Barbara.Luiza 24/06/2021Um grande rabo de burro em PinochetSe eu pudesse descrever Gabriel Garcia Marquez em uma palavra seria debochado. Um homem que ostentou o Prêmio Nobel de Literatura, a alcunha de Cronista da América e que, ainda assim, aparecia nos jornais sorrindo com um roxo no olho, que teria sido dado por Vargas Llosa e cujo motivo nós não sabemos.
Não é incomum ouvir histórias sobre as mentiras do autor, ele mentia para os amigos e também para os leitores. Talvez Miguel Littin seja um dos poucos sobre os quais Gabo mentiu a respeito tão abertamente.
É verdade que o cineasta chileno entrou clandestino em seu país durante a ditadura de Pinochet para fazer filmagens do que mais tarde seriam dois documentários e um grande rabo de burro no ditador.
Mas dessa história até a versão gabista há muito chão. Se Littin dizia não reconhecer sua história ali, com certeza conseguimos reconhecer o próprio Garcia Marquez que, num ato falho ou numa brincadeira de esconde-esconde, coloca nosso protagonista como jornalista.. mas quem mesmo é o jornalista?
Os metros de fita gravados são de Littin, mas quem tem espaço político para alfinetar esse rabo de burro em Pinochet é o nosso Gabo.
Ele se vinga da promessa quebrada de não escrever nenhum livro enquanto durasse a ditadura chilena ao mostrar a fragilidade dos apoiadores do regime, por conveniências ou falta de compreensão do que faziam, enquanto humaniza a militância contra a ditadura.
Gabo faz o que todo jornalista sonha fazer: mostrar o lado não contado da história. E a melhor parte de tudo é ser ele também um ficcionista. É aqui que memória, relato, recorte e ficção se misturam sem pedir desculpas.
Muito pelo contrário, imagino o sorriso no rosto do Gabo ao ouvir um debate tão minucioso, bastante divertido e, talvez, desimportante.