Bonita Avenue

Bonita Avenue Peter Buwalda




Resenhas - Bonita Avenue


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Ladyce 21/04/2016

Siem Sigerius é um grande matemático especializado na teoria dos nós e reitor de uma universidade holandesa. É também um dos narradores de Bonita Avenue, assim como seu principal personagem. Ainda que ele divida com Joni, sua enteada e Aaron o namorado dela a apresentação ao leitor dos eventos que levaram ao colapso da família, é seu o papel principal dessa obra.

Diz a teoria dos nós que : O artesão que faz uma trança, uma rede, ou alguns nós estará preocupado, não com questões de medidas, mas com aquelas de posição: o que ele vê ali é a maneira na qual os fios estão entrelaçados. [Wikipédia] Como um bom entendedor de nós, e de seus emaranhados, Siem, na segunda metade da obra quando começa a perceber a teia em que ele se encontrava, começa a desatar um a um os nós que estruturavam as relações familiares. Até o momento em que precisa ele mesmo desaparecer. Desse ponto de vista seu suicídio é previsível. E para os que acham que posso estar revelando segredos, acalmem-se: o suicídio é contado logo no início do livro. Pois não só a narrativa é baseada em três vozes, como ela é apresentada no presente e no passado sem qualquer ordem que possa ser detectada pelo leitor.

Bonita Avenue não é para o leitor de coração fraco, ou do que gosta de uma narrativa linear. Nem é para o leitor que deseja simplesmente se divertir. Temos que trabalhar o cérebro para seguir essa trama espetacular, confusa, estranha e, sobretudo questionadora dos comportamentos modernos, pós-internet. No coração dessas questões está o hábito do consumo de pornografia na rede, assim como a questão curiosa sobre a imagem das mulheres e homens que se expõem em sites pornográficos: são ou não profissionais da prostituição? Os atores pornográficos são exibicionistas? E suas identidades podem de fato se manter desconhecidas? A identidade na rede é uma das questões levantadas nessa obra abrangente sobre a vida moderna.

A história circula em volta da família Sigerius entre os anos de 1980 e 2000. É uma família moderna. Segundo casamento de ambas as partes com filhos dos compromissos anteriores. Também é uma família disfuncional. Seus personagens são fascinantes e incluem além do matemático conhecido mundialmente, um fotógrafo, uma marceneira e una atriz pornô. Há referências ao judô, a doenças mentais e sobretudo à indústria pornográfica na internet. A família não é feliz. A época em que foi mais feliz se resume aos anos passados na Califórnia, em Berkeley, num endereço na Bonita Avenue.

Peter Buwalda tem uma maneira singular de narrar. Paga seus tributos à literatura do século XIX dando-se ao trabalho de apresentar personagem por personagem logo no início da obra. Mas são poucos. Isso contribui para a sensação de claustrofobia, e também para dar a impressão de que o enredo não progride. O que lembra de novo as obras do século XIX, em particular a afirmação da escritora inglesa Geoge Eliot em relação à linha do tempo de uma obra: O melhor fogo não é o que se acende mais rapidamente. Buwalda toma seu tempo e diferente da literatura mais tradicional apresenta seus personagens com viés: todos parecem caracterizados pelos seus piores aspectos, como se os víssemos só pelo lado B de suas personalidades. Outro artifício é a apresentação de um enredo simples centrado na família, mas contado com tantas interferências de fatos irrelevantes, anedotas, histórias paralelas que parece chegar ao essencial paulatinamente, comendo pelas beiradas.

Uma história espetacular, em que personagens fora da norma nos convidam a reflexões nem sempre fáceis. É violenta. Ocasionalmente bastante gráfica, inclusive na pornografia. Mas não é para qualquer um. Você precisa gostar de uma história apresentada de maneira complexa, não linear e com final em aberto. Fora isso, magistral.
Nanci 21/04/2016minha estante
Depois da sua resenha, quero encarar o desafio de "uma história apresentada de maneira complexa, não linear e com final em aberto."


Ladyce 21/04/2016minha estante
Nanci, a maioria do grupo de leitura não gostou. Fiquei entre as poucas que defenderam o livro.




