Ivana M. 08/09/2024
Tocante
Os Miseráveis, de Victor Hugo, é uma obra monumental que transcende o tempo e as fronteiras, um épico literário que pulsa com a intensidade da alma humana. Ao mergulhar nas páginas deste clássico, somos levados a uma França do século XIX, onde o sofrimento, a opressão e a desigualdade social se entrelaçam com a busca desesperada por justiça, amor e redenção.
A jornada de Jean Valjean, ex-presidiário condenado por roubar um pão, é um retrato devastador da luta do homem contra um sistema brutal e implacável. Hugo constrói, através deste protagonista, um herói trágico, cuja transformação é uma das mais poderosas da literatura. De criminoso endurecido a benfeitor altruísta, Valjean é o símbolo da força redentora do perdão e do amor. Sua busca incessante por redenção nos comove profundamente, enquanto suas batalhas interiores espelham a luta universal pela dignidade e pela paz de espírito.
O antagonismo de Javert, o implacável inspetor de polícia que persegue Valjean por anos, traz à tona questões filosóficas e morais que ecoam até hoje. Javert não é apenas um homem de lei, mas a personificação de um sistema cego à misericórdia, preso à ideia intransigente de justiça. Sua obsessão por capturar Valjean, mesmo diante das evidências de sua transformação, é um grito por justiça que, no entanto, ignora a própria humanidade.
Em paralelo a essa batalha pessoal, Hugo pinta com maestria o cenário social da França pós-revolucionária, retratando com riqueza os miseráveis que dão nome à obra. Personagens como Fantine, uma mãe solteira lançada à miséria, e Cosette, a menina órfã cujos sonhos de uma vida melhor contrastam com a realidade cruel, são retratos vivos da pobreza e da marginalização. Cada uma dessas figuras carrega consigo o peso de uma sociedade que despreza seus vulneráveis, enquanto o autor nos desafia a refletir sobre o papel da compaixão e da justiça social.
Os Miseráveis não é apenas uma história sobre dor e sacrifício, mas também sobre esperança. A revolta dos jovens revolucionários nas barricadas, com sua coragem e idealismo, relembra que mesmo diante de adversidades aparentemente insuperáveis, o espírito humano nunca desiste de lutar por um futuro mais justo. A morte de personagens queridos, como Gavroche, uma criança nascida nas ruas, reforça a brutalidade do mundo, mas também nos relembra que, na tragédia, reside a força que move a história.
Victor Hugo escreve com uma paixão vibrante, dando vida a Paris e suas vielas, às montanhas de injustiça e às profundezas da alma humana. Ele nos faz sentir o peso da desigualdade social, a urgência da reforma, e a beleza esmagadora da redenção. No final, Os Miseráveis é um apelo para que nunca esqueçamos os invisíveis, os marginalizados, os miseráveis de nossa sociedade. Mais do que uma leitura, é uma experiência avassaladora que desafia, emociona e transforma o leitor, revelando as sombras e as luzes que habitam cada um de nós.
Este clássico permanece uma obra atemporal, um hino à resiliência e à compaixão, cujos temas ecoam com força nas questões sociais que ainda enfrentamos. É impossível sair ileso das páginas de Os Miseráveis – somos convidados a nos perguntar: até onde vai nossa capacidade de perdoar, amar e lutar por um mundo mais justo?