Tamirez | @resenhandosonhos 27/09/2016Perdão MortalDevo confessar que o que me fez ter interesse por ler esse livro foi o nome dado a essa trilogia, “O Clã das Freiras Assassinas“, e que bela surpresa foi ter conhecido a história de Robin LaFevers. Como fã de fantasia sempre gosto de desbravar novos universos e tenho uma queda também por tramas que tem um certo background histórico.
Em Perdão Mortal a autora cria uma trama fantástica alinhavando ela com um contexto histórico bem detalhado e toda uma trama política medieval dos anos 1400. Isso, aliado ao fato de que os personagens parecem bem concisos, fazem com que a história seja bem desenvolvida. Uma das birras que tenho é sempre quando vejo o romance ter mais destaque do que o contexto da história e coisas importantes, como o background mágico e político ser deixado de lado para dar voz a esses outros aspectos e, certamente, não é o que acontece aqui.
“Ele me deu vida, e tudo o que eu precisava fazer para servi-Lo era viver. Intensamente, e com todo meu coração. Com essa descoberta, veio uma compreensão completa de todos os dons que Ele havia me concedido.”
Há sim romance no livro, mas ele em momento algum toma o protagonismo na história. Aliás, aconteceu algo bem interessante aqui. Ao invés da mocinha perder completamente a noção de tudo por amor e fazer altas idiotices, é exatamente esse sentimento que faz com que ela questione algumas ordens duvidosas que lhe são dadas.
Ela deve muito ao convento e passou por um extenso treinamento onde aceitou o fato de ser uma serva de seu pai, esse Santo da Morte. Ela acredita, assim como todas as meninas do convento, que ele marca as pessoas e passa sua vontade para a abadessa através de uma vidente. Uma ordem então é dada a elas e devem matar aqueles que possuírem a marca, podendo eliminar também quem não tiver, caso se faça necessário ou a marca se manifeste sem o prévio aviso.
Porém, tudo nessa história é misterioso e fica a dúvida no ar por vezes sobre as motivações de cada um na história. São os sentimentos de Ismae que fazem com que ela comece a questionar um pouco disso também. Ela não fica cega ao que lhe é dito, ela procura suas próprias verdades e vai além do que foi ensinada, surpreendendo o leitor por não apresentar um perfil mais típico.
E, mesmo sendo forte, ela tem suas falhas. A principal delas é o fato de lidar com os homens e ser sedutora para alcançar seus objetivos. Ela sabe flertar, isso também foi algo lhe ensinado, mas toda a bagagem que ela traz de coisas que lhe aconteceram através de mãos masculinas não passa despercebida e esse é um aspecto doloroso ainda pra ela. E esse aspecto acaba gerando vários momentos divertidos no livro, principalmente quando ela interage com aquele de quem ela “deve ser amante” na corte.
Tudo isso que mencionei ajuda a personagem principal a ir se achando na história e na própria pele ao longo do livro. Primeiro ela foi rejeitada e oprimida, depois mal tratada. Foi acolhida e a ela apresentada uma verdade que ela tomou pra si, mas no fim do dia, o que ela precisava mesmo era descobrir o mundo com seus olhos sem todo esse peso. E é isso que aos poucos ela vai fazendo. As conclusões que ela chega ao fim do livro são excepcionais e o leitor fica orgulhoso da jornada de Ismae e do quanto ela amadureceu da jovem que se viu “livre” dos fardos pela primeira vez, e excitada para sua primeira missão, porém ainda um pouco cega do mundo ao seu redor. Ela evoluiu ao longo do livro, de forma sutil e acompanhamos isso acontecendo, assim quando percebemos isso, a constatação vem de forma natural.
“Era isso o que eu queria ser. Um instrumento de misericórdia, não de vingança.”
Esse livro me gerou dois sentimentos. O primeiro é que ele era bem diferente de outras coisas que eu já tinha lido, enquanto o segundo é que várias coisas acabam por mostrar semelhanças com outras coisas que já li. Faz sentindo? Não sei. Ismae, por exemplo, me lembrou a Celaena de Trono de Vidro, mas além do fato de elas serem treinadas pra matar, tudo entre elas é diferente. Sardothien é muito segura de si, veste muito bem a sua pele, enquanto Ismae tem suas inseguranças e, como mencionei, não tem a sedução como sua arma preferida.
O par dela por sua vez me lembrou o personagem masculino de A Rebelde do Deserto, mas também apenas com uma ou outra semelhança. Nunca uma cópia ou algo que me incomodasse na leitura, acho que até ao contrário. Eu estava gostando bastante da história e ter essas pequenas lembranças de personagens de outros livros que eu também adoro, foi uma sensação bacana.
Pelo que compreendi, cada um dos livros vai trazer o ponto de vista de uma das meninas treinadas no convento. Além de Ismae, a qual acompanhamos a história de perto, ela fez duas grandes amigas durante o seu treinamento e elas também são importantes para a história, mesmo estando bem distantes da narrativa nesse livro. Portanto, imagino que acompanhar elas será algo interessante, já que cada uma delas tem algum elemento ou mistério que intriga e cativa também o leitor, mesmo em suas breves aparições.
O fato de eu ter gostado bastante da protagonista e dos outros personagens secundários, aliado ao fato de o livro desenvolver muito bem a política e se preocupar em tirar um tempo especial para desenvolver essa trama, que é a parte central da história, fez com que essa série já virasse uma queridinha pra mim e com toda a certeza vou querer continuar lendo.
A escrita de LaFevers não é a mais fluída, mas acredito que se alinhe bem com o contexto denso da trama, não sendo cansativo, por mais que demorado. A capa, apesar de ter um rosto, não me incomodou e gostei bastante do acabamento do livro. O mesmo estilo vai se repetir nos demais livros da série, o que é sempre positivo.
Portanto, se você assim como eu é um fã de fantasia, fica aqui uma dica super bacana. O Clã das Freiras Assassinas traz um nome intrigante e uma história muito bem desenvolvida que, ao mesmo tempo em que dá um nó ao final, também deixa várias pontas soltas para dar continuidade a história e, não vejo a hora de descobrir o que virá em seguida.
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