd4 não importando quantas vezes você o previna. Entretanto, a leitura não se torna menos prazerosa por isso, uma vez que, aqui, também há um outro personagem que tanto assumiu o protagonismo, como salvou toda a história. No prólogo do livro, Lestat diz que a história é sobre ele. Mas não é. É sobre David Talbot, personagem que já conhecido, da Rainha dos Condenados, terceiro volume da série, mas que neste quarto livro me conquistou irremediavelmente. David foi o verdadeiro herói dessa vez e foi ele quem serviu todo o deleite e ensinamentos que a história tem para oferecer.
Além da teimosia desprovida de inteligência do Lestat, outro ponto que não gostei foi a presença, como sempre dispensável, de Louis De Poite Du Lac. Não consigo me afeiçoar a ele, sua intensa melancolia beira um vitimismo hipócrita e não entendo como esse personagem ainda foi aproveitado pela autora depois do famigerado Entrevista com o Vampiro. Contudo, como já disse, David salvou a história e conseguiu nublar todo o resto.
Depois desse íntimo envolvimento com o universo de Anne Rice percebo o motivo dela ser minha autora preferida (ao lado de Stephen King). Sim, é uma pena que seus últimos livros não tenham o mesmo fogo consumidor e purificador dos primeiros. Mas, ainda assim, o legado que Rice deixou com suas histórias iniciais, garantiu seu passaporte para a eternidade.