Suzana.Kawai 08/07/2024
O gêmeo de "Os meninos da Rua Paulo"
Em "A guerra dos botões", meninos de aldeias rivais, qual torcidas organizadas, vivem de planejar e executar enfrentamentos ferozes na zona limítrofe entre as regiões de Longeverne e Velrans. Cada escaramuça revela a inteligência dos líderes, a bravura dos pequenos, o senso de honra de vencedores e vencidos. O título se deve ao fato de que um perdedor pode voltar com a roupa arrebentada para casa, sofrendo terríveis castigos. Assim, instituem maneiras de acumular botões, presilhas e agulhas com que consertar os estragos da guerra e driblar as surras domésticas.
Esta é uma obra francesa e - como fiquei sabendo - lida até hoje no Ensino Médio daquele país, um clássico. Desde a capa ao título, me levou ao universo de outro clássico, húngaro desta vez: "Os meninos da Rua Paulo". De fato, os dois livros são quase simultâneos, separados por 5 anos de diferença, o primeiro é de 1912 e o segundo de 1907.
O autor francês avisa que sua obra é satírica, inspirada em Rabelais e não direcionada para garotinhos e garotinhas. Isso é muito verdade, porque as crianças do livro são sempre duramente castigadas por adultos extremamente ciosos de uma moral e bons costumes, que não possuem ou que sempre infringiram. A gente aprende a amar a bravura e a inteligência de Lebrac e La Crique, talvez o meu favorito. A gente sofre com a crueldade dos adultos, revolta-se com a hipocrisia, mas também se diverte com a malandragem dos pequenos.
Dei quatro estrelinhas para "A guerra dos botões" e cinco para "Os meninos da Rua Paulo" justamente porque o húngaro tem uma veia menos cáustica e quando emociona, nos leva às lágrimas de verdade. Ainda assim, amei a ironia de Pergaud e só fiquei preocupada com a sobrevivência de sua obra em um mundo que vem reescrevendo os livros no politicamente correto.
Eu não mudaria uma vírgula, mas faria "A guerra dos botões 2".