Uma Noite Escura

Uma Noite Escura Elizabeth Gaskell




Resenhas - Uma Noite Escura


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@garotadeleituras 26/08/2017

O impacto do segredo sobre o destino.
Publicado pela primeira vez em 1863, Uma noite escura de Elizabeth Gaskell relata a história de uma noite fatídica e suas consequências sobre o futuro dos envolvidos. Ellinor Wilkins é filha de um bem sucedido advogado em Hamley, interior da Inglaterra. É uma mocinha doce, ingênua e protegida, que cresceu sob o carinho do pai; essa proteção a impede de ver o alcoolismo e a irresponsabilidade com a fortuna da família que Mr. Wilkins usa para satisfazer suas extravagâncias e confraternizar com a sociedade “"puro sangue", já que não veio de família nobre.

Além da relação afetuosa com o pai, Ellinor é muito próxima de Dixon, amigo e criado da propriedade. Na adolescência, acabou conhecendo um jovem pupilo de Nr. Ness, Mr. Corbet. Ralph é descrito como portador de todas as qualidades de um perfeito cavalheiro: inteligente, estudioso e que tinha como meta conseguir sucesso na profissão de advogado, uma vez que, não contava com a fortuna da família por ser o mais novo dos filhos. Inicialmente, não reconhece em Ellinor o ideal da beleza, mas quando retorna em uma visita posterior, percebe o tênue desabrochar da jovem, por quem começa nutrir sentimentos e, de forma impulsiva, assume compromisso de noivado, mesmo contra a vontade da família.

Certa noite, ao esperar para resolver um inconveniente, Ellinor observa seu pai chegar com Mr. Dunster, sócio do escritório e dono de uma personalidade não tão agradável, o qual é visto com certo aborrecimento por perturbar Mr. Wilkins devido às irresponsabilidades com o trabalho. Um evento fatídico naquela noite escura será o divisor de águas na vida de Ellinor, seu pai e Dixon, seu amado amigo. Ambos estariam reféns daquele segredo, unindo-os e ao mesmo tempo construindo muros em suas relações. O peso seria o coadjuvante do destino, peso responsável por minar a felicidade e a relação entre aqueles miseráveis seres. Dividida entre o pai e o noivo, Ellinor é refém da consciência, seu maior carrasco.

Uma noite escura pode ser considera uma novela ou romance curto, onde Gaskell retrata alguns temas corriqueiras da sociedade vitoriana: a condição dos “novos ricos” no contexto social, os vícios sociais como a bebida e a irresponsabilidade financeira como motivos de desgraça, mesmo de pessoas que num primeiro momento possuíam qualidades importantes. Acredito que o tema central aqui é o famoso peso de consciência; mesmo quando você não tem participação direta nos acontecimentos, acaba partilhando das consequências, onde o julgamento moral seria a pena implacável dos personagens e redimidos apenas quando confessado.

Eu realmente adorei a leitura. Até comecei sem grandes expectativas, entretanto a mocinha conseguir tornar crível a carga do grande segredo e o impacto sobre a vida daqueles que o detém. Ralph Cobert, antes tão cavalheiro, deixou-se seduzir pelo sucesso e ganância; encontra na apreensão a força motriz para abandonar Ellinor e o “sentimento juvenil” para manter a imaculada reputação, nada mais colheu no final que arrependimento. Quanto ao Cônego Livingstone, esse sim é o verdadeiro mocinho. Afinal esperou apenas 18 anos para ser feliz. Um romance histórico, do tipo "raiz", curtinho (até achei o final meio corrido), porém super recomendo aos apreciadores do gênero!"

"Há pessoas que, sem perceber, passam gentilmente da juventude até a meia-idade e dali declinam em ritmo suave e delicado ao longo dos anos felizes. Há outras que, contra sua vontade, são apanhadas no turbilhão vertiginoso de agonia que as leva, com um grande sobressalto, da juventude até a velhice, que surge com outro grande choque e dali segue até a calmaria de um vasto oceano onde não há marcadores de tempo. (p.152)"


Peregrina 26/08/2017minha estante
Gostei muito desse livro também. Gaskell nunca decepciona.


