Para você não se perder no bairro

Para você não se perder no bairro Patrick Modiano




Resenhas - Para Você Não Se Perder No Bairro


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Kamila 23/03/2017

Para Você Não se Perder no Bairro nos apresenta o escritor parisiense Jean Daragane, que está na solidão de sua casa, quando recebe uma ligação. Do outro lado da linha, um desconhecido afirma ter encontrado a caderneta de endereços de Jean. O homem insiste em querer devolvê-la pessoalmente ao autor, mas ele reluta muito antes de aceitar.

Quando finalmente se encontraram, Jean percebe que são duas as pessoas que encontraram a caderneta - um casal. Mas, o encontro tinha segundas intenções, pois o rapaz queria que Jean desse o paradeiro de um certo Guy Torstel. Mas Jean, já velho, não tem a menor ideia de quem diabos é esse Guy. Depois de muito puxar na memória, Jean se lembra que esse Guy Torstel foi citado em seu primeiro livro.

E esse Guy Torstel também consta na bendita caderneta de endereços, mas, a caderneta é tão antiga que o número do Guy têm sete dígitos e na França atual, os números de telefone têm dez dígitos. Depois de muito procurar, Jean descobre que o senhor Torstel era amigo de um certo Jacques Perrín... e de sua mãe. E depois surge um novo nome: Annie Astrand.

Indo a fundo em suas investigações, ele vai parar numa casa na cidadezinha de Saint-Leu-la-Fôret. Puxando demais na memória, ele se recorda que passou certos momentos de sua infância nessa casa. E nessa casa, ele se lembrou que Annie Astrand, Guy Torstel, Jacques Perrín e sua mãe a frequentaram também. Enquanto isso, ele quer distância das pessoas que encontraram sua caderneta.

Como eu disse lá em cima, o livro é super curto, tem só 144 páginas, mas é muito bem escrito, oscilando entre um Jean criança e um Jean velho, com suas preocupações e um final um tanto improvável. Por ser a primeira obra que leio do francês, até que as impressões foram boas, apesar de ter dormido duas vezes enquanto lia, a atenção durante a leitura é máxima, pois a passagem de tempo é sutil.

O título do livro é bem condizente com a obra, mas o motivo só é relevado nas páginas derradeiras. Leitura recomendada para pessoas mais velhas, jovens como eu podem se enfadar com as passagens de tempo e os devaneios do Daragane. Percorrendo a escrita do autor, ele mereceu demais o Nobel. Pretendo ler mais de Modiano, para entender melhor sua maneira de escrever. E parabéns à Rocco pela capa super bacana, com um mapa de Paris.

site: http://resenhaeoutrascoisas.blogspot.com.br/2017/03/resenha-para-voce-nao-se-perder-no.html
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Michely Looz 09/11/2016

