Maria1691 10/08/2022
O livro-reportagem Meninas da Noite, do jornalista e escritor, Gilberto Dimenstein fala sobre tráfico e aprisionamento de meninas escravas, descrevendo com detalhes a investigação que começou em julho de 1991. O jornalista levou aproximadamente sete meses para ter em mãos todo o material necessário, como fitas com gravações, fotos, documentos da polícia e entrevistas com testemunhas e vítimas do tráfico.
Ele descreve cada interação com as meninas e cada relato das mesmas, elas eram audaciosas e poderiam falar qualquer coisa que Dimenstein quisesse ouvir, ele relata também a forma como eram desrespeitadas e maltratadas, vivendo em situação de abandono, angústia e miséria.
Acredito que para explicar alguns relatos, Dimenstein tenta usar do mesmo linguajar ou ao menos deixar o leitor a par dos termos usados pelas meninas. De início ele se aproximava fazendo perguntas básicas, nome dos pais, onde nasceu, onde trabalhava, quais eram suas lembranças da infância e qual sua percepção da violência.
Eram mais de 500 mil meninas prostitutas e inúmeros os cativeiros criados em torno das zonas de garimpo, na selva onde quem tem mais armas e melhores pistoleiros ditava as regras.
Durante o livro, em diversas situações como por exemplo, quando uma das meninas implora por ajuda e para ser libertada, Dimenstein nos mostra seu lado sentimental e que diz que além de jornalista é um ser humano.
Meninas da noite, conta com relatos não apenas de vitimias da prostituição, escravas e testemunhas, conta com educadores de rua, padres, psicologas e membros de instituições que tentam auxiliar e remover crianças e mulheres que estivessem nessa situação precária. Um exemplo disso é Maria de Lurdes Araújo Barreto, que conduziu e introduziu Dimenstein na rota do tráfico de meninas e nos labirintos da prostituição infantil.
Ao decorrer da leitura, me pego pensando em quantos privilégios tenho em relação a realidade dessas crianças, é chocante descobrir que, o que elas carregavam de mais valioso naquela região, era a virgindade, e que possivelmente seria arrancada na marra ou na esperteza.
O autor explica com clareza como funciona a dívida das meninas, mas basicamente são obrigadas a fazer salão, vender o corpo para pagar pela passagem de ida até o garimpo, pela alimentação precária e pela sua estadia, ou seja, elas sequer viam a cor do dinheiro e quando se recusavam a trabalhar, eram trancafiadas no quarto sem direito a alimentação.
Considero esse, um dos livros mais interessantes e reveladores que já li e que para estudantes de comunicação é uma leitura essencial. Do início ao fim do livro, Dimenstein descreve todo o ambiente com diversos detalhes, o que nos situa dentro da história e nos leva até o local, apresentando uma realidade onde a população literalmente pagava pela segurança pública (que a propósito, é direito e dever do estado) onde a polícia, políticos instituições públicas estavam diretamente ligadas ao tráfico de pessoas, prostituição infantil e ao tráfico drogas.
Por fim, acredito que as fotografias de Paula Simas contribuíram ainda mais para a credibilidade do livro, com imagens que mostravam a promiscuidade do mundo onde diversas crianças viviam, e como a pobreza e a miséria tornavam essa realidade algo normal.