Kennia Santos | @LendoDePijamas 16/10/2018Mas quem quer abrir as janelas da alma, quando a vista está longe de ser espetacular?Título: Férias! (Rachel's Holiday)
Autora: Marian Keyes
Classificação: 3,75/5
A vida de Rachel Walsh sofre um solavanco quando ela, por livre e espontânea pressão, se interna no Claustro, uma clínica de reabilitação para dependentes. Aos 27 anos, ela não acredita que sua família, melhor amiga e seu namorado, Luke Costello, tenham concordado em enclausurá-la por 2 meses.
Mas ela tenta ver as coisas pelo lado positivo, afinal, clínicas de reabilitação são cheias de coisas de luxo como banheiras, hidromassagem e saunas. E de quebra, ela pode até mesmo encontrar uma celebridade por lá e ir para o mundo da fama, não é mesmo? Sem contar que, os últimos anos não tem sido exatamente um paraíso, e ela precisava mesmo de um período de férias.
"A vida não andava nada fácil nos últimos tempos. Pouco espaço por manobrar o carro, por assim dizer." (p.21)
Infelizmente, ao chegar no Claustro, ela percebe que as coisas não são nem de perto como ela imaginou que fosse. Homens de meia-idade usando suéteres ultrapassados, sessões terapêuticas em grupo que a tiram do sério, uma colega de quarto pra lá de neurótica que não sabe calar a boca....
E o pior de tudo é que persistem para que ela entre nesse esquema chato que envolve confissões e conselhos. Mas quem quer abrir as janelas da alma, quando a vista está longe de ser espetacular?
"Sempre detestei ouvir o que as pessoas pensavam de mim. Minha vida inteira fora uma tentativa de fazer com que as pessoas gostassem de mim, e era difícil ouvir a extensão do meu fracasso." (p.384)
Em "Férias!" Marian Keyes mais uma vez vem com toda sua paciência e delicadeza abordar transtornos que estão presentes em todo canto do mundo.
Rachel tem 27 anos e SEMPRE se sentiu insegura e deslocada em todos os aspectos da sua vida: família, relacionamento e ascensão profissional. Aos 12 anos já media quase 1,80m, sempre foi considerada a desajeitada e "sem graça".
"Mas é muito incômodo não levar nenhuma fé em si mesmo. Você apenas fica à deriva, esperando que outra pessoa lhe sirva de âncora." (p.415)
"É duro viver numa família em que todo mundo tem o seu favorito, e esse favorito nunca é você." (p.418)
Aos 15 anos, começou a se envolver com drogas, e desde então não parou mais. Porém nos últimos meses as coisas entraram numa decadência sem fim, e as pessoas mais próximas dela foram obrigadas a tomar uma atitude extrema quando ela teve overdose e quase morreu.
Não vou mentir, ela me irritou bastante com a negação constante e com os frequentes comentários maldosos que fazia à respeito de todos, até mesmo as pessoas que mais a amavam. É como se ela se recusasse a olhar para dentro de si mesma e admitir que a forma como passou a levar a vida é prejudicial e anormal.
O livro não foi uma leitura fluida, demorei bastante porque o simples pensamento de ter que aguentar a Rachel e seu comportamento me cansavam. As coisas começaram a andar depois da página 400, e mesmo conhecendo o estilo da Marian de ir devagar, achei devagar DEMAIS.
Depois teve toda a explicação do comportamento da Rachel e que isso eram efeitos da droga, pois ela usava para melhorar sua autoestima e quando surtia efeito, ele era DRÁSTICO.
Quando terminei o primeiro livro que li da Marian, "Tem alguém aí?" eu finalizei com a sensação de estar sendo abraçada pela autora. E pensei que nesse livro seria diferente porque muitas coisas simplesmente não progrediam. Mas mesmo aos 45 do segundo tempo, ela soube finalizar a história de forma satisfatória e extremamente gratificante.
Então sim, vou continuar lendo Marian Keyes, provavelmente terminarei a série das irmãs Walsh e talvez me arrisque com um ou outro livro paralelo. A questão da recomendação é uma questão delicada. Se você já leu e conhece o estilo da autora, ok, vai fundo. Caso contrário, comece com outra obra como "Tem alguém aí?" ou algum outro com uma cotação geral mais confiável :D
"Você não pode passar a vida inteira culpando os outros pelos seus erros. Você é uma adulta. Assuma a responsabilidade por si mesma e por sua felicidade. Você não está mais presa ao papel que a sua família lhe reservou. Só porque lhe disseram que você era burra ou alta demais, isso não quer dizer que seja." (p.420)