Resenha Crítica: Para você não se perder pelo bairro
O que se passa é o seguinte: como criticar negativamente um livro cujo autor tem um Nobel no bolso da jaqueta? Sim, é complicado, geralmente não nos achamos preparados para tal. No entanto, a melhor forma de fazê-lo é pontuando as características que o fizeram desgostar do processo de leitura. Com Patrick Modiano foi bastante interessante. Venho de uma série de leituras descompromissadas, sem aquela afeição toda. Descobri o autor por meio de um romancinho francês que, apesar de bom, não era extraordinário. Mas sou fascinada por esse ar melancolico de Paris e pensei, se curti esse livro posso ler outro parecido. Triste pensamento.
Talvez porque, de fato, não costumamos saber qual o primeiro passo para conhecer as obras de um escritor. O que fiz neste caso foi procurar conhecê-lo superficialmente, e acabei por me atrair por “Uma rua de Roma”. Numa tentativa frustrada de encontrar o livro na web para ler no Kindle, acabei escolhendo outro material do mesmo autor: “Para você não se perder pelo bairro”. Continuava empolgada e mesmo assim o que vinha a seguir era um misto de tédio com a percepção de algumas carências na produção do livro que me estimularam a uma chateação descomensurada.
Na trama de “Para você não se perder pelo bairro”, o autor traz como personagem principal Jean Daragane, um homem que vive em um apartamento em Paris e que, por já não ser tão jovem, assume características de quem já não tem paciência para muito alvoroço. Uma agenda telefônica perdida o une a um casal um tanto peculiar e que fica tempo suficiente na história para causar contratempos. Gilles Ottolini e Chantal Grippay surgem por tempo tão curto que chega a perder sentido, são personagens facilmente descartáveis. As tantas experiências vividas por Daragane durante a história poderiam ter nascido de um simples passeio ao parque. A estada dos dois personagens termina tão rápido quanto surgiu, o que soa bastante sem sentido. Além do que os dois não contribuem em nada para a trama de fato.
Os flashbacks ao longo do livro também não fisgam o leitor como deveriam e Daragane não se mostrou um personagem atraente aos olhos de quem lê. Me lembrei em certo ponto de um Saramago que li, o personagem de Ensaio sobre a Cegueira parece ter a mesma idade de Daragane mas suas características eram cativantes. Esta é uma infeliz comparação mas que me serviu como reflexão, pois que permaneço acreditando que um personagem não tão jovem pode sim (!) ser atraente e trazer uma bagagem interessante para a leitura.
Dois bons pontos de imersão na história, foram: a ambientação inicial e a parte em que comenta sobre o leprosário durante conversa com dr. Voustraat, um personagem que surge em momento já adiantado do livro. Os devaneios temporais do livro foram se fundindo na mente a ponto de confundir a leitura. Fora isso, foram 144 páginas de puro tédio e nenhuma atração por nenhum dos personagens da história. Infelizmente. Já que sempre bate a tristeza e desejo de que o tempo perdido com a leitura tenha algum retorno positivo.
Por fim, assumi o seguinte posicionamento. Farei, em breve, uma nova tentativa e desta vez com “Uma rua de Roma” para sanar a curiosidade e descobrir se minha primeira experiência não foi interessante ou, de fato, não me identifiquei com o autor. Vamos as estrelinhas: 2/5. Dizem por aí que não se deve perder tempo com leituras ruins. Mas como saber sem experimentá-las?!
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HigorM 01/10/2016

Sobre nossas ações refletidas na vida alheia
Modiano tinha um livro pronto quando foi feito o anúncio do Nobel de 2014, o que veio em boa hora – para a editora e a poupança recém-cheia do autor. Logo todos queriam, além do magnum opus, Dora Bruder, ler o mais recente livro dele.

Trata-se então de ‘Para você não se perder no bairro’, que, sinceramente, não tem nada de novo para quem já leu ao menos um livro do autor, mas que pode, sim, ser uma boa pedida para quem quer se aventurar pela primeira vez.

O plot é o mesmo de todos os outros: um homem, no caso, o escritor Jean Daragane, se vê voltando ao passado, a lugares que não visitava na própria mente, mas que marcaram sua vida de maneira indescritível. O que causa esse transtorno, no entanto, é o que causa estranhamento de início, já que poderia vir a não dar tão certo assim: uma caderneta de endereços. Em tempos dos mais diversos aplicativos, é raro de se anotar endereços ou telefones em agendas, e me preocupou durante todo o livro. Em vão.

A história vai mais além, e quando somos lançados nos costumeiros passeios (de todos os livros) do personagem em busca de si mesmo, temos uma espécie de válvula de escape ao ver que o assunto batido é tratado com frescor: a importância de nossas ações. O que fazemos é refletida na vida de quem a gente nem imagina, indiretamente. Talvez a gente queira beneficiar alguém que amamos, mas, sem perceber, estamos impedindo que alguém desconhecido se beneficie, quando era ele a ser o felizardo, originalmente.

São coisas pequenas, meros detalhes, como empregar alguém conhecido, mesmo que um entrevistado seja melhor, e precise mais. A ‘indicação’ certamente vai trazer caos para a vida desta pessoa desconhecida, como mais dificuldades em encontrar outro emprego. Enfim, exemplo um tanto tosco, mas é interessante pensar que somos fantoches quando se trata de conduzir nossa vida, mas, mesmo inconscientemente, somos a mão por trás da cortina quando se trata de condução da vida alheia.

Por fim, as últimas páginas são angustiantes e assustadoras, sentimentos que ganham pontos – ou perdem, dependendo do leitor, mas que marcam e fazem com que se leia com a mão na boca.