@garotadeleituras 27/08/2017minha estante
Tenho essa mesma impressão sobre a Gaskell, Enza :)


Margot 15/04/2018minha estante
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taynee.mendes 16/07/2017

Elizabeth Gaskell: a Scheherazade britânica
A escritora inglesa Elizabeth Gaskell ainda é pouco conhecida em terras tupiniquins. Injustificadamente, é claro: seu nome é tão importante na literatura clássica inglesa que figura no Poet’s Corner, em Westminister Abbey, em Londres, ao lado de nomes mais conhecidos como a grande Jane Austen e o genial Charles Dickens. Aliás, foi dele que recebeu a carinhosa alcunha de “querida Scheherazade”, devido a sua habilidade em contar histórias.

Nascida em Londres, Elizabeth Cleghorn Stevenson Gaskell (1810-1865) foi autora de seis romances, vários contos e uma biografia de Charlotte Brontë, com quem se encontrou apenas duas vezes, mas manteve uma intensa amizade por cartas. Em seus livros, examina questões sociais de sua época, principalmente as consequências da Revolução Industrial no século XIX, a ascensão da classe média em uma arraigada aristocracia e a posição da mulher na sociedade. Sua obra mais representativa é, sem dúvida, Norte e Sul (1855), em que contrasta a vida industrial e “moderna” do Norte da Inglaterra com a vida do Sul, pacata e mais tradicional. O romance ganhou adaptação para TV pela rede britânica BBC em 2004.
A novela Uma Noite Escura foi publicada em 1863 – dois anos antes de sua morte – no formato de folhetim na revista All Year Round, de Charles Dickens, com o título A Dark Night’s Work. A trama conta a vida de Edward, filho de um advogado bem-sucedido; note: “apenas” um advogado e, por isso, era menosprezado pela pequena nobreza da região. Na Inglaterra vitoriana, ter dinheiro não significava muito se não fosse acompanhada de uma boa posição ou um título de nobreza. Naquele tempo, o dinheiro não comprava status. Mas Edward bem que tentou: tinha cavalos invejáveis, uma biblioteca enorme e quadros valiosos. Não era o suficiente para conquistar o respeito e admiração que tanto desejava. Casou-se com Lettice, de uma linhagem nobre e teve Ellinor como filha. Com a morte de Lettice, a menina se apegou cada vez mais ao pai, que mal sabia o que o destino reservava para os dois. Crescida, Ellinor se apaixona por Ralph, filho caçula da família Corbet. Ralph também a amava, porém seu amor acompanhava a ambição de se tornar juiz em Londres. E é sua ambição que pode colocar tudo a perder para os dois, principalmente após um grave acontecimento em uma noite escura que mudará para sempre a vida da família Wilkins.

Em Uma Noite Escura, Gaskell contrapõe duas concepções de modernidade. A primeira é vista de forma positiva na medida em que critica a espantosa discriminação de classes na Inglaterra, com seus motivos fúteis e valores questionáveis, evidente nas tentativas inúteis de Edward em pertencer à nobreza. A segunda é personificada na ambição de Ralph, um jovem que enxerga além de todos os preconceitos de classe e que enfrenta a sua família por causa do seu amor. Se Gaskell não vê com bons olhos o passado, tampouco vê um futuro industrial brilhante. No desenrolar do romance, a construção de uma ferrovia – com todo o seu simbolismo moderno – terá consequências drásticas na vida dos personagens.

Como em toda literatura inglesa clássica, é nos pequenos gestos que se revelam grandes personalidades. A maneira sutil de contar cada detalhe dos personagens faz com que o leitor mergulhe na história de cada um, desvendando motivações e temores profundos. Um estilo delicado, sim, mas não menos impactante. As cenas mais dramáticas que se seguem em Uma Noite Escura são contadas de forma serena e fria; uma frieza necessária para transmitir todo o horror ali presente.

Pelo tom obscuro, há quem diga se tratar de uma novela gótica, mas é possível ver traços realistas que ultrapassam a barreira do tempo e da história: pessoas materialistas com grandes ambições, capazes de tudo para atingir seus objetivos. Não muito diferente dos dias atuais. A mensagem do livro, tipicamente vitoriana, é clara: toda ação tem consequências, porém, alguns, como a doce e inocente Ellinor, costumam pagar um preço mais alto que outros.

site: https://blog.pedrazuleditora.com.br/2017/01/20/elizabeth-gaskell-a-scheherazade-britanica/
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Tamires 07/04/2017

Uma Noite Escura, de Elizabeth Gaskell
Quando Charles Dickens colocou a alcunha de pequena Sherazade em Elizabeth Gaskell ele não estava sendo apenas elogioso com a autora de quem foi editor. Certamente, tinha a visão de que as histórias dela venceriam as barreiras do tempo e ganhariam leitores mundo afora. E foi bem isso que aconteceu! Desde que li Margareth Hale (Norte e Sul), O Chalé de Moorland, Lizzie Leigh e Esposas e Filhas tenho comprovado a qualidade de Gaskell em nos envolver em suas narrativas. E com Uma Noite Escura não foi diferente.