Luísa 20/06/2016

Pornografia online é tema do primeiro romance do holandês Peter Buwalda
“Todas as famílias felizes são parecidas; as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira”, diz Tolstói no parágrafo que abre o romance Anna Karenina. Poderíamos ir mais fundo ao observar que, vistas de longe, todas as famílias parecem felizes.

Essa é a impressão que temos nas primeiras páginas do romance Bonita Avenue (Alfaguara, 535 pgs, tradução de Cássio de Arantes Leite), do escritor holandês Peter Buwalda, que chegou às prateleiras brasileiras no mês passado. A leitura de início é arrastada, e o leitor desavisado pode, entediado, pensar que nada vai acontecer.

As coisas começam a desmoronar junto com a explosão de uma fábrica de fogos de artifícios, que aconteceu de verdade na cidade de Enschede, Holanda, no ano 2000, onde se passa a narrativa. O desastre irá desencadear a decadência física, psicológica e moral da feliz família à qual somos apresentados nos primeiros capítulos, desenterrando traumas do passado.

Siem Sigerius é o respeitável reitor da Universidade Tubantia, em Enschede. Bem casado, com duas enteadas lindas e inteligentes, que o tratam por pai, Sigerius é também popular entre os alunos, aos quais eventualmente ministra aulas de judô, além de ser um gênio da matemática e arrebatado amante de jazz.

Leia mais em:

site: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/pornografia-online-e-tema-do-primeiro-romance-do-holandes-peter-buwalda-por-luisa-gadelha/
Estêvão 27/06/2017minha estante
Olá, você sabe dizer se a tradução é direto do holandês? Procurei aqui e não achei.


Rick-a-book 14/11/2018minha estante
Belo spoiler. Não dá pra saber qual é o tema do livro até depois da metade da leitura.




Kelly.Diniz 07/08/2016

Bonita Avenue
Excelente leitura. Um livro que prende do inicio ao fim. Um história que vai se construindo na mistura de presente e passado, mostrando o lado obscuro das pessoas, segredos, mentiras, aparências.
Thais 02/01/2018minha estante
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Thais 02/01/2018minha estante
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Ricardo.Vibranovski 05/06/2016

Mergulho profundo
Espetacular. Bonita Avenue é um mergulho profundo na alma dos membros de uma família, com seus segredos e desdobramentos. Estórias que se entrelaçam, de pessoas aparentemente comuns, como são os seus vizinhos, seus parentes, ou deveria dizer, você mesmo? Um soco no estômago.
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Camila Faria 13/06/2017

Siem Sigerius, matemático, ex-judoca e reitor de uma universidade na Holanda, percebe uma ligeira semelhança entre a sua enteada Joni e a modelo/estrela pornõ de um site que costuma frequentar. Atordoado com a possibilidade, Sigerius precisa lidar ainda com a notícia de que o filho desajustado, preso por agressão, acaba de ser solto. Buwalda (des)constrói a saga de uma família em crise, alternando narrativas de três personagens, e vai, aos poucos, revelando suas características disfuncionais e sombrias. A trama é envolvente (mesmo que um pouco morna no princípio) e desenrola num crescente de suspense e vingança de tirar o fôlego. Impressionante. O livro ganhou quatro grandes prêmios literários na Holanda e vem sendo traduzido para vários países, sempre com grande sucesso de crítica.

site: http://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-15/
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MF (Blog Terminei de Ler) 05/11/2017

Com intrincada estrutura narrativa, romance tem na pornografia online seu mote e, no drama familiar, sua construção
Eis que, após 1 ano, terminei a leitura das 536 páginas do livro "Bonita Avenue", premiado romance de estreia do holandês Peter Buwalda. A demora na leitura se deveu a dois fatores: primeiro, eu tenho lido apenas nos fins-de-semana (incrível como o excesso de trabalho têm me afastado das coisas que amo); em segundo, a complexidade da narrativa. Buwalda apresenta uma história densa, com capítulos narrados, alternadamente, por três personagens: Siem, sua enteada Joni e o namorado desta, Aaron. Joni tem seus capítulos narrados em primeira pessoa, e os outros dois personagens principais em terceira. A narrativa transita ora no passado, ora no presente, ora na Holanda, ora nos Estados Unidos. Soma-se a isso uma quantidade grande de personagens e situações irrelevantes que, por um lado, compõe um interessante quadro analítico das personagens, por outro tornam a leitura morosa, enfadonha em certos momentos, principalmente nos primeiros capítulos.

