Lina DC 17/10/2015Belíssimo!A história é narrada em terceira pessoa e como a sinopse explica, é dividida em dois tempos.
Somos levados para Carvalhos, uma cidade de Minas Gerais no ano de 2013 para conhecer Jean, um jovem francês que veio com os pais para o Brasil aos cinco anos de idade. Jean está visitando o amigo Alaor e sua família, a mãe Jamilah, o pai Munir e a irmã Samira.
Passar uns dias na cidade, conhecer alguns locais paradisíacos e se divertir um pouco antes de procurar um emprego. Esse é o plano de Jean. Mas tudo muda quando ele conhece Karina, a amiga de Samira.
Sabe quando encontramos alguém e temos a nítida impressão de que existem borboletas no nosso estômago? Foi assim que os dois se sentiram. A aproximação dos dois é inevitável e Karina torna-se a guia de Jean.
Como ele é francês, seu interesse é aguçado em conhecer o Distrito Francês da cidade, que data da época da mineração do Brasil, em meados de 1700. E é lá que Karina mora com sua avó. Na biblioteca da casa, eles encontram um misterioso diário, chamado de Mon Journal e escrito pelo patriarca da família Dubois.
A história dessa família é contada a partir de 1720, onde Rogê e sua esposa Nicole, decidem ir para Minas Gerais, para tentar enriquecer com o ouro da mineração.
E assim conhecemos a história da índia Iraci, seu marido português Borba e sua filha Yara. O leitor acompanha a dificuldade encontrada pela família, o acolhimento gentil de Borba e sua família e amizade que nasce entre Yara e o jovem Adrien. Essa mistura de cores, nacionalidades e costumes descreve perfeitamente o nosso Brasil.
Acontece que conforme Jean e Karina mergulham nesse diário, começam a notar alguns eventos estranhos ao seu redor, realizados por um ser desconhecido...
Os dois começam cada vez mais a se envolver tanto um com o outro quanto com a história de Yara e Adrien e vão acabar descobrindo uma triste verdade.
A trama é bem desenvolvida e traz duas histórias ligadas não apenas pelo sobrenatural, mas também pelo amor.
O autor Daniel de Carvalho demonstra uma grande sensibilidade ao compor essa obra. A forma como ele romantiza os personagens e seus sentimentos é espetacular. Ele é cauteloso nas descrições do envolvimento físico, mas destaca os sentimentos. A troca de olhares, os corações acelerados, o nervosismo ao encontrar a pessoa amada. São situações que não vemos com tanta frequência nas obras atuais e que despertam o lado romântico do leitor.
Os personagens são carismáticos. Desde os secundários da história de Carvalho, como Alaor e Samira, que brincam e provocam os amigos enamorados, quanto aos secundários da história de Adrien e Yara, como Piatã e Ayubu. A diversidade cultural mostrada no livro e o modo como todos tentam "encaixar-se" nos costumes um dos outros é bonito de se ler.
Como uma parte da história se passa em meados de 1700, a linguagem muda um pouquinho também. Não há a concordância formal com a qual estamos acostumados e em alguns momentos temos a impressão de que a frase está incorreta. Porém, tal iniciativa do autor gera um maior realismo aos diálogos.
Em relação à revisão, diagramação e layout, a editora realizou um ótimo trabalho. Foram encontrados dois erros de digitação e grafia, mas nada que interferisse na compreensão do texto. Existem alguns detalhes internos no livro que enriquecem ainda mais a obra. A capa combina perfeitamente com o conteúdo e é muito bonita.
O Francês é uma história de amor atemporal, que comprova que as almas gêmeas esperam o tempo necessário para se reencontrarem.
"...E se você não existisse
Diga-me por quem eu existiria?
Estranhas adormecidas em meus braços
Que eu não amaria jamais..." (p.114)