Zé Henrique 24/01/2016
“Quando será que eu vou usar isso?”
“Quando será que eu vou usar isso?” Tenho certeza de que todas as pessoas que já estudaram matemática fizeram – ou pelo menos, ouviram - alguma vez na vida esse questionamento. E é com essa frase que o matemático Jordan Ellenberg abre seu livro “O Poder do Pensamento Matemático – A Ciência de Como Não Estar Errado”. O livro traz exemplos de aplicações cotidianas da matemática, mostrando que a ciência não é algo meramente abstrato, limitado ao meio acadêmico. Mas sim algo presente na vida das pessoas comuns, nos ajudando a pensar melhor e a entender o mundo à nossa volta. Lembra Freakonomics, o best seller de Steven Levitt, pois também tenta mostrar o lado oculto de coisas comuns, através da correta interpretação dos dados. A diferença é que “O Poder...” é mais voltado para a matemática, e muito mais interessante, também.
Um exemplo de problema onde a correta interpretação dos dados aliada ao pensamento matemático faz a diferença, nos é apresentado no primeiro capítulo. O matemático do Grupo de Pesquisa Estatística dos Estados Unidos, Abraham Wald, é encarregado de avaliar aviões que retornaram de batalhas durante a segunda guerra mundial. Sua função é definir, a partir da quantidade de buracos de bala, em quais partes do avião deve haver mais ou menos blindagem. Sabemos que o avião não pode pesar muito, por isso a blindagem somente em locais estratégicos. Observou-se que a menor quantidade de balas estava no motor, e havia uma quantidade maior na fuselagem e no sistema de combustível. Usando do senso comum, pensamos em colocar mais blindagem nas partes que voltaram com mais buracos de bala, certo? Errado! Wald concluiu que o motor deveria receber mais blindagem, justamente a parte que tinha menos buracos de bala. Eis o motivo: os aviões que recebiam muitos tiros no motor não voltavam! A matemática é a extensão do senso comum por outros meios, afirma Ellenberg.
Com sua abordagem “simples e profunda” da matemática, Ellenberg ensina vários conceitos como o cálculo do valor esperado, o que possibilita, entre outras coisas, avaliar se uma loteria é favorável ou não (quase sempre não é). Um dos capítulos conta a história do grupo de estudantes do MIT que, sabendo que a loteria local tinha um valor esperado favorável, formou um cartel de apostas bastante lucrativo. Também nos é apresentado o conceito de utilidade e a unidade “útil”, que permite quantificar o benefício que as coisas podem nos trazer. Podemos aplica-lo às mais diversas situações, avaliando se algo pode trazer benefício ou não.
Ao longo do livro são apresentados vários problemas referentes a temas do cotidiano dos americanos como beisebol (por que jogadores que começam muito bem a temporada dificilmente mantêm a média?), basquete (será que existe a chamada “mão quente”?) e disputas eleitorais (Romney X Obama, Bush X Al Gore e os métodos de votação conhecidos).
A matemática desenvolve o raciocínio, mesmo que não a usemos diretamente. Assim como um jogador de futebol levanta peso em seu treino para desenvolver a musculatura, mesmo não usando esses exercícios durante o jogo. Em “O Poder do Pensamento Matemático”, Jordan Ellenberg nos lembra da real importância da matemática e como aprender – e entender – essa ciência pode ser prazeroso.