Buwalda conta a história de Siem, renomado e amado reitor de uma faculdade, ex-judoca, conceituado matemático, intelectual conhecedor de jazz. Ciente dessa imagem perfeita, Siem se esforça para manter escondido dos holofotes o fato de ter, no passado, um filho (Wilbert), fruto de seu primeiro casamento, condenado por homicídio. Casado com Tineke, ele trata as duas filhas dela, Joni e Janis, bem como Aaron, como se fossem seus próprios filhos. Com Aaron, inclusive, Siem estabelece uma relação bem paternalista, talvez para compensar a decepção com Wilbert, ensinando ao rapaz judô e compartilhando com ele conversas sobre jazz e literatura. Contudo, a vida perfeita de Siem começa a sair dos trilhos quando ele resolve fazer uma viagem de negócios à China. Ávido consumidor de pornografia online, Siem percebe que sua principal musa, de quem ele consome fotos nuas na internet, é idêntica à sua enteada Joni. A descoberta o conduz a um processo paranoico de investigação e autodestruição que, paralelamente, coincide com a saída de seu filho biológico da prisão...

Embora o tema da pornografia sirva como mote condutor da história, o principal atrativo de Bonita Avenue está na construção das relações entre os três personagens principais. Joni é uma mulher independente, inteligente e bem-sucedida que, aos poucos, vai sendo apresentada ao leitor. Aaron, namorado de Joni, é o oposto: fotógrafo autônomo, inseguro e ciumento, que vê na figura do sogro um ideal a ser atingido. Já Siem Sigerius é, de longe, a personagem mais complexa, com seus conflitos, segredos, egoísmo e moralismo. Até o final do livro, não é possível prever o destino da família Sigerius mas, ao longo da obra, é interessante perceber como um núcleo familiar pode se desvanecer lentamente, na exata medida em que se prioriza demasiadamente o "eu" em detrimento do "nós". A hipocrisia moral, de se condenar algo que você próprio alimenta, serve igualmente como um fator desagregador. Inclua algumas doses de loucura e tragédias na narrativa e há de se ter o panorama completo.

Mascarado como thriller, o romance de Buwalda, ambientado na gélida Holanda, pode ser encarado como um drama familiar. Isso se percebe nas entrelinhas do próprio título do livro. Afinal, foi durante o período em que moraram na Bonita Avenue, na ensolarada Califórnia, que os personagens guardaram suas melhores lembranças familiares, numa época em que viviam juntos, ainda sem a busca incessante por status, e compartilhando experiências e hobbys.

Sinto que a história poderia ser menor, mais direta em diversos momentos. Contudo, como experiência literária, valeu a leitura. Um bom livro.

site: https://mftermineideler.wordpress.com/2017/08/11/bonita-avenue-peter-buwalda/
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paulorodrigues 14/12/2019

Marcante, chocante, trágico. Uma mistura de sentimentos durante a leitura
A estoria é fragmentada em varios pontos de vista difetentes, misturando presente e passado, em varias camadas, durante as narrativas. A vantagem dessa maneira de escrever é que a leitura não fica monótona, e força o leitor a prender a atenção na leitura, pra não se perder no texto. Sem falar que é um excelente exercicio pra memoria.
O foco central é a pornografia online no seculo passado, por volta do ano 1996. O livro contem personagens marcantes e bem desenvolvidos.
Siem Sigerius, ex judoca e reitor de uma universidade, baixava fotos de jovens nuas na internet, e acabou encontrando fotos de uma moça muito parecida com uma de suas enteadas, a Joni. A comprovação de suas suspeitas, acontece de forma trágica, e transforma a vida de todos daquela familia. Chocante em varios momentos.
O ponto negativo é que a maneira de narrar dos personagens (em primeira pessoa), são parecidas entre si. Isso pode ser por conta da tradução talvez. E tambem porque algumas pontas ficaram soltas.

