Karina599 05/04/2020Essencial e para sempre contemporâneo“O que é ideologia” da Marilena Chauí é uma obra densa e muito completa. Eu diria, até mesmo, essencial, para a compreensão da sociedade de um ponto de vista das ideias que se propagam.
Por vezes, parece que tem informações demais que dão voltas e voltas sem explicar nada. Porém, essa foi minha impressão inicial, porque no decorrer do livro, todas as informações se amarram formando relações interessantes.
Começando o livro com as teorias da Antiguidade sobre conceitos iniciais que serão utilizados no decorrer do livro, como trabalho, divisão do trabalho, campos significativos, relações sociais, as relações do homem com a Natureza e, portanto, com o conhecimento adquirido.
Passa então para o histórico do termo “ideologia” e então percorremos um caminho histórico desde os ideólogos franceses, seguindo pela filosofia positivista e depois disso com o sociólogo Durkheim, até chegarmos a concepção Marxista. A partir de então, temos um capítulo inteiro reservado para essa questão. Em um livro sem muitas divisões em capítulos, esse é um importante vestígio sobre a própria ideologia da autora que não esconde seu posicionamos, observável até mesmo, em outras obras dela.
Não acredito que isso seja um obstáculo para este livro, já que a pesquisadora tem muito conhecimento sobre o que diz e traz um panorama completo de tudo que está falando. Por exemplo, ao entrar no capítulo “A concepção marxista de ideologia”, ela traz um cenário no qual Marx direcionava críticas à filósofos alemães da época, que por sua vez, contestavam as teorias de Hegel.
Entrando em Hegel, Marilena Chauí resume, como ela mesma afirma, “de forma grosseira, as principais ideias de Hegel, a dialética idealista e espiritualista, dais quais eu considero como destaque as ideias de que “a história é reflexão”. A reflexão é a volta sobre si mesmo, na qual a consciência é responsável por fazê-la. “Este exterioriza-se em obras, mas é capaz de reconhecer-se como produtor delas, é capaz de compreender-se ou de interiorizar sua criação.” (2006, p. 41). Outro ponto que achei particularmente interessante é sobre como o Estado representa os interesses dos indivíduos privados ou públicos, famílias, sociais e etc.
De forma clara e sucinta, Chauí resume os pontos da teoria hegeliana de forma clara e sucinta, já que esse não é o objetivo da obra. Inclusive, durante a leitura tive as minhas dúvidas se, de fato, eram necessárias para a compreensão do livro e quais as relações entre Hegel e ideologia sobe a perspectiva marxista. Então, a autora passa a comparar os conceitos hegelianos que Marx conserva em sua teoria, e aqueles que Marx contrapõe. O livro como um todo se conversa, a todo momento retomando tópicos já trabalhados. Estamos sempre relendo e reafirmando os conceitos em nossa mente.
Mariela Chauí passa, então, a explicar o marxismo, como a luta de classes: o trabalhador que vende sua força de trabalho e aquele que dispões das condições de produção. Explica também sobre a mais-valia, alienação, conceito de propriedade de da divisão de classes.
Chauí ainda dedica uma parte à explicar a diferença da concepção de Estado entre Hegel e Marx, na qual o primeiro define como “superação das contradições”, enquanto o segundo afirma que o Estado é “a vitória de uma parte da sociedade sobre as outras.” (2006, p. 66).
A partir de então, a autora escreve como a ideologia tem sua função em “ocultar” a realidade e fazer parecer que as ideias são autônomas, ou seja, como se surgissem sozinhas sem ter um representante. Isso faz com que as pessoas não reflitam sobre as relações sociais que causam sua posição social, e portanto, traz a ingênua sensação de que as coisas são do eito que são por causa de um poder superior e que todos estão submetidos à esse poder igualmente.
Finalizando sua obra, Chauí faz um apanhado sobre tudo que foi pensado no decorrer do livro e retoma todos os conceitos por ela trabalhado. De forma bem amarrada, Chauí escreve essa obra que considero tão importante para a nossa sociedade. Livro indispensável para repensarmos sobre a estrutura da nossa sociedade e além disso, tudo o que consumimos e como digerimos esses conteúdos. Se, inicialmente, pensei que a obra tomava caminhos desnecessários, ao chegar ao final entendo que Chauí inclui tudo que é necessário para compreendermos o conceito de ideologia em sua totalidade, de um jeito genial e bem concatenado.