Fatori 03/03/2022
Bagagem foi o primeiro livro de poemas que li. Não sei porque o escolhi, apenas senti uma conexão com o título e logo me vi devorando as páginas da obra de Adelia Prado. Num primeiro momento não entendi o conceito de alguns versos, afinal, a obra da poeta não é algo entregue e literal, pelo contrário, Adelia nos faz interpretar suas palavras podendo ter diferentes significados e interpretações individuais.
Contudo, a obra como um todo remete sobre temas comuns à vida da autora, mas que cabem também à vida dos leitores, como por exemplo, morte, vida, amor, sexo, etc. Meus poemas favoritos são aqueles que Adelia rememora momentos de sua juventude no interior e aqueles sobre a morte, sendo essa um grande mistério profundo além da compreensão humana.
"Uma vez, na janela, vi um homem
que estava prestes a morrer,
comendo banana amassada (...)
Comia, achando gostoso,
me oferecendo corriqueiro, todavia
inopinado perguntou
- ou perguntou comum como das outras vezes? -
como será a ressureição da carne?
É como nós já sabemos, eu lhe disse,
tudo como é aqui, mas sem as ruindades.
'Que mistério profundo!' ele falou
e falou mais, graças a Deus,
pousando o prato." (FÉ, Adelia Prado).