[Alerta de spoiler]
Particularmente, eu achei os capitulos narrados pelo Aaron muito tristes. Por medo do Siem, ele se trancou na casa por meses, ficou vivendo no meio do lixo. Um rapaz milionario vivendo nessas condições. Joni o encontrou nesse estado e o levou pra um hospital de loucos (deve ser isso), onde ele ficou por cerca de 8 anos.
Siem se mostrou um grande covarde. O ultimo capitulo a atitude dele me entristeceu muito.
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Edson Camara 14/05/2020

UM SENHOR LIVRO, UM DRAMALHÃO, COLOCA ABAIXO MUITOS CONCEITOS DE NOSSA CIVILIZAÇÃO.
Se você é uma pessoa muito tradicionalista e apegada aos conceitos de convivência e comportamento ditos normais da sociedade, este livro não é para você.
Peter Buwalda, escreve a história de uma família de classe média alta da Holanda, a história se passa entre a Holanda, França e Estados Unidos, ou seja, países de primeiro mundo, das pessoas deste núcleo familiar e das pessoas que vivem em seu entorno.
O autor é mestre em criar seus personagens, atribuir-lhes personalidades bem definidas, criar histórias de vida robustas para cada um deles e depois destruir tudo isso com seu comportamento e atitudes perante a vida.
O enredo principal gira em torno de três personagens marcantes, Sigerius, sua afilhada Joni e o namorado dela Aaron. Sigerius é um professor universitário com uma vida confortável que chega a ministro da educação de seu país. Mas, ele tem um segredo, e dentro deste segredo ele descobre o envolvimento de sua afilhada. Com base nesta trama, o autor desenrola o pior do ser humano, desde o egoismo mais puro, a falta de tato, inteligência emocional e empatia.
Estas pessoas cometem todo tipo de pecado, regados a mentiras, dissimulação, mesquinharia, violência contra si mesmo e contra o próximo.
O livro é repleto de suspense, drama e terror urbano. É muito bem escrito e rápido. O autor é ultra detalhista, causa angustia, raiva, alguns momentos de ternura e alegria. mas, quando parte para baixaria, na hora de causar nojo e indignação, sai de baixo, você vai se arrepiar.
A história vai e volta no tempo, os flashbacks são necessários para explicar porque este ou outro personagem age daquela maneira. Então você vai precisar ficar atento para não perder o fio da história porque as vezes o autor entra ou sai de um flashback sem avisar.
É um bom livro, não gostei do final, achei meio precipitado sem condizer com o restante do conteúdo. Mas nada fica sem explicação, então você vai sair da história satisfeito, ou não, com o final de cada personagem.
Uma curiosidade, demorei para entender o titulo do livro, Bonita Avenue, (não vou contar aqui:))mas está lá, dentro do enredo e quando descobri fiquei mais impressionado com a genialidade do escritor.
De qualquer forma foi um dos melhores livros que já li este ano.
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Alan kleber 06/11/2020

Um drama denso e impactante.
Siem Sigerius é um renomado reitor de uma universidade de elite holandesa, um gênio da matemática e futuro ministro da educação. Vivendo uma vida confortável, e em um casamento solido, é difícil ver o que poderia dá errado na vida de Sigerius.
Acontece que Sigerius acessa pornografia na internet, e um dia percebe que sua pornstar favorita se parece com uma pessoa muito próxima a ele, e quando descobre a verdade será um choque terrível em sua vida e que trará sérias consequências.
O livro acompanha três personagens Siem Sigerius, sua afilhada Jonis, e o namorado dela de nome Aaron. Três personagens incríveis, mas com vários defeitos de caráter.
A história aborda egoísmo, desejo de se exibir, a frivolidade de pessoas que vivem com muito dinheiro, ciúme patológico, e como o que se deseja, o que se vê, e o que se faz podem virar um veneno bem amargo.
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Nivia.Oliveira 28/08/2021

