Siegfrito 15/04/2021A memória das agonias da América Latina?Entre os seres, como o ar vivo,
e da solidão acurralada
saio para a multidão dos combates
livre porque em minha mão vai a tua mão,
conquistando alegrias indomáveis.?
De todos os livros de poesia que me recordo de ter lido, nenhum foi tão profundo e tão cansativo quando esse. Não o classifico como cansativo por ser moroso ou chato, mas por que o ritmo dos poemas e a agonia do poeta, podem ser sentidas em cada verso de fuga, em cada declaração de amor ao Chile e aos outros países de América do Sul e em cada saudade declarada nas linhas de Canto Geral.
Escrito enquanto Neruda fugia do regime autoritário que vigorava em sua terra natal e do qual o poeta era ferrenho opositor, o livro é de uma dimensão quase indescritível. Pode-se tanto emocionar com os poemas numa leitura corrida, quando ouvir o som do mar e sentir o cheiro do deserto nas descrições detalhadas que os versos dão dos lugares por onde o escritor passou.
Os poemas e cartas versificadas dedicados aos amigos queridos de Neruda também são um show à parte, sem falar em sua convicção e seu ideal tão bem retratados e desenvolvidos ao longo da obra.
Completamente revolucionário, eu diria que Canto Geral é um livro perigoso. Se você ler a obra de cabeça aberta e quiser mesmo compreender sua mensagem, corre o risco profundo de ser arrebatado pelo ideal revolucionário de Neruda e também sofrerá de uma saudade profunda, mesmo que nunca tenha visitado o Chile.
Leia sem moderação.