Dora 09/10/2022
Sabe como consideram Jane Austen a pioneira de diversos enredos literários que vemos até hoje, como o "enemies to lovers" em orgulho e preconceito? Então, acho que Joaquim Manuel de Macedo pode ser considerado nosso Jane Austen brasileiro, afinal em seu livro, considerado o primeiro romance brasileiro, Macedo apresenta paixões impossíveis, personagens misteriosos cuja identidade só se revela no final do romance, brincadeiras de estudantes despreocupados, além de situações equívocas e cômicas. Enfim, suas tramas se desenvolvem a partir de namoros e casamentos e são recheadas de mistérios, desencontros, fofocas, tal qual se encontram ainda hoje em livros e telenovelas.
O autor escreve pensando no gosto do leitor, procurando oferecer-lhe aquilo que ele quer ler, não se preocupando de promover o questionamento e a reflexão no leitor. São os assuntos que interessam às classes alta e média cultas e semi-cultas da capital e das províncias brasileiras que estão nos seus romances. Essa é outra razão do porque desse livro ser tão rápido de se ler e fácil de se entender. A linguagem muitas vezes é coloquial, é realmente o que chamariam de livro do "povo", uma leitura muito mais acessível do que Machado de Assis, por exemplo.
Em poucas palavras, podemos falar de um "romance de entretenimento" cuja função é divertir e fazer sonhar, permitindo ao leitor identificar nos livros não somente um modo de vida semelhante ao dele, mas ainda este mesmo modo de vida pintado com as cores da imaginação. Preocupado em fixar em seus escritos o modo de vida e os costumes da antiga capital da nação brasileira, criou uma obra que tem grande como documentário: nela vamos encontrar o cotidiano fluminense do Segundo Império, em seus mínimos detalhes, um retrato preciso desta época de nossa História. Uma bagagem cultural excelente também.
Mas não é porque ele tem significante importância histórica que devemos só o elogiar. O livro tem aquela diferente de idade bem desconfortável (para mim, pelo menos), característica de diversos clássicos, e também tem o terrível racismo. Mas acho importante também as obras refletirem elementos -mesmo que repugnantes- de costumes passados para assim aprendermos com os erros e não o cometermos novamente como sociedade.