R...... 11/01/2017
É o terceiro que li da série "Memórias de sangue", de Ivan Jaf, caracterizada por vampirismo e história do Brasil. A coleção tem uma disposição cuidadosa do autor em inserir suas personagens em cenário realista, mostrando costumes e cotidiano de época, reforçando a valorização histórica com notas explicativas paralelas ao texto.
Interessante que essa caracterização sobrepujou as personagens no livro e é o que instiga a leitura. A história em si não seduz. Além de não tornar real, poeticamente falando, o que o título do livro insinua, nenhuma personagem tem qualquer carisma atrativo. É a história real, os fragmentos da realidade de outrora, que vão abraçando o leitor em um convite para descobertas e curiosidades (pelo menos foi assim comigo).
Quer ver como a caracterização histórica engole tudo? Basta perceber que as personagens refletem a ambientação de época.
A história fala da vinda de vampiros para o Brasil (ainda que o Clemente seja o protagonista) em um momento em que estavam em guerra com outros grupos da Espanha e França (a vinda ocorreu na fuga de D. João para o país quando pressionado por Napoleão).
A corte estabelecida confiscou vários bens, como as melhores residências, por sua força e imposição (semelhante à vampirada que acredita ser dona de todos os "pescocinhos", abusando deles quando queira).
A tal paixão do vampiro não excede à um fascínio por uma bela jovem (Fátima), a quem não deseja vampirizar, mas também não deixa de ser para ela um famigerado sanguessuga (oras, o país era como uma mocinha abusada pelo imperialismo português, que só queria sugar-lhe até a última gota).
No meio da trama aparece um rapazote inglês de nome Peter, ganhador do coração de Fátima e futuro esposo, despertando a raiva de Clemente, que tentou trocar de corpo com ele e ficou um tempo "humanizado" (o episódio revelou-lhe as dificuldades dos meros mortais, como a chamadas "às necessidades", cansaço, desgaste, incômodos ambientais e por aí, tipo as queixas da nobreza portuguesa na adaptação à terra,).
Poderia estabelecer outros paralelos, mas me cansei dessa brincadeira (como, no final das contas, também ficou o Clemente, que tratou de voltar para a boa e velha "terrinha", que nem a corte do D, João).
Alguns fatos extras para meus registros foram as passagens do vampiro Domingos (personagem em outro livro da série) e do major Vidigal (aquele do "Sargento de Milícias...", que vivia atrás do Leonardo Pataca).
Já disse, a história em si é ruim, fraca e sem carisma, de um vampiro mequetrefe. O episódio mais dramático (a exposição de Clemente ao sol) não emociona. Não curti. O que salva o livro é o contexto (se o leitor gostar de descobertas e história).