R...... 09/01/2015
Gostei muito da obra e, para meus registros, preservo algumas descobertas referenciais sobre o livro.
Marco Polo iniciou suas viagens em companhia do pai e tio aos 17 anos, percorrendo o mundo oriental em cerca de duas décadas na condição de mercador e embaixador de Kublai-Khan, líder supremo do Império Mongol e neto de Gengis-Khan.
A obra foi escrita por Rusticello através do relato de Marco Polo na prisão, após seu retorno (quando encarcerados por conta de guerra entre Gênova e Veneza, cidade do mercador), apresentando textos com a descrição de vários povos, com suas tradições, riquezas, religiosidade, histórias peculiares e descrições geográficas. Essa é a razão de ser conhecida como "Il Millione" (O Milhão), uma referência ao exagero, pois as histórias pareceram fantasiosas para muitos ouvintes ou leitores.
Historicamente se tornou o principal e mais conhecido relato sobre o Oriente na época de fechamento da Rota da Seda´por mais de um século, pouco tempo depois das viagens dos Polos, que perdurou até a época das grandes navegações. Foi a inspiração a navegantes e aventureiros.
Encontramos muitas coisas curiosas e peculiares, com um ineditismo de informações inovadoras ou fantásticas para o mundo ocidental.
Algumas histórias que me chamaram a atenção foram: a referência a túmulos de personagens bíblicos (Adão, Tomé, os reis magos e a Arca de Noé), cercando-se isso de muitas superstições; a descrição de um milagre em Bagdá do mover de uma montanha pela fé (história 21); a descrição de um tal óleo que jorrava da fonte (o petróleo); de seres fantásticos como o unicórnio (o rinoceronte) e morcegos gigantes, de uma tal fruta do paraíso (a banana); de costumes diversos, como a antropofagia em alguns povos (ai de quem fosse bonito ou tivesse muitas qualidades em algumas ilhas indianas), dos filhos se atirarem na pira de incineração do pai (exceto o mais velho), do hábito das mulheres de buscarem outro marido caso o atual se ausentasse por mais de 20 dias; de leões encontrados por toda a Ásia; da cidade que vivia na escuridão; dos costumes idólatras e outras muitas coisas.
Desses relatos, os que mais chamaram minha atenção foram: a história Aigiarne (história 175), moça que poderia se encaixar nas descrições heroicas apreciadas pelos helenos, pois não tinha guerreiro ou atleta que a derrotasse em qualquer disputa e ela era uma exímia guerreira em combate. Diz-se que só se casaria caso fosse derrotada e os relatos não lhe imputam nenhuma derrota, assim, foi uma das maiores atletas e guerreiras da história (eita! penso que ela deixava no bagaço esse Anderson Silva ou Jon Jones de hoje, pois até os tártaros, que passavam até 10 dias sem comer nas guerras, chupando sangue de cavalo e que foram lendários arqueiros, não a derrotaram no individual. Só divagações, malucos devaneios...).
A outra história que me chamou a atenção foi sobre o velho da montanha e seu paraíso em Milicie (história 30), que nos faz refletir sobre uma ideologia que ainda é usada e faz a cabeça de muitos em maus propósitos. Veja só! O homem construiu um jardim, com toda sorte de beleza que podia, nas concepções de um paraíso crido, com bebidas e mulheres. Vez em quando embebedava e sequestrava jovens para o tal paraíso e, quando tinha um objetivo de poder, como a morte de um inimigo, embebedava um desses jovens e colocava-o fora, sendo anunciado que voltaria ao paraíso caso cumprisse a missão, que poderia até ser suicida. Os jovens cumpriam com ânimos acirrados pois, se sobrevivessem, voltariam ao paraíso, e se morressem iriam também ao paraíso nestes conformes. Me diz agora se isso não soa familiar hoje! Durante a leitura coincidentemente houve um atentado terrorista na França e, na execução miserável disso, há pessoas com essa mesma crença, mesmo conhecendo toda sorte de interesses escusos, que nem aqueles jovens de quase dez séculos atrás.
Enfim, é um livro fantástico que tem seu lugar entre os principais na história.