A última palavra

A última palavra Hanif Kureishi
Hanif Kureishi




Resenhas - A Última Palavra


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Ladyce 10/11/2016

Hanif Kureishi me conquistou, ainda na década de noventa, com "The Buddha of Suburbia". Seu humor rascante pareceu uma nova vertente na literatura inglesa contemporânea, diferente da que eu conhecia. Nele combinavam típica ironia inglesa e crítica esfuziante desenvolvida por aqueles que sendo de casa ainda conseguem ver a sociedade com os olhos de fora, como acontece com membros da primeira geração pós imigração. Tempos depois, soube que ele era o autor do roteiro de "My Beautiful Laundrette" um filme inesquecível.

Desde então me aproximo dos livros de Kureishi com simpatia e corri a ler "A última palavra" porque achei pela sinopse que a veia irônica do autor seria o tom preciso para gerenciar um tópico fascinante: um escritor jovem, ainda sem uma carreira definida, é chamado por um editor a fazer a biografia de um escritor famoso cujo brilho parece ter-se ofuscado nos últimos tempos.

Imediatamente percebi a riqueza do tópico. Um jogo de espelhos deveria se desenrolar e como poderia ser revelador! Uma obra sobre o significado e a criação da arte. Hanif Kureishi é um desses escritores que fornecem maravilhosas citações. É comum ter frases ou parágrafos de sabedoria salpicadas em seus textos como pérolas de um colar desfeito. E realmente isso se tornou realidade durante essa leitura. Dezenas de pequenos lembretes post-it, coloridos, enfeitam hoje o texto do meu exemplar de "A última palavra". Tenho uma enormidade de frases bem humoradas sobre diversos assuntos para uso posterior. Hanif Kureishi entregou aquilo que sempre beneficiou seus textos: o pensamento crítico, a visão ácida.

Exploramos com ele o confronto entre dois escritores, com projetos de vida diametralmente opostos. Um é velho e famoso. Seu contraponto é jovem, à procura de fama: simpático e sociável; o oposto do biografado que se esconde do público. Enquanto um necessita bisbilhotar a vida do outro; esse se diverte ao esconder-se atrás de cortinas de fumaça. Ambos são insaciáveis no amor e ambos se representam a si próprios com os atributos do outro.

No entanto, a obra com humor ferino, crítica de costumes singular e retrato do mundo editorial implacável, que tinha potencial de ser inesquecível, não coalesce. Fica longe do trabalho memorável da minha expectativa. Ela se arrasta e se perde no caminho. Entedia. Não fosse eu uma dedicada leitora deste autor, poderia tê-la deixado de lado sem lástima. O texto é redundante.

Talvez seu maior pecado seja uma trama bastante solta. Nada prende o leitor. A obra, se fosse de alguém menos conhecido, teria dificuldade de ser publicada. Pareceu escrita às pressas e sem o cuidado de seus outros livros. Tem um fim inesperado que quase salva o esforço. Se você nunca leu um livro do autor, este não deve ser o seu primeiro. Não o representa bem. Mesmo assim, cheguei até o fim, o que é mais do que muitos livros que me atraem.
Daniela.Martins 08/01/2017minha estante
Olá! Qual livro você recomenda dele para começar? Nunca li mas fiquei bem interessada após ler sua resenha. Grata, Daniela


Ladyce 10/01/2017minha estante
Daniela, leia primeiro o BUDA do Subúrbio. Acho-o muito sedutor no humor, na narrativa.


Daniela.Martins 26/01/2017minha estante
Obrigada Ladyce!




Carla Verçoza 22/08/2020

O humor inglês, crítico e sarcástico, do autor é o ponto alto desse livro, além das reflexões sobre vida e presença de elementos da cultura pop. Gostei, mas eu tinha uma expectativa maior. Antes de "A Última Palavra", havia lido "Tenho algo a te dizer", que acho bem superior a este. Vale a leitura de ambos e pretendo ler mais o autor.
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@admiravel_leitura 19/07/2024

Apesar de conter uma breve crítica ao mercado editorial, infelizmente a obra se perde no meio do caminho, se tornando vazia
A arte é um sonho simbólico da vida que transcende aquilo de que ela deriva e, na verdade, tudo aquilo que se diz sobre ela.

Peguei esse livro pra ler imaginando encontrar uma história com críticas contundentes ao mercado literário, principalmente as biografias tendenciosas responsáveis por exprimir o lado sombrio dos famosos. No entanto, me senti ludibriada ao perceber que a trama possuí como foco o drama pessoal de um homem falho e repleto de erros, alguém mesquinho e egoísta.

Aqui conhecemos os podres de um famoso escritor, porém tudo é exposto de uma forma enfadonha ao propor debates filosóficos e existencialistas sem propósito.

Veja bem, eu gosto de livros com abordagens intimistas e personagens complexos capazes de nos fazer pensar em suas atitudes e refletir sobre elas, entretanto por mais que o protagonista Mamoon tente transmitir um ar intelectual sua personalidade desagradável o faz ser inconveniente.

Para além, o enredo explana a vida deste homem de uma forma esdrúxula exibindo com certo apreço o relacionamento complicado que ele possuí com a esposa e uma de suas ex-amantes, salientando ainda como o entrevistado é uma pessoa sem escrúpulos por humilhar seu entrevistador, Harry, e tentar se envolver com a namorada deste.

Infelizmente, nenhum dos personagens se salva, pois todos são medíocres o que torna a leitura maçante.

No entanto, para não parecer que nada se salva nessa narrativa, podemos perceber como a personalidade de cada pessoa descrita é crível o suficiente para podermos observá-los de uma forma real, afinal todos são humanos o suficiente para ponderarmos a existência de famosos com atitudes semelhantes.

Embora possua uma proposta narrativa interessante ao tentar abordar o cinismo presente no meio editorial quando se trata de uma biografia “A Última Palavra” se perde na própria narrativa, abordando com superficialidade o tema central e focando em expor um drama familiar vivido por personagens detestáveis, porém reais.
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