Diana 30/05/2020O desfecho da história de Nathan foi uma grande decepção. Após o final eletrizante de Half Wild, fiquei sedenta pela continuação a fim de descobrir como aquela situação entre os personagens principais iria se resolver. Quando a descontinuação da série foi anunciada pela Editora Intrínseca eu e muitos leitores, imagino, ficamos indignados com a notícia. Recentemente tive a oportunidade de ler o último livro e consegui compreender o porquê da decisão da Intrínseca, e, em minha opinião pós-leitura, decidiram acertadamente quanto a não-publicação.
Por uma série de escolhas infelizes da autora, tudo que podia dar errado deu e só me resta lamentar pelas horas de leitura perdidas.
Para quem (ainda) tiver interesse na leitura, a linguagem é de fácil compreensão, pois o inglês utilizado é bem simples, pelo menos foi interessante para praticar o idioma. Então, um leitor com inglês intermediário conseguirá compreender a história sem maiores complicações.
*CONTÉM SPOILERS A PARTIR DAQUI*
O livro tem 1001 problemas, não sei nem como começar.
A estória começa alguns meses após a morte de Marcus. Nathan se encontra em profundo luto e a Aliança tenta se reerguer. Então, ele basicamente passa o livro matando caçadores, procurando Annalise para se vingar e, graças a sua amargura trata Gabriel e todos os outros que nem lixo.
Nesse livro ele foi consumido pela necessidade de matar e vingar-se de todos, o que acabou construindo uma direção ao final. Quando este finalmente chegou foi uma serie de cenas rápidas de ação e violência sem sentido.
Aparentemente Annalise é um fantasma nessa história toda porque todo mundo fala dela toda hora, mas ela praticamente não aparece no livro, e, quando aparece, sua participação é insignificante.
A questão da invencibilidade de Nathan também é questionável para mim. Eu já vi esse enredo antes, em Percy Jackson, e foi construído muito bem. A minha impressão foi que a autora decidiu que utilizar o recurso Deus ex machina seria a solução mais prática para solucionar as tramas do livro. Afinal a Aliança inteira dependia dos poderes e habilidades de Nathan para vencer a guerra, ninguém ali era relevante ou poderoso o suficiente para fazer a diferença. Esse cenário para mim é surreal, pois sabe-se que nenhuma guerra de verdade é vencida com um homem só.
A aparição do “blue” também não foi um recurso interessante, foi iniciado em um ponto muito tardio do livro (faltando menos de 100 páginas para acabar) e utilizado apenas em um capítulo. Ao invadir o Conselho, Nathan tinha a missão de matar (sozinho, diga-se de passagem) seus líderes, então a autora inventou o “blue” para dificultar o confronto entre Nathan e Soul (que eu já sabia como ia ser terminado afinal Nathan era invencível mesmo).
O que mais me incomodou nesse livro foi a quantidade absurda de mortes sem sentido, mal explicadas e off screem. Ellen, que tinha sido uma personagem importante no primeiro livro e uma das poucas amigas de Nathan, morreu off screem após o BB e ninguém nem ligou. Van que era uma personagem fundamental, nesse livro só serviu para dizer a Nathan juntar o medalhão e procurar Ledger. Depois ela foi completamente descartada pela autora que nem se dignou descrever a cena da morte dela, que gerou uma única consequência (que não alterou em nada o curso da história) - a saída de Nesbit da Aliança.
Agora, todos os limites foram ultrapassados quando a autora decidiu matar Gabriel pelo simples prazer de matar e escancarar a infelicidade de Nathan. Veja bem, eu não me incomodo com as escolhas dos autores em manter ou não personagens, e livros excelentes, como A guerra dos tronos, são escritos com matança. A questão toda é o que essas mortes representam.
A morte de Gabriel gerou um luto tão profundo em Nathan que ele simplesmente decidiu se transformar em árvore e permanecer pelo resto da sua existência guardando o túmulo de seu amado. Primeiramente, em momento algum foi mencionado que Nathan conseguia se transformar em algo que não fosse animal, apenas no momento de maior conveniência tal fato foi exposto. Acho que a autora pensou que seria um desfecho poético ou algo do gênero, mas em seus devaneios acabou romantizando o suicídio, algo que nos dias de hoje deve ser terminantemente evitado.
Em segundo lugar, a história de Nathan sempre foi de tristeza e superação. Ele não teve uma infância feliz e sua adolescência foi marcada pelo trauma da separação de sua família e pelas torturas praticadas por Célia. Então ele passou a série toda lutando contra os seus demônios e traumas para no final de tudo decidir cessar sua vida humana porque não podia viver sem Gabriel. Quantos adolescentes hoje em dia têm esse mesmo desejo? Quantas pessoas passam por problemas insuperáveis e decidem por fim a sua vida? Quantas pessoas sofrem com depressão cotidianamente? Isso tudo deveria ter sido pensado pela autora ao concluir a trilogia.
Outro ponto que agrava a situação é matar os dois protagonistas LGBT+, enquanto os demais personagens héteros continuam a viver suas vidas. Os adolescentes LGBT+ não tem o privilégio da representatividade, a maioria dos livros é escrita para pessoas heteronormativas. Então quando a pouquíssima representação existente acaba em tragédia, eles não podem escolher outro livro na estante para encontrar seu final feliz.
A decisão que a autora tomou é gravíssima. Machuca direta e indiretamente milhares de pessoas que lutam diariamente para viver, não só sobreviver.
Eu fiquei muito triste com isso, pois gostei bastante dos outros dois livros quando era adolescente. Eu não queria necessariamente um final feliz, queria um final bem fundamentado. Então eu não recomendo a leitura. Se você leu os outros livros é melhor deixar as coisas como estão para não se decepcionar. Espero que essa resenha tenha sido útil para alguém! Quem leu e quer abrir uma discussão é só comentar aqui embaixo ou mandar mensagem!