Toni 03/11/2020
The argonauts [2015]
Maggie Nelson (EUA, 1973-)
Grazwolf, 2015, 150 p. 📖
Procurar uma categoria onde “The argonauts” pudesse se enquadrar seria possivelmente o gesto mais desatencioso com sua leitura. É mais fácil, talvez, dizer o que o livro não é, a começar, por ex., com a ausência de qualquer fio narrativo que conduza uma história. Tampouco caberia confortavelmente no gênero biográfico, ainda que seja essencialmente memória; autoficção também não satisfaz, mesmo com tanto “eu autoral” a criação ficcional não é ponto de partida nem de chegada. Prosa anfíbia e sem limites, rejeita dicotomias para enfrentar o dogmatismo das "verdades universais" via rebuliço epistemológico de um punhado de arquétipos. 📖
O aspecto aforístico-episódico da prosa de Nelson mistura, portanto, teoria e memória, sexualidade e crítica, para dar conta de uma miríade de assuntos—da transição de seu parceiro à gravidez e maternidade, da construção social de papéis de gênero à manutenção crítico-filosófica de mindsets deficitários (para não dizer ortodoxos). É um livro delicioso de ler, afiado e divertido, mas que exige um ouvinte que deseje conversa e alimento pro juízo, muito mais que uma história de acalento ou desassossego. Seu horizonte simbólico e intelectual, vibrante de amor, linguagem e *queerness*, mantém leitoras e leitores livres para vagar pelas páginas e explorar, no ritmo que lhes aprouver, ideias sobre arte, corpo, estética, liberdade, coragem, poesia, humor, cultura, alteridade e solidão.
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“I know now that a studied evasiveness has its own limitations, its own ways of inhibiting certain forms of happiness and pleasure. The pleasure of abiding. The pleasure of insistence, of persistence. The pleasure of obligation, the pleasure of dependency. The pleasure of ordinary devotion. The pleasure of recognizing that one may have to undergo the same realizations, write the same notes in the margin, return to the same themes in one’s work, relearn the same emotional truths, write the same book over and over again—not because one is stupid or obstinate or incapable of change, but because such revisitations constitute a life" (p. 12).