Bonita Avenue é o nome da avenida fictícia de Amsterdan onde se passa a maior parte da história do protagonista Siem Sigerius em 1995.
Ele é reitor de uma universidade, foi campeão de judô, viril, gênio matemático, ministro da educação, um marido carinhoso, um pai presente. Parece perfeito, no entanto aos poucos, indo e vindo no passado dele, o autor Peter Buwalda, vai nos contando o motivo do triste final: uma família corrompida.
A escrita e envolvente, porque cada capítulo é contado por um membro da família: a esposa, as enteadas Joni e Janis, o genro Aaron (o fotógrafo) e a esposa Tineke. Ficamos nos perguntando: quem está contando agora? Há também o filho Wilbert que não teve chance de apresentar a versão dele...
Tudo começa quando Sigerius, descobre que a enteada Joni é a mulher preferida que ele costuma assistir num site pornográfico. Ele pira para lidar com vários sentimentos: sente tesão pela própria filha? Por que é proibido só olhar? Tem ciúmes do genro? Do filho? Não respeita a esposa? É mesmo o homem público reto que apresenta?
O livro não trata apenas do consumo de pornografia na internet, mas de problemas mal resolvidos com a sexualidade. Senti que tinha uma inspiração em Lolita do Vladimir Nabokov. Já leram? Apesar de Joni aparentar uma menina ela tinha mais de 18 anos, portanto, não chega a ser um caso de pedofilia.
Qual a diferença entre ser uma atriz pornô na internet e uma prostituta do Red Light District em Amsterdam? Um bairro de prostituição legalizado onde mulheres e travestis se exibem nas janelas de seus quartos alugados com luzes vermelhas e roxas, respectivamente. O cliente olha, bate na janela, negocia o valor e entra.
O mais interessante é que o autor nos faz querer pensar que Joni é a vítima. Normalmente é o que pensamos quando assistimos casos assim no noticiário... só que não. Ela é uma mulher decidida, extremamente sedutora, que faz do corpo dela o que ela bem quer (chega a ultrapassar as fotos), manipulando todos como uma serpente.
Assim, é um livro com cenas fortes e pornográficas. No final não consegui ler uma parte porque me deu vontade de vomitar. Um infanticídio. Tenho horror de cenas de horror. O autor também deixa alguns buracos, por exemplo, como Sigerius conseguiu a chave do barco para fazer o que ele fez.


site: https://www.instagram.com/niviadeoliver/?hl=pt-br
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Elizangela 27/12/2021

Verdades Secretas
Eventos que ocorrem em nossas vidas e que mudam o rumo de nossos destinos. É disso que trata Bonita Avenue.
Mais estes eventos mudam não só as nossas vidas mas também as vidas de pessoas que estão ao nosso redor.
Mudanças positivas? Por um tempo até podem ser, só que uma pequena fissura neste destino faz tudo virar de cabeça pra baixo. Tudo ao redor fica escuro, feio, vulgar.
E como cada uma dessas pessoas irá lidar com os eventos é que é o cerne das questões desse livro.
Fingir, surtar, ignorar, minimizar, sofrer... Que verbo você usaria ao ter suas verdades mais secretas expostas?
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Pedro 10/02/2023

Fenômeno de 2010 na Holanda, Bonita Avenue foi finalista de seis premiações e venceu quatro delas, entre elas os tradicionais prêmios ANV Debutantenprijs e o Anton Wachterprijs.

"Suas lembranças mais felizes servem apenas para deprimi-lo ainda mais." (p. 511)

Nesta obra conhecemos a (aparente normal) família Sigerius a partir de três perspectivas. Primeiro Siem Sigerius, o patriarca bem sucedido professor de matemática e reitor da Universidade de Twente, nos Países Baixos. Em seguida a bela Joni (nomeada em homenagem a Joni Mitchell), enteada do Siem, e por fim o fotojornalista Aaron Bever, namorado ciumento da jovem. Essas três perspectivas estão mescladas entre tempo passado e presente, com narrativa alternada entre terceira e primeira pessoa. Isso faz sentido porque a história é marcada pelo desastre em Enschede no ano de 2000, quando houve a explosão de uma fabrica de fogos de artifícios que levou a óbito 20 pessoas e deixou outras 500 feridas. O incêndio acabou se alastrando até a residência de Aaron Bever, que por sorte não se encontrava em casa, mas simbolicamente as chamas desse desastre se alastram pelas relações dessa família.

