spoiler visualizarMarcus Oliver 30/08/2023
Um futuro com ferramentas familiares a nós hoje
Havia colocado esse livro na seção de distopias que vinha lendo, mas, apesar de haver elementos que configuram uma distopia, o livro é da área do cyberpunk. Essa é apenas uma curiosidade simples que talvez interesse a alguém.
O livro é o primeiro a trazer o termo e limites do que poderá ser o metaverso um dia em que teremos a possibilidade de trazer parte do mundo real para o virtual de maneira ainda mais funcional, como escritórios, locais de reuniões, eventos culturais e acesso a informações deixa de ser algo bidimensional em telas de computadores e celulares e se torna uma realidade própria e perceptível pelos nervos ópticos. Não se propõe uma matrix, mas a internet ser um mundo próprio em que se pode andar, ter um avatar, uma residência, escritórios e conhecer pessoas: um simulacro do real. Uma potencialização do que é a internet, porém ainda mais imersiva.
O mundo se tornou um local realmente distópico, não há mais nações, há franquias que controlam regiões dentro dos limites das próprias cidades e estados, sendo disputas comerciais e brigas entre milícias particulares e contratadas que determinam o quanto a influência de uma ou outra franquia cresce. Os EUA controlam só parte do que um dia foi o seu território e, mesmo assim, perdeu a maior parte do seu poder, fronteiras e influência num conflito passado e a ascensão das franquias.
Acompanhamos Hiro Protagonist, o maior espadachim do mundo e hacker freelancer, um jovem parte afro-americano e parte asiático que investigará um novo vírus que vem assolando a Rua (Metaverso).
Durante as investigações de Hiro o leitor encontra uma conexão coma história da Suméria antiga e o mundo que ele vive, o perigo da mistura de religião/ideologia e política e o valor da informação correta.
Hiro é o protagonista que nos levará ao metaverso e nas investigações por informações em bibliotecas e códigos virtuais e localidades do mundo real, sendo ele a ponte entre o metaverso e a realidade.
Ao lado de Hiro, está Y. T., uma kourier, que sangra os asfaltos com seu skate gravitacional. Uma adolescente bem mais nova que Hiro que embrenhará pelos aspectos mais políticos envolvendo as franquias e os modos como elas operam e fidelizam seus membros e a população por sua guarda. Enquanto Hiro tenta ser racional e cauteloso, Y. T. é quem move a história com a ação e informações na realidade e sendo a responsável por explorar localidades neste mundo ficcional.
Será na perspectiva narrativa desses dois personagens que o leitor encontra tecnologias futurísticas, relações do meio ambiente, o perigo da doutrinação cega e as interações do virtual e o real.
Não coloquei uma boa nota ao livro por uma questão de ritmo, o livro prolonga muitas cenas e as repete tempos depois do futuro, isso acabou por me deixar ansioso pelo fim e bem entediado porque eu tinha entendido a relação que o autor fez entre um fato do passado e o futuro.
Outro detalhe era a constante fixação com a importância dos hackers e programadores para a sociedade como um todo - o que na época poderia fazer bastante sentido, mas, hoje, em que programadores têm perigo de perder parte de suas funções e importância para IAs e automações perde um pouco a força.
Na capa do meu livro há um adesivo escrito: o clássico que inventou o Metaverso. Isso meio que criou uma expectativa da história girar em torno disso, mas é apenas um adendo e um enfeite, que tem sua função na narrativa; mas não é o cerne dela, rendendo um pouco de frustração.
Por fim, é um problema de todos os livros que mexem com o futuro, o futuro de Snow Crash é mais familiar do que encanta para nós hoje, na época, creio que o impacto seria maior. Então não chega a ser um defeito, apenas um aviso para não esperar um futuro muito diferente e que explodirá a mente; entretanto isso demonstra a genialidade do autor de imaginar ferramentas e usos do virtual que hoje se tornaram realidade em partes.