Annie 01/10/2011Seduzindo Mr. Bridgerton, por Ana Nonato.Resenha para A Vila dos Livros
Marília, 17 de Setembro de 2011. 23hrs.
Caro leitor,
Esta é a primeira vez que (que me recorde) escrevo uma resenha em forma de carta e em primeira pessoa. Não me entenda mal - não sou fria, me envolvo com as personagens tanto quanto você - mas tenho um apreço e estima muito grandes pelos mistérios das letras. Como o arranjo das palavras pode mudar um enredo, como uma vírgula me faz ofegar... Enfim. Esta explicação é a preliminar para o que vou dizer acerca deste livro - e para que também não estranhe esta "novidade".
Ou melhor, essas novidades. Além de escrever em primeira pessoa, também estou resenhando um romance de banca no blog. Isto, para mim, é uma verdadeira conquista, já que havia me fechado para eles há anos. Aquilo que não entendemos, que os mocinhos e mocinhas dos livros frequentemente fazem: dificultar o que é simples.
Não quero me enveredar em uma monótona discussão acerca de alguns conflitos pessoais (creio que esta não seja a sua intenção ao ler isto, leitor), então voltemos ao livro.
Julia Quinn atendeu o meu pedido antes mesmo de tê-lo feito. Um breve resumo acerca da história:
Penelope Featherington não era uma moça bonita. Quando foi apresentada à sociedade londrina, aos 16 anos, estava quase uma arroba acima do peso (o que facilitava os comentários maldosos e a impossibilidade de danças)... Os homens lhe fugiam. Até mesmo sua mãe a renegava, preocupada em casar as duas filhas mais velhas e, posteriormente, o prodígio da família, a pequena Felicity. Assim, Penelope era a quarta opção de sua mãe quanto ao mercado matrimonial - só apresentaria, com efeito, um homem a ela se ele não se enquadrasse às expectativas das primeiras filhas. Já dá para imaginar como era o espírito da Penelope, não é? Introspectiva, extremamente calada, o que não ajudava em nada sua já não atrativa fisionomia (para os maridos em potencial).
Colin Bridgerton era justamente o contrário de Penelope. Era extrovertido, brincalhão, um perfeito cavalheiro que sabia o que dizer e irresistivelmente bonito. Logo que se apresentara em sociedade, Colin era requisitado por muitas mulheres (tanto filhas apaixonadas quanto ardilosas mães casamenteiras). O fato de ele não passar muito tempo em Londres devido a viagens só lhe fazia aumentar o charme.
Personalidades bem diferentes, não é? É justamente por isso que eu tinha certeza de que eles eram o casal perfeito. O Colin poderia trazer alegria ao mundo de Penelope, e ela poderia trazer-lhe responsabilidades, criar laços...
O fato é que meio caminho já havia sido andado: Penélope era apaixonada por Colin.
O sexto dia de abril do ano de 1812 - exatamente dois dias antes de seu aniversário número dezesseis - Penelope Featherington apaixonara-se. Era, em poucas palavras, emocionante. O mundo tremeu. Seu coração saltou. O momento era impressionante. E, ela era capaz de dizer com um pouco de satisfação que, o homem em questão, um tal Colin Bridgerton, sentia-se exatamente do mesmo modo.
É claro que nem tudo são rosas como a nossa protagonista espera (embora a cena em que ela conhece o Colin seja muito hilária). Ele mal a nota, no máximo a vê como grande amiga de sua irmã, Eloise. Às vezes, os dois trocavam algumas palavras mais amistosas (com Penelope já sendo parte da família), mas nada mais que isto. Ela sofria... Embora fosse feliz consigo mesma, aquele amor unilateral ardendo-lhe no peito... Ilógico? Alguém alguma vez disse que o coração tem razões que a própria razão desconhece... Assim o é com Penelope.
Até que, um dia, ele a humilha.
Ela tinha ido à casa Bridgerton, como freqüentemente fazia, tomar o chá com Eloise e sua mãe e irmãs. Foi justo antes que o irmão de Eloise, Benedict, se tivesse casado com Sophie; só ele não sabia quem era ela realmente e isso não foi significante, exceto que foi o único grande segredo da década passada que lady Whistledown nunca pôde decifrar.De qualquer modo, Penelope estava caminhando pelo corredor dianteiro, escutando cair o som da água com o passar do azulejo de mármore quando ela se viu (um espelho). Ela ajustava sua capa e se preparava a caminhar a curta distância a seu lar (só à volta da esquina, realmente) quando ouviu vozes. Vozes masculinas. Vozes masculinas Bridgerton.Eram os três irmãos mais velhos Bridgerton: Anthony, Benedict, e Colin. Tinham uma daquelas conversas que os homens têm, do tipo na qual criticam muito e fazem brincadeiras um ao outro. Penelope sempre gostava de olhar aos Bridgertons interagirem desta forma; eles sim eram uma família.Penelope podia vê-los pela porta principal aberta, mas não podia ouvir o que diziam até que ela alcançou a soleira. E em um testemunho ao mal cálculo que a tinha incomodado durante toda sua vida, a primeira voz que ela ouviu foi a do Colin e as palavras não eram amáveis.
