Rhuan Maciel 13/11/2020
A experiência socialista mais caricata e demonizada
Como normalmente ouvimos da mídia e do senso comum, a Coreia do Norte é um regime ditatorial, stalinista, sanguinário e vil com seus cidadãos. Por causa dessa caricatura infundada nas nossas crenças, desde sempre demonizamos esse país, e, principalmente, não tentamos entender sua história sem as lentes "americanizadas" e "midiáticas". Portanto, essa leitura é imprescindível a todos que desejam desassociar-se das visões orientalistas, preconceituosas e mentirosas sobre a Coreia Popular. Para ter uma noção, até o nome do país é rotulado diferente do nome autoimposto pelos norte-coreanos. Desse modo, "desamericanizando" um pouco, a República Democrática Popular da Coreia nasceu em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial., finalmente conseguindo se livrar das forças japonesas que determinavam a Coreia como sua colônia. Esse período de colonização foi extremamente brutal com o povo coreano, por isso desenvolveu-se um sentimento anti-japonês e anti-colonial. Assim, as guerrilhas comunistas (fortemente influenciadas pela experiência soviética), lutavam contra a opressão japonesa na península. Com a ajuda de soldados soviéticos e soldados chineses, a Coreia Popular, sob liderança de Kim Il Sung, conseguiu sua independência política e econômica, por meio de muita luta pela autodeterminação nacional. Em 1949, a China faz sua revolução comunista, e torna-se, junto com a URSS, os principais aliados desse "novo" país. Logo mais, as forças americanas, que adentraram o sul, atacavam a revolução popular, o que acabou desencadeando a Guerra das Coreias. No sul, Estados Unidos e Coreia do Sul, no norte, Coreia Popular, URSS e uma ajuda da China. Nesse sentido, já é possível perceber a tensão geopolítica e o conflito de interesses entre potências mundiais ao redor da península. E essa posição. levou o interesse de todos pela influência exercida no local. A filosofia de Kim Il Sung não foi nos moldes clássicos das teorias marxistas, ele e o Partido do Trabalho da Coreia desenvolveram um socialismo diferente, o socialismo Zuche, que defendia a autodeterminação e a autossuficiência nacional, portanto as classes foram trocadas pela nação, é um alto valor nacionalista surgiu, juntamente com a experiência da colonização japonesa, a qual nem permitia o registro de nomes coreanos e o uso do idioma nativo. Essa filosofia adotada, nos permite entender mais o porque do país ser tão fechado internacionalmente. A Guerra da Coreia, as intervenções americanas e a colonização japonesa são fatores de extrema importância que devem ser considerados ao analisar a conjuntura política e econômica do país. Após a morte de Stálin, a política exterior de barganha norte-coreana foi fortemente prejudicada, pois a China e a URSS começaram a conflitar-se, e o regime kruschevista fez uma crítica forte ao personalismo do período stalinista. E isso era extremamente relevante para a RPDC, pois seu sistema de governo, altamente influenciado por um neoconfucionismo, tinha caráter de apelo e respeito ao líder, a figura de Kim Il Sung era reverenciada por todos. Por esses motivos, houve um pequeno afastamento com os soviéticos, o que acabou rapidamente com uma tática de barganha com os dois países socialistas conflituosos. A China não queria que a URSS possuísse mais influência na península coreana do que ela, e os soviéticos também tinham essa pensamento inverso. Então, Kim Il Sung se aproveitou bastante do conflito das duas potências. E o socialismo Zuche levou a uma tentativa poderosa de ser autossuficiente. O poderio nuclear começou a ser desenvolvido (com a ajuda da URSS e China), a industrialização, a agricultura e o exército foram os focos da economia. Por ser um país montanhoso, apenas 16% das terras são possíveis para o plantio, o que dificultava intensamente o plano de alimentação para todos norte-coreanos. Após longos anos de conflitos com Coreia do Sul, EUA e Japão, acontece a queda na União Soviética, a morte de seu grande líder, Kim Il Sung, desastres naturais e o aproximamento sino-americano. Esses fatores levaram a RPDC a uma crise poderosa, e o regime de Kim Jong Il (filho de Sung), vê-se obrigado a ceder a empresas privadas sul-coreanas para manter a estabilidade político-administrativa. Nos anos 90, há um início de conversa com os EUA, que possuem o objetivo de desnuclearizar a Coreia Popular, alguns acordos são feitos, porém nem os americanos, nem os norte-coreanos colaboraram. No período de Bush (filho), há várias desavenças com as relações diplomáticas dos dois países. A China torna-se o único aliado do país, assim, os norte-coreanos tentam se aproximar do sul. A Rússia volta a negociar com o país pela importância posicional. No início dessa década, foi possível ver a troca de poder de Kim Jong Il, pelo seu filho Kim Jong Un, o qual parece e muito com seu avô, tem simpatia pelo povo e parece engajado nas pautas sociais e na resolução do melhor para o povo coreano. Mesmo com uma sociedade que parece ter superado as ideias socialistas, a Revolução Coreana continua em pé, e o povo norte-coreano tem muito orgulho e alegria pela resistência antiimperialista e antiamericana. O socialismo Zuche-Songun continua resistindo às garras da sociedade capitalista mundial. Não existe a possibilidade de um ataque à península, pois o país possui uma possibilidade de defesa muito grande, já que esse foi o foco da política Songun, "garantir a defesa nacional para poder investir em outros setores da economia". Os mercados privados são poucos, mas ainda persistem num estado de semilegalidade. As negociações exteriores avançam em alguns lados e pioram em outros, No fim, muita coisa importante ficou de fora, por isso é extremamente importante analisar a conjuntura política, econômica e social da Coreia do Norte com base na sua história, afim de entender as dinâmicas que perduram no país.