Uma nota: quem leu ‘Remissão da pena’ com seu angustiante final, vai entender que, talvez o escritor Jean Daragane, seja, na verdade, o escritor Jean Patrick Modiano, e que ‘Para você não se perder no bairro’ seja apenas mais um livro do autor em que o leitor se perde entre o que pode ser ficção e biográfico. Não importa, o final é desolador.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Pateta 12/08/2016

PERDIDO NO BAIRRO
É muito frustrante quando não consigo apreciar o livro de um escritor mundialmente consagrado. O autor desta história ganhou o Nobel de Literatura. É o primeiro livro seu que li e penei para chegar ao final, apesar de ter apenas 142 páginas. Obviamente, me faltou inteligência para compreender a temática ou sensibilidade para saborear o estilo as duas coisas. Vou tentar novamente na próxima encarnação. Isso, é claro, se eu não me perder no caminho.
Michely Looz 02/11/2016minha estante
Padeço de mesmo mal, está complicado. Tem tudo para ser fascinante mas não me pegou. ?


Pateta 08/11/2016minha estante
Ah, que bom que não fiquei sozinho nessa! Já estava me sentindo meio mal por não ter me empolgado com a narrativa.


Mara.Sousa 13/04/2018minha estante
Também acabei de ler na marra, nada acontece, que tédio...Ou seja, assim como você, acho que num intindi nada rs rs rs




Gui_Margutti 02/08/2016

Abstrato, Intrigante, Confuso e Delicioso.
PARA VOCÊ NÃO SE PERDER NO BAIRRO, é um romance do Francês,‪ ‎Patrick Modiano‬, publicado em 2014; mesmo ano em que o autor recebeu o‪ ‎Prêmio Nobel‬ de Literatura.
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O livro foi produzido no Brasil pela ‪#‎EditoraRocco‬. Um livro compacto e com uma diagramação bem legal. 👌👍
Apesar de curto, (144paginas), eu confesso que precisei reler alguma coisa para sentir que eu realmente havia compreendido o texto.
A ‪#‎leitura‬ não é difícil ou massante; é fluida e a narração bem sedutora. Mas, traz um quê de abstrato e íntimo, que às vezes, me colocava dúvidas sobre o que o narrador estava dizendo ou sobre o que realmente havia lido, anteriormente.
Narrado em terceira pessoa e, aparentemente, passeando pelo ‪#‎surrealismo‬, esse livro requer muita atenção. Em alguns momentos, tive dificuldade de compreender a qual período o narrador se referia, já que o livro faz referência a três momentos da vida do protagonista.
A história trata da jornada íntima de um homem em busca da sua real identidade. Li Vários ‪#‎livros‬ esse ano, com temática parecida; homens em busca de seu "eu" mais íntimo.
Porém, ‪#‎ParaNaoSePerderNoBairro‬ tem algo de muito diferente.
Na ‪#‎França‬, o neologismo “‪#‎modianesco‬” já é de uso comum. Mas, só é possível entender o termo lendo Modiano.
A ‪#‎editora‬ diz, em seu site, que “significa designar uma personagem ou uma situação em claro-escuro, nem lógica nem absurda, no meio do caminho entre dois mundos, entre a luz e a sombra. ”
O livro começou logo com um mistério que parecia ser o tema central.No entanto, esse início foi apenas um ‪#‎start‬ para uma busca intima e delicada.
O ‪#‎protagonista‬ é Jean Daragane, um ‪#‎escritor‬ sexagenário, que vive uma rotina solitária e, aparentemente, sem a mínima vontade de que seus dias sejam de alguma forma alterados, por qualquer contato com outras pessoas.
Apesar disso, Daragane tem sua rotina interrompida, de maneira indigesta, quando um homem telefona avisando que encontrou sua agenda telefônica, perdida há algum tempo.
Para livrar-se, logo, do homem, insistente em devolvê-la, o escritor aceita um encontro em um café. Lá, um casal, aparentemente estranho, diz estar investigando um crime pós guerra que envolveria um certo nome, Guy Torstel.
Guy Torstel seria um nome que constava na velha caderneta perdida e também num livro publicado por Jean Daragane, quando ele tinha por volta de seus 20 anos.
Inicialmente, o velho escritor, não tem a menor ideia de quem seja essa pessoa e por que aquele nome consta em sua obra ou agenda. Mas, essas menções dão incio a uma grande jornada, por recordações de seus tempos de menino.
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Modiano deixa claro que a memória muitas vezes pode ser real, criada e até mesmo apagada. Porém, ao longo da vida, temos dificuldade de compreender em que ponto, nossas memórias realmente aconteceram ou são pura imaginação. Para elucidar tal ponto, ele escolhe a epígrafe: “não posso apresentar a realidade dos fatos, mas apenas sua sombra”, de Stendhal.

