Mario Miranda 24/03/2020
Oresteia é a única Trilogia da Tragédia Grega que sobreviveu os 2.500 anos que separam a sua aparição até os dias atuais.
Agamemnon é a primeira obra que compõe a Oresteia, única trilogia das Tragédias Gregas que chegou até a atualidade.
Narra o destino de Agamemnon ao retornar após 10 anos de ausência em razão da Guerra de Tróia. Apesar de dar seu nome a Tragédia, o irmão de Menelau pouco aparece na obra, sendo sua esposa, Clitemnestra a real protagonista.
Agamemnon em busca de um contato com divino, imola sua filha Ifigênia, algo não perdoado por sua esposa, que remói a raiva pelo marido Ao longo dos anos. Distintamente as narrativas de Sófocles e Euripides, que focam a motivação de Clitemnestra na influência de seu amante, Egisto, aqui a assassina tem razões próprias para matar o seu marido.
A obra ocorre, temporalmente, entre a Ilíada e Odisseia, uma vez que o Arauto que precede o Rei não sabe sobre o paradeiro de Menelau, e o próprio rei desconhece o destino de Ulisses.
O fim de Agamemnon não é presenciado diretamente pelos espectadores, mas sim narrado pela profetiza Cassandra, personagem a quem Lícofron dedicou sua obra “Alexandra”.
Coéforas, segunda Tragédia da Oresteia, narra o desdobramento do assassinato de Agamemnom por sua esposa, Clitemnestra.
Com o rei já morto, e Egisto - amante da rainha - usurpando o trono, Electra - filha do falecido rei - vai ao seu túmulo suplicar por vingança. Lá depara-se com o retorno do seu irmão exilado - Orestes - que decide vingar a morte do seu pai.
A leitura de Coéforas nos permite um fato único na escaca literatura grega que chegou até nós: todos os três grandes escritores de tragédias gregas - Esquilo, Sófocles e Eurípides - escreveram uma peça para esta mesma cena. Logo, temos uma chance de analisar a história comparativamente.
Dos dois escritores posteriores, é a “Electra” de Sófocles a mais próxima da Tragédia Esquiliana. Em ambos temos uma narrativa com cenas semelhantes, além de um Orestes determinado ao duplo homicídio. Em Euripides temos um personagem incerto do seu futuro, receoso das consequências.
Ao contrário de Sófocles e Euripides, que narram as cenas internas ao Palácio e, consequentemente, o assassinato, de maneira distante, Ésquilo nos transporta diretamente ao epicentro da ação, tornando a Tragédia em si muito mais presente.
Concluindo a Oresteia, Eumenides é a obra que narra o desfecho de Orestes após assassinar a sua própria mãe, vingando o assassinato de seu pai, Agamemnon, por esta. Eumenides é a narrativa do julgamento de Orestes se ele é ou não um assassino passível de punição. Entretanto, não é apenas o Homem a ser aqui julgado: Apolo, responsável pelo oráculo que instigou Orestes a cometer o assassinato, é julgado diante de Atenas e de um Júri que votará pela aceitação ou não da culpabilidade de Homem/Deus.
Apesar de ser a menor das três obras, talvez a menos interessante do ponto de vista do desdobramento da narrativa, Eumenides possui impactos profundos, não apenas por retratar um julgamento (com direito a ampla defesa, contraditório e Júri), porém tratamos aqui de uma divindade a ser julgada: o Homem julgando Deus, em um cenário digno do Filósofo Nietzsche (que bebeu em diversos momentos desta fonte: a Tragédia Grega).