spoiler visualizarsoufernanda 27/09/2023
Travessuras Românticas
E agora: duas palavrinhas sobre o livro ?
A Moreninha é, para mim, um livro bom.
Nada mais, nada menos.
Apesar de ter ouvido com frequência esses dias que "a complexidade importa mais que a novidade", não posso ignorar as palavras de alguns renomados críticos literários quando afirmam que todo bom autor deve ser capaz de surpreender até mesmo o mais experiente de seus leitores.
Não quero dizer com isso, é claro, que Joaquim Manoel Macedo não possuía essa habilidade, devemos considerar a possibilidade de que ele almejava tornar sua obra acessível a muitos leitores, como realmente o fez.
Mas o fato é que, desde a primeira vez que li A Moreninha, eu antecipei todas as reviravoltas da narrativa.
Parece frustrante (e realmente foi para o meu eu de 17 anos), mas agora reconheço ser a simplicidade do enredo um dos maiores méritos dessa obra, o que justifica sua grande popularidade na época em que foi publicado, e a consequente inserção da obra no cânone literário brasileiro.
Além disso, o autor escreve de maneira simples, apesar do uso um tanto quanto recorrente de expressões em francês e latim.
Pensando apenas sobre esses dois pontos, já é agora compreensível a insistência de muitos professores do ensino regular em indicar A moreninha para jovens que estão tendo contato com a literatura (nacional ou não) pela primeira vez.
E DIGO MAIS:
Não há pedofilia em A moreninha!
A diferença de idade entre o casal central do romance, Augusto e Carolina, é de 6-7 anos, o que abriu espaço para que muitos leitores contemporâneos problematizassem o envolvimento dos dois jovens.
Examinando com as lentes do século XXI, a notícia do casamento de uma adolescente de 14 anos com um homem mais velho será recebida de maneira negativa por grande parte da sociedade.
Mas há que se compreender que as noções que possuímos hoje de infância e adolescência não existiram sempre. Na Idade Média, as crianças eram vistas apenas como "adultos pequenos" e por isso compartilhavam as mesmas obrigações que outras pessoas (mais velhas).
As noções de adolescência são ainda mais recentes. Uma prova disso, literariamente falando, é a publicação do livro "O apanhador no campo de centeio", de J. D. Salinger, que revolucionou ao apresentar os dilemas de um adolescente e fez a sociedade (especialmente a estadunidense) finalmente reconhecer a existência de uma fase entre a infância e a vida adulta, além de se perguntar o que de fato é ser adolescente.
"O apanhador no campo de centeio" foi publicado em 1951... recente, não?
Enfim, dei toda essa volta apenas para dizer que, no momento em que foi escrita, a união destes dois jovens era perfeitamente normal. Dessa forma, podemos perceber o romantismo na obra ao observar a sensibilidade de Augusto em respeitar, e por vezes até acompanhar (quem não se lembra da cena das bonecas?) a fase de vida em que Carolina se encontra ?