Outro fator interessante da vulnerabilidade da vida humana é que as coisas podem mudar a qualquer momento. Às quatro horas da tarde de um dia quente, qualquer, em ‪#‎Paris‬, ou em qualquer lugar; tudo pode mudar.
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O texto sedutor, e com frases curtas, evitam que o livro fique enfadonho ou cansativo. A atmosfera de tensão e meio que sombria é fantástica. Paralelamente a isso, de plus, há a menção à geografia dos subúrbios e das pequenas cidades francesas.💘🗼
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Modiano faz com que tudo se integre lindamente, uma espécie de mistura perfeita, de maneira que é impossível largar o livro. 👏👏👏😍📚
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😉👍👌📚💘
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‪#‎blogsdelivros‬

site: http://www.historiasdeumacoffeelover.com.br/2016/08/para-voce-nao-se-perder-no-bairro.html
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Renata (@renatac.arruda) 23/06/2016

"Diferente dos outros três livros relançados pela editora Rocco, este é o que se pode chamar de mais convencional do autor - mais direto e menos contemplativo que os demais, consegue prender a atenção do leitor em sua trama do início ao fim, porém, em se tratando de um livro de Modiano, o leitor não deve esperar por uma história policial convencional: não vai haver explicações didáticas sobre a verdade por trás dos acontecimentos e suas motivações, não vai haver pistas, mocinhos, bandidos e grandes revelações; o que há aqui é, mais uma vez, uma trilha seguindo o caminho das memórias e das lembranças, de forma quase onírica, em que Modiano está mais preocupado em adentrar e tatear o que se passa dentro da mente da sua personagem, revelando a maneira que ela percebe os fatos, do que em contar uma história com início, meio e fim."

Resenha completa no Prosa Espontânea: http://prosaespontanea.blogspot.com.br/2016/06/para-voce-nao-se-perder-no-bairro.html
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Claudio 31/05/2016

Quando a epígrafe sintetiza o cerne do livro
"Não posso oferecer a realidade dos fatos, mas apenas a sua sombra" - Stendhal

É exatamente isso que Patrick Modiano oferece em "Para você não se perder no bairro". Uma linda viagem na zona obscura entre a realidade e o surrealismo. Quando Jean Daragane, um autor sexagenário e solitário, tem sua cardeneta de contatos localizada é levado a ajudar em uma suposta invetigação de um crime ocorrido na década de 50. Durante essa investigação, Daragane confronta lembranças tortuosas da sua infância e também do início da sua vida adulta, muitas das quais ele propositadamente não confrontava, a ponto de esquece-las por completo.

"Para você não se perder no bairro" é uma estória sobre a jornada de um homem pela reconciliação consigo mesmo por meio da revisão do seu passado.

Um livro muito bem escrito, daqueles que a gente não consegue lagar antes de acabar, que flui no rítmo das lembranças, sem compromisso com a linearidade temporal (assim como é o pensamento) e, acima de tudo, um livro questionador onde as respostas variam ao gosto do leitor.

Mais do que recomendo! Indico sem medo aos meus melhores amigos!
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phendragon 04/02/2016

QUE PAPEL UM ESTRANHO PODE DESEMPENHAR NA SUA VIDA?
A proposta de Patrick Modiano é bem interessante. Ele conta a história de Jean Daragane, um homem de meia idade e escritor. Um dia, um estranho encontra sua agenda de telefones e então através de um encontro e contatos posteriores, esse estranho lhe faz lembrar de eventos que a muito ele havia esquecido.

Durante a leitura, desse texto absolutamente fluido, surge a pergunta principal do livro: "Por que pessoas que você nem imaginava existirem, com quem cruzou uma vez e nunca mais irá rever, cumprem, nos bastidores, um papel tão importante na sua vida?"

Eu parei pra analisar isso e constatei que realmente essa é uma questão que não levamos em conta nas nossas vidas. Continuei a leitura, ávido por uma resposta que veio pouco tempo depois: "Acabamos sempre por esquecer os detalhes incômodos ou muito dolorosos de nossas vidas. Este esquecimento nem sempre é voluntário..."

Não é uma resposta fácil de compreender, é preciso que você navegue profundamente dentro de seu próprio ser em busca da compreensão. Por isso o livro foi o ganhador do prêmio nobel de literatura de 2014. Leva o leitor ao fundo de si mesmo... enquanto faz a mesma passagem com o personagem. Incrível!! Profundo!!! Perfeito!!!