Publicado originalmente em 1863, Uma Noite Escura inicia-se com a história de Mr. Wilkins, advogado e membro de uma família abastada, mas que não pertencia a uma linhagem nobre, o que era muito importante em seu meio, especialmente tratando-se da Inglaterra Vitoriana. Era sempre depreciado, embora circulasse nas mais altas rodas. Casa-se então com Lettice, uma moça de linhagem nobre, mas isso pouco muda a forma como as pessoas o veem. A esposa é modesta e caseira, não era amante da vida em sociedade, mas Edward Wilkins era um homem soberbo, sempre gastando mais do que deveria em extravagâncias que em nada acrescentavam ao seu intelecto.

Alguns anos depois de casados, Lettice morre deixando o marido e duas filhas, uma bebê e uma criança de seis anos. Certo tempo depois, a mais nova falece, restando da família Wilkins apenas Ellinor e seu pai.

Os dois tornam-se muito apegados e extremamente profundo era o afeto entre eles. A vida era pacata em Hamley, e os Wilkins tinham poucos amigos. Dentre eles estava Mr. Corbet, o qual viria a ser noivo de Ellinor assim que ela começara a transparecer a beleza da mocidade. Ellinor apaixona-se por ele ainda bem jovem, já o rapaz percebe a beleza e as virtudes dela após passar uma temporada afastado de Hamley, em Londres.

As páginas vão passando e, confesso, fui achando a história meio morna. Ellinor mostrava ter um caráter parecido ao de sua mãe, uma mulher simples e sensata. Já Mr. Corbet até parecia nutrir sentimentos verdadeiros pela moça, mas sua real paixão era a advocacia e o desejo de tornar-se juiz. Sendo o filho mais novo de sua família, ele reflete e chega à conclusão de que Ellinor não seria tão ruim assim para esposa, tendo em vista que era a única filha de um rico advogado. A família Corbet era de linhagem nobre e tinha em seu círculo pessoas que conheciam e ridicularizavam Mr. Wilkins. O homem era tido como vulgar em toda a parte, mas sua filha poderia vir a se tornar uma boa Mrs. Corbet. Pelo menos assim pensava o rapaz e, portanto, planejava conseguir a benção de sua família.

“As pessoas da vila neste condado imbecil caçoam de mim porque meu pai vai até os Plantagenetas em busca de sua árvore genealógica, e negligenciam Ellinor. Só aturam o pai porque o velho Wilkins era filho de sei lá quem. Muito pior para eles, mas melhor para mim neste caso. Estou acima desses preconceitos bobos e antiquados e ficarei feliz quando o momento apropriado chegar de fazer Ellinor minha mulher. Afinal, a filha de um advogado próspero não deve ser considerada um par inadequado para mim, filho caçula que sou. Ellinor será uma mulher estonteante dentro de três ou quatro anos, exatamente o tipo que meu pai admira. Que corpo, que braços torneados. Serei paciente, darei tempo ao tempo, e atentarei para as oportunidades e tudo vai dar certo.” (p. 39 e 40)

Em meio aos planos do matrimônio algo acontece. Sim, o tal acontecimento que remete ao título (principalmente ao original, A Dark Night’s Work, “o trabalho de uma noite escura”, em tradução literal para o português). Fique tranquilo, pois o acontecimento não será revelado nesta resenha! Apenas digo que foi uma grande surpresa, pois eu imaginei que seria algo diferente. Felizmente não procurei nem tropecei em spoilers sobre o livro, garantindo o meu susto com o acontecimento nesta primeira leitura.

