Israel145 07/09/2012Uma das obras mais importantes do autor, RECORDAÇÕES DA CASA DOS MORTOS traz o personagem narrador Alexander Petrovich, condenado a cumprir pena por trabalhos forçados na Sibéria face ao assassinato de sua própria esposa.
O livro na verdade é uma versão romanceada do período em que o próprio Dostoiévski viveu na prisão, onde se viu envolvido com um levante chamado “Decembrista” que tinha o objetivo nada mais nada menos que derrubar o Czar Nicolau I, apesar do envolvimento do jovem Dostoiévski ser meramente intelectual e não ter nada de revolucionário.
Na obra, o autor envereda pela análise da relação entre as autoridades, os presos e o ambiente prisional, fazendo um vasto apanhado de situações vividas por ele e por outros no confinamento. Logo no princípio, o termo “Casa dos mortos” passa a ganhar sentido devido a condição a que os prisioneiros são submetidos. Dostoiévski, nos 10 capítulos do livro, aborda as primeiras impressões de Alexander, o relacionamento entre as castas na própria prisão (Alexander é um nobre) e o melhor: uma vasta sequência de histórias absurdas, profundas, traumáticas e horrendas tanto da sua própria vida, como da vida dos detentos ou do que ocorreu quando estavam em liberdade. Essas histórias dão ao livro um toque especial por passar a sensação de ler mini-contos dentro do romance.
A partir dessa história, o autor analisa o lado mais sombrio da alma humana, seja ela a alma do carrasco que aplica uma pena de 1000 chibatadas ou um facínora que matou a própria esposa, colocando-os numa mesma balança porém vendo-os sob perspectivas bem diferentes.
A edição da Nova Alexandria é primorosa. Foi traduzida direto do Russo por Nicolau Peticov, além de capa dura, papel Pólen Soft, fonte e espaçamento no tamanho adequado. Traz ainda como extra uma carta de Dostoiévski destinada ao irmão Mikhail, datada da época do fim do cumprimento da pena, onde o autor foi forçado a cumprir 1 ano de serviço militar obrigatório. Nessa carta, o autor implora ao irmão por dinheiro, conta um pouco sobre a vida na prisão, faz planos para a publicação de seus livros e em toda a carta, é comovente ver Dostoiévski implorar para que o irmão mande livros, sendo que em quase todos os parágrafos ele faz esse pedido alegando os mesmos serem a sua razão de existir.
RECORDAÇÕES DA CASA DOS MORTOS talvez seja um grande divisor de águas na obra de Dostoiévski, pois é muito provável que se não fosse essa experiência vivida na prisão, o autor não tivesse se tornado um dos maiores, se não o maior escritor russo de todos os tempos.