- ... E eu certamente não me vou casar com Penelope Featherington!
-Ah!- A palavra escorregou sobre seus lábios antes que ela pudesse pensar, seu grito perfurou o ar como um assobio desafinado.Os três homens Bridgerton se voltaram para olhá-la com idênticas expressões horrorizadas, e Penelope sabia que ela acabava de assinar o que seriam certamente os cinco minutos mais horríveis de sua vida.Ela não disse nada durante o que pareceu uma eternidade e depois, finalmente, com uma dignidade que nunca sonhou possuir, ela olhou diretamente ao Colin e disse:
- Nunca lhe pedi para casar-se comigo. -Suas faces foram de rosado a vermelho. Ele abriu sua boca, mas nenhum som saiu. Foi, Penelope pensou com satisfação sardônica, provavelmente o único momento em sua vida que ele ficou sem palavras.- E eu nunca - Ela tragou convulsivamente. - Nunca disse a ninguém que queria que você me pedisse isso.
Já pensou ouvir isto do homem que você mais ama no mundo? Muitas teriam chorado, saído correndo (eu pensaria nisto, confesso) ou até mesmo fingido uma indiferença que não possuíam. Mas Penelope não. Ela engoliu o orgulho, a humilhação e mostrou a mulher que era. Sem se sujeitar a um homem insensível que pudera dizer-lhe algo tão grosseiro, saindo altiva da discussão.
E mesmo assim a Penelope perdoou o Colin. Aliás, ela fez muito mais, caro leitor, o que eu não devo revelar. O que posso dizer é que o tempo passou...
E a Penelope virou uma solteirona de 28 anos. Não que ela se sentisse mal, pois tinha sua querida amiga Eloise e podia viver conforme quisesse, já que as chances de matrimônio eram nulas.
Colin e ela se tornaram amigos. Grande amigos, devo dizer, na última temporada em que ele esteve em Londres. É em meio a esta amizade que muitos - eu devo dizer muitos novamente - segredos, intrigas, mistérios serão apresentados e chocarão a sociedade...
E quanto aos nossos queridos personagens... Por que eles são tão especiais para mim a ponto de eu fazer uma concessão? Penelope tem um mar revolto embaixo daquela expressão de tranquilidade. É uma mulher como todas nós: tem seus medos, anseios, desejos e, principalmente, emoções transbordantes. Além disto, é uma excelente leitora e não desiste dos seus ideais, mesmo que para isso tenha de renunciar ao casamento. Sempre foi apaixonada pelo Colin e, quando achou certo, não teve medo de dizê-lo. Apenas o fez... Deixou sua personalidade pacata para se tornar a mulher que queria ser. O que é a aparência diante de tão fabuloso ser humano?
E o Colin... ele é o companheiro ideal. Um pouco rebelde e omisso, é fato, mas ainda sim extremamente carinhoso e bem humorado. É o tipo de homem que não se importa em provocar uma pessoa, seja ela homem ou mulher, com frases sarcásticas e insinuações, desde que a própria pessoa o permita. Colin poderia ser tudo menos descortês e mal-educado. Ele nunca tratou a Penelope mal. Mesmo quando era obrigado a dançar com ela, era um cavalheiro em todos os sentidos. Mesmo zangado, deixava que ela falasse, respeitava sua voz (e para uma mulher da sociedade desta época, esta era uma concessão memorável).
Aí vocês me dizem: o Colin é perfeito como os outros mocinhos...
E eu lhes digo que NÃO. O Colin vinha de família boa, mas não tinha muitas perspectivas. Portanto, não é o partidão rico que estamos acostumadas a ler (e que muitas vezes me entristece. Por que só homens ricos, por Deus! Que preconceito de classes é este?). E mais... Vocês irão descobrir que o mocinho é muuuuuuuuuuuuuuuuuuuito mais profundo do que aparenta. Tal como a Penelope, embora em assuntos diferentes...
E o que mais me deixou comovida com este livro: o que os une, de certo modo, é a literatura! É o gosto pela escrita e pela leitura. Não é o máximo?
A Penelope é uma mulher muito forte para os padrões da época, assim como o próprio Colin. Só tenho a dizer que, se eu nascesse naquela época, eu não poderia ser ninguém mais que Penelope Featherington.E o meu marido perfeito seria o Colin. É simplesmente o encaixe mais certeiro que já vi na vida!Mesmo que eles sejam fictícios, tenho certeza de que existiram...Sob outros nomes talvez. Mas nenhum amor desta magnitude só existe nos livros. É REAL demais para o ser.
Espero que tenha gostado, caro leitor. Eu me emocionei muito com a história dessa mocinha que, em frente a todas as dificuldades, soube escolher e respeitar seus sentimentos, mesmo que eles não tenham sido correspondidos por mais de 10 anos.
Um grande abraço.
Veja em: http://seismilenios.blogspot.com/2011/10/resenha-seduzindo-mr-bridgerton-julia.html