Nem todos percebem ou sabem a verdadeira razão, mas a vida da família Wilkins e de um de seus empregados mais próximos, Dixon, muda completamente. Existe algo importante e sério pairando no ar e isso acaba despertando a atenção de Ralph Corbet. Ellinor se divide entre guardar um segredo ou revelá-lo àquele que será seu esposo a ponto de estremecer sua vitalidade. Com medo de que possa haver algo na família de sua noiva que prejudique seu futuro profissional, Mr. Corbet começa a dar sinais de que não está mais tão interessado em manter seu compromisso com Ellinor.

“Em resumo, o contraste com a outra arrumação perfeita e com um frescor admirável abateu impetuosamente sobre as percepções de Ralph, que eram mais críticas que compreensivas. E como seu amor sempre foi submetido ao intelecto, o rosto admirável de Ellinor e sua figura graciosa correndo ao seu encontro não recebeu sua aprovação, porque seu cabelo estava com um penteado cafona, seu corpete estava muito longo ou muito curto, as mangas largas ou apertadas demais para o padrão de moda ao qual seus olhos tinham sido acostumados ao esquadrinhar as damas de honra e as várias mulheres de alta estirpe no castelo de Stokely.” (p. 110)

“Ellinor, com o fino tato propiciado pelo amor, tinha descoberto a irritação do seu amado nas várias e pequenas impropriedades com a família à época de sua segunda visita no outono anterior, e se empenhou em tornar tudo tão perfeito quanto possível antes que retornasse. Mas ela passava por maus bocados. Pela primeira vez na vida havia uma escassez de dinheiro.” (p. 111)

“Que proveito teria em manter o noivado com Ellinor? Teria uma esposa frágil para cuidar, além das despesas comuns da vida matrimonial. Um sogro, cujo caráter, na melhor das hipóteses, era respeitado apenas localmente e até isso estava se perdendo dia após dia em razão de hábitos sensuais e vulgares; um homem também, que transitava de forma esquisita da viva jovialidade ao enfado mal-humorado. Ademais, duvidava se, no caso de evidente variação na prosperidade da família, a fortuna a ser paga na ocasião do casamento com Ellinor seria acessível. Sobretudo, e ao redor de tudo, pairava a sombra de uma desgraça não revelada, que poderia vir à tona a qualquer momento e emaranhá-lo.” (p. 114)

A partir daí, a história que eu achava ser morna toma contornos muito interessantes. Todo o suspense em torno do acontecimento torna a leitura rápida e a ansiedade por saber como tudo vai acabar fez com que eu terminasse o livro rapidinho! Uma Noite Escura é mais uma grande história de Elizabeth Gaskell que nós, leitores brasileiros, agora temos o prazer e a oportunidade de ler em nossa língua.

Tenho na fila de leitura Cranford e todo e qualquer outro título de Gaskell a ser publicado em português, certamente pela Pedrazul Editora, que tem se colocado como a casa dos clássicos ingleses no Brasil.

site: http://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-uma-noite-escura-de-elizabeth-gaskell/
Janinha 29/05/2017minha estante
Adorei a sua resenha. Fiquei muito curiosa com o livro!


Tamires 01/06/2017minha estante
Obrigada, Jana! Eu gostei muito dessa leitura! :)


taynee.mendes 16/07/2017minha estante
Oi Tamires! Que bom que gostou do livro! Eu sou a tradutora e adorei! Realmente o acontecimento prende muito, quando você acha que vai ser mais uma historinha boba, Gaskell consegue nos surpreender. O que mais me marcou foi a rápida mudança do afeto em Ralph. O lado ambicioso dele tem tudo a ver com o espírito moderno que estava começando na Inglaterra, esse desejo por cargos e posições de respeito. No fundo, parece muito com as aspirações nobres, as mesmas que ele criticava, mas no fundo ele queria era ter uma posição, a diferença é que seria conquistada por ele mesmo e não herdada como no caso dos nobres. Eu achei isso genial! É uma novela, mas que te faz refletir muito sobre a sociedade moderna e seus valores.
Sobre o título, interessante você notar. Eu sugeri esta adaptação por entender que a palavra "work" tem mais significados em inglês que em português por exemplo. Pode significar labor ou algo que se faz com esforço. E foi exatamente isso que aconteceu. Só que achei que o título em português não passava essa ideia. Achei que a ênfase na noite escura, como o momento do acontecimento, poderia criar um suspense maior para os leitores brasileiros. O que acha?
Adorei sua resenha! beijos




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