Henrique Fendrich 20/06/2018
De um livro destinado ao conto russo, é de se esperar que Tchékhov brilhe mais do que nunca. No entanto, não é o que acontece nessa seleção, já que o conto dele ("A obra de arte") foi mal escolhido, não porque seja ruim, mas porque fica apagado diante da dimensão de outros contos (inclusive em questão de números de páginas). Também havia contos muito melhores do Górki do que "Ruivo". Acho que esses dois, grandes contistas, saíram perdendo nessa seleção.
Os grandes vencedores, para mim, são Garshin, com o incrível "Quatro dias", e Andreiev com o originalíssimo "A conversão do diabo". Naturalmente, também se sobressai o indefectível e essencial "O capote", do Gógol. O do Tolstoi, "Deus vê a verdade, mas espera" também é bonzinho. Há ainda dois contos que aparecem em quase todas as coletâneas russas, "O turbilhão de neve" (também chamado de "Nevasca") de Puchkín e "O fatalista", de Lermontov. Todos esses são os melhores momentos do livro.
Há, entretanto, páginas das mais aborrecidas, como o conto de Korolenko (O sonho de Macar) e principalmente o de Bunin ("O Cavalheiro de São Francisco), que é uma das coisas mais enfadonhas que já li na vida. Houve também uma nítida queda na qualidade dos contistas após 1917.