Agradeço a todos por seguirem minhas resenhas e aproveitem para retornarem depois que lerem a série ou livro, pois gostaria muito de debater com todos vocês sobre suas opiniões. Abraços!

MARCOS GRAMINHA é leitor viciado em terror e vampiros. Conta com um acervo de mais de 1500 livros sobre esses assunto. Proprietário de um sebo na cidade de Vila Velha, dedica sua vida a desvendar os mistérios desses "filhos da noite".
contato: marcos.graminha@gmail.com

site: http://www.lerparadivertir.com/2015/11/para-voce-nao-se-perder-no-bairro.html
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Jacqueline 06/12/2015

Do porque é necessário se perder no bairro ou Do porque escrevemos sempre para alguém
A epígrafe do livro - "Não posso oferecer a realidade dos fatos, mas apenas a sua sombra" (Stendhal) - anuncia seu tema. Stendhal reafirma (de forma bastante peculiar) o que tantos outros escritores e filósofos já haviam dito. Verdade irrefutável, não porque sempre contamos os fatos sob a nossa perspectiva ou com os óculos do nosso sistema de crenças ou ideologia, mas porque estamos sempre condenados ao esquecimento, que é, contraditoriamente, o que nos liberta.
A história é narrada em três tempos diferentes que se entrelaçam: o presente narrado, em que encontramos um protagonista sexagenário, tempos e fatos de sua infância e de sua juventude, nesse caso, mais precisamente, 15 anos depois de um acontecimento marcante de sua infância. Em cada uma das etapas da vida do escritor Jean Daragane - que se inicia na carreira com a escrita de um romance que teve como intenção maior encontrar uma pessoa da qual desconhecia o paradeiro atual (genial!) - , temos acessos a relatos de fatos que se desenvolvem e apresentam desfechos parciais, que só quando entrelaçados no final do romance permitem que o quebra-cabeça se monte.
A narrativa apresenta uma fluidez marcante (daqueles livros que, se bobear, a gente lê no mesmo dia) e, desde as primeiras linhas, somos arrebatados para dentro da história e aceitamos sem resistência o convite para desvendarmos o mistério disparado por uma caderneta de telefone encontrada/roubada (?) – mote aparente – e os fatos dolorosos da infância do protagonista - mote latente do romance.
Ainda que a ausência de esclarecimentos do mote aparente possa ser lido como um indicador dessa sua condição de disparador de algo mais intenso e relevante, não deixa de parecer uma ponta solta na história ou talvez seja minha voracidade leitora que preguiçosamente tenha preferido saber mais ao invés de imaginar.
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Nina.Draper 05/12/2016minha estante
Publicada no Blog DEZ COISAS QUE AMEI EM VOCÊ


"Pela arte da memória com a qual evocou os destinos humanos mais inatingíveis e descobriu o mundo da vida da ocupação"
(o que motivou o Prêmio Nobel)
Breve sinopse: Mais recente romance do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2014, Patrick Modiano, Para você não se perder no bairro é a saga íntima de um homem em busca da sua identidade. Curto, elegante e hipnótico, como a maioria das obras do autor, o romance conta a história de Jean Daragane, um escritor veterano cuja rotina solitária é alterada após receber a ligação de um desconhecido que alega querer devolver a ele uma caderneta de endereços e telefones. A partir do inusitado encontro num café de Paris, Modiano conduz o leitor por uma investigação detetivesca que desenterra fantasmas do passado, levando a história a um de seus temas preferidos: o período da ocupação da França pelos nazistas durante a Segunda Guerra.
1. Patrick Modiano ( se pronuncia Modianô, não se esqueçam, ele é francês ?) é um escritor pouquissimo conhecido no Brasil ( incluindo, admito, eu mesma não o conhecia, até que fiz uma pesquisa de títulos que mereceriam a minha atenção). Durante o último meio século Patrick Modiano construiu um legado literário em sua França natal. Não foi até ele receber o Prêmio Nobel de Literatura, que mereceu ser traduzido e publicado no país.
2. Para você não se perder no bairro é a primeira publicação de Modiano desde que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2014. Traduzido em vinte e cinco idiomas, permite aos leitores se familiarizarem com o estilo assombroso que é a assinatura de Modiano.
3. Para você não se perder no bairro é um livro curto, constitúido por frases curtas que lida com um tema importante em sua obra, a memória e a identidade. A investigação sobre a memória lhe valeu comparações com Marcel Proust, porém a ficção de Modiano tem uma situação mais imediata que leva ao escrutínio, a uma questão a ser respondida. Em seu livro, nada é preto ou branco, tudo é passível de adquirir um tom cinzento, enquanto trabalha com mistérios como metáforas. Assim, Para você não se perder no bairro, por exemplo, abre com uma situação quintessencialmente pós-moderna: Jean Daragane, um romancista envelhecido e isolado, recebe um telefonema tarde da noite de um homem que diz ter encontrado o livro de endereços do escritor. Modiano, porém, interpreta o enredo de forma mais realista, mas isso não significa que os enigmas sejam menos complexos
4. Como definir este livro? Impossível, Modiano é a atmosfera, é Paris, é a passagem do tempo, estas são as memórias que desaparecem, são as personagens que são esquecidas, é melancolia, também é nostalgia, estes são os lugares para sempre enterrados, enquanto Paris é uma entidade sólida, para não se perder ...
5. O romance é cheio de miragens e espelhos que distorcem os contornos da realidade visível o tempo todo. Chamem-no um lamento para a inevitabilidade da mudança que apaga todos os marcos a um lugar que nos ancora a um self passado. Chame-o de thriller psicológico, um falso noir no qual as pessoas se materializam do nada para servir de pistas para levar o protagonista sem alegria a uma verdade terrível demais para ele compreender tudo de uma vez. Mas um fio habilmente girado transcende os limites impostos de qualquer rótulo com facilidade e graça surpreendente.

