Henrique Fendrich 08/09/2019
Vamos lá: o que você entende por crônica de Pedro Bial? Provavelmente aqueles discursos feitos antes da eliminação de um participante do Big Brother, e que se tornaram uma das provas de resistência mais terríveis do programa (eu sempre tinha a impressão de que alguém iria se levantar e dizer “Chega, Bial, chega! Eu saio, mas não continua”). Na melhor das hipóteses, entendemos como crônica do Bial aquelas melosas tentativas de poesia que ele de vez em quando narra em telejornais.
Mas não é disso que foi feito nas suas “Crônicas de Repórter”, publicadas em 1996. A proposta está bem clara na própria capa do livro: “O correspondente internacional conta todo o que não se diz no ar”. Foi numa época em que Bial voltava ao Brasil, depois de anos em Londres, e passou a ser muito requisitado para contar suas experiências como correspondente internacional em faculdades de jornalismo.
De fato, o livro conta alguns episódios de bastidores até interessantes. Mas no geral são apenas reflexões de Bial sobre acontecimentos da política internacional (muitos deles já totalmente envelhecidos, dificultando a sua compreensão), memórias de antigas coberturas, reflexões sobre a atividade jornalística, sobre as diferenças culturais, e sobre o Brasil em geral. Nada muito excepcional, e muito pouco a ser aproveitado por um estudante de jornalismo.
Bial escreve suas crônicas em forma de pequenos pedaços separados por um asterisco, uma estratégia que pode funcionar muito bem, desde que o escritor não se perca e não deixe o leitor ainda mais confuso. Por várias vezes está lá a frase, tão típica de Nelson Rodrigues, “mas não era isso o que eu queria dizer”.
E por vezes não se entende o que ele está dizendo mesmo. A leitura é fácil, mas o estilo nem tanto. Sei lá, já li muito cronista mala que com a leitura fica até simpático. Não é o caso de Bial. Parece haver uma grande necessidade de ser intelectual. A leitura de um livro de crônicas é uma grande conversa com o autor, mas afora uma ou outra história ou citação, a conversa com Bial é meio chata.
Devo destacar também a seguinte frase de uma das suas crônicas, bastante útil para comparação em tempos de reality show: “Em todas as redações onde trabalhei, acabei ganhando a reputação de quase esnobe, tal a minha resistência à exploração da miséria humana”.
O que será que houve no caminho ?
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