Claire Scorzi 12/06/2016
Sertão, Vingança, Amor Impossível... e a Ação das Mulheres
A feitura delicada de Afrânio Peixoto para as figuras femininas eu já conhecia de "Maria Bonita". Li críticos desfazendo dos seus perfis de mulher, mas eram críticos homens, e eu sou mulher - então, sim, acho que são perfis bem realizados no esforço do autor de combinar coragem moral com recato e reserva, as características exigidas das mulheres de respeito da época em que foi escrito o romance - 1929.
Mas, há também essa coragem - em Maria Bonita, em Sinhazinha (a jovem Clemência), em D. Emília - uma coragem que lhes mostra, mais rápido do que aos homens, onde está a justiça e onde começa o desvario. Sendo mulheres, numa sociedade patriarcal, há de ser preciso mais do que doçura e mansidão para fazer o que é certo; há de existir um pouco de audácia também, misturada à coragem. Uma audácia sutil, de mulher...
Ao fim, para que a vingança não triunfe, nem tampouco o caminho para o ódio, as mulheres decidirão o que é certo; com astúcia, nesse ambiente de violências. Disfarçadamente. Porque se trata de um mundo de homens.
Afrânio Peixoto conseguiu contar sua história de amor - aliás, entremeada de outras, narradas aqui e ali por outros personagens, histórias dentro da história - combinando ternura e paixão física. A ternura, que D.H. Lawrence nunca conseguiu mesclar na sua valorização da paixão física; e esta, aqui, no romance de Peixoto, como um valor positivo que nada mais é do que o coroamento do amor verdadeiro.
Um bom romance para ser lido no dia dos namorados.