6. O mundo do protagonista, o autor Jean Daragane, é povoado por fantasmas - indivíduos fantasmagóricos que pairam sobre sua realidade para levá-lo a lugares e pessoas que ele esqueceu e, com toda a probabilidade, não quer se lembrar, o espectro de palavras auto-escritas que escapam à sua memória. Fantasmas do passado turbulento de uma cidade que se intromete na neutralidade do presente, fantasma daqueles anos repulsivos da Ocupação que não se afastam apesar dos seus melhores esforços. E esses monstros fantasmas proliferam na parte de trás de sua mente para distorcer seu senso de tempo, criando uma dissonância rígida entre a realidade e a memória que marcam um novo sentido de deslocamento. De certa forma, ele parece um espírito vagabundo, alienado dos rituais de trabalho, amor, relacionamentos. Mas essa placidez enganosa da superfície de sua consciência é perturbada por um telefonema de surpresa que põe em movimento uma cadeia de reuniões fatídicas e coincidências ridículas que eventualmente lhe permitem encontrar um caminho de volta ao seu passado, uma viagem que ele empreende com uma relutância considerável e uma trepidação disfarçada.
7. Como um verdadeiro mestre da arte, Modiano só menciona a guerra de passagem, inserindo sutilmente sinalizadores de estradas que apontam para as marcas ineficazes de danos em uma Paris que, por vezes, aparece como uma fantasia da imaginação de Daragane. Focar qualquer momento para reaparecer em uma imitação pálida de um avatar anterior irreconhecível. Mas a memória da guerra persiste na desolação da Rua da Arcada e da avenida dos Champs-Élysées testemunhando o fluxo do tempo como uma sentinela desanimada nas perambulações inquietas de Daragane através do pátio do Louvre e do ar de outono carregado de névoa de Rua do Ermitage. Uma amnésia se instala quando as correntes do tempo reduzem gradualmente os lembretes tangíveis de um acontecimento trágico em formas desconhecidas, mas a realidade esquecida nunca é a realidade apagada.

?... E, no entanto, agora se perguntava se não tinha sonhado essa jornada, que tinha ocorrido há mais de quarenta anos.?
8. A Paris de Daragane está ligada inextricavelmente ao passado, assim como ele se vê colidindo com a visão de uma criança abandonada e esquecida, navegando pelos recantos e rincões desconhecidos de um bairro desconhecido, talvez, dolorida e aliviada em igual medida por finalmente se lembrar do que ele era tão atento ao esquecimento.
9. O livro é rápido, é curto e uma delícia de ser lido. Quando me dei conta já tinha lido a primeira metade do livro. É arrepiante, é livro para ser lido de uma sentada só.
10. Este magistral romance, penetra nos mais profundos enigmas da identidade e nos obriga a perguntar se algum dia saberemos quem realmente somos.




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