Thiago 23/03/2021
A realidade existe através de um observador
O livro é dividido em duas partes conceituais. Na primeira metade, Amit Goswami apresenta uma introdução dos paradigmas da física clássica em oposição à física quântica. De maneira didática, tenta traduzir em conceitos leigos como o entendimento da realidade final de maneira cartesiana/newtoniana é incompatível com as incertezas, dualidades e paradoxos da nova física, altamente probabilística. Nesse ponto, entra a figura do observador, aquele que provoca o colapso das probabilidades com sua observação. Goswami traz muitos insights que questionam uma ciência puramente materialista e que não se sustenta sem um mundo idealista, imaterial. Até esse ponto, temos uma narrativa bem estruturada, com uma linha de argumentação lógica e de complexidade progressiva. Na segunda parte, o autor tenta extrapolar tais conceitos ao universo mental, no domínio da psicologia e filosofia, buscando a natureza da consciência. A meu ver, nesse ponto Goswami adentra em terreno minado, com argumentos menos convincentes, por vezes perdendo-se em elucubrações que objetivamente nada acrescentam ao tema. Tenta delinear conhecimentos psicológicos abstratos e adaptá-los ao arcabouço conceitual da Física Quântica, alternando entre êxito e fracasso. No geral é um livro rico, bem escrito e estruturado, que traz reflexões importantes e inovadoras. O grande êxito de Goswami é demonstrar, a meu ver, de maneira inequívoca e científica, que a consciência e a autoconsciência não podem ser epifenômenos da matéria, pois afinal, a matéria não pode gerar uma autopercepção e o observador é parte do todo e ao mesmo tempo é tudo.