"Levava uma existência inteiramente sem objetivo. Sua motivação na vida era evitar: evitar estímulos, evitar excitação, evitar a própria motivação." (p. 19.)

Siem possui um emprego formidável e está cotado para assumir um cargo de maior responsabilidade: ser ministro da educação. No entanto, mesmo com um passado de sucesso na carreira de judô em que teve que se aposentar por causa de uma lesão no joelho e uma família exemplar, esse homem que para os outros é brilhante, vai revelando aos poucos a sujeira que guarda debaixo do tapete. Estamos diante então de tabus para falar sobre sexo, sua impotência sexual, relacionamento extraconjugal e o filho criminoso Wilbert, fruto do primeiro relacionamento, que acabou de sair da prisão e com quem ele não quer contato para não manchar a sua imagem. Temos em Siem o personagem psicologicamente mais bem elaborado da trama.

Já Joni, apesar de ter tudo do bom e do melhor, junto ao seu namorado, impulsionada também por um fetiche exibicionista, passam a vender fotos sensuais em sites de pornografia. E estamos falando aqui do inicio dos anos 2000, onde tudo na internet ainda era escasso. Os pioneiros fazem uma fortuna comprando roupas de grifes, equipamentos fotográficos de alta qualidade e até um barco de 1,5 milhão de dólares que não caberiam no orçamento de jovens comuns, mas claro tudo em segredo para não gerar desconfiança. Talvez aqui se encontre o maior erro do companheiro de Joni: acreditar que aquela mulher, linda e inteligente, seria reduzida a futura mãe dos seus filhos.

Mas é a partir do recém vicio em pornografia, ao navegar pela internet em seu site favorito com mulheres de todos os tipos, que Siem avista uma jovem muito similar a sua enteada e passa não só a desconfiar dela como também a investigá-la, o que abre espaço para encontrar as respostas que dão inicio ao ruir de uma família com bases já carcomidas.

"Sentia vergonha do que fazia, achava que fosse doente, que não era normal, sobretudo depois de descobrir que havia uma palavra especial para seus interesses peculiares, uma palavra que, mesmo após todos esses anos, ele ainda odeia." (p. 315)

Este é um romance em que o autor não entrega uma trama linear, aos poucos o leitor ao longo do livro tem a tarefa de ir montando o quebra-cabeça com doses homeopáticas que avançam e retroagem constantemente. Apesar do autor entregar o grande ponto no inicio da trama, é de reconhecer sua habilidade em manter preso o leitor nessa forma de narrar, dando a tarefa de ligar os pontos e ainda apresentar uma reviravolta do meio para o final do livro que soa, em determinado sentido, tragicômico e gera um sentimento gritante de vergonha alheia em situações criadas que deixariam qualquer um em uma saia justa.

Por ser um romance longo, Peter Buwalda teve espaço para abordar temas como distúrbios alimentares, adultério, pornografia, doença mental, suicídio, assassinato em meio a personagens moralmente quebrados e de egos inflados. Para os amantes de histórias que giram em torno de crises familiares, encontrará aqui uma leitura capaz de satisfazer esse gosto. Por outro lado, dificilmente conseguirá se identificar com as personagens criadas pelo autor, é possível sim compreendê-las (ou tentar), mas difícil ter empatia, uma vez que são reais demais, de uma forma a desacreditar na humanidade. Ele traz a hipocrisia das gerações, que no passado agiam da mesma forma daqueles que hoje criticam, com seu falso moralismo e expõe uma fingida vivencia nas hierarquias sociais, seja num cargo de respeito ou até mesmo entre simples vizinhos.

“Você não faz ideia do que é o tempo. Nunca passou mais do que uma hora irritada com alguma coisa. Não faz ideia do que seja raiva de verdade. Como é ficar sendo consumido pela raiva durante uma semana, um mês, três meses." (p. 356)

Ainda sobre o tamanho da obra, é possível reconhecer que o autor se alongou com digressões em determinadas passagens, soando prolixo e dando a ideia de que poderia ter passado por um processo de edição afim de deixar o texto mais enxuto e direto, da mesma maneira sentimos que alguns personagens são muito bem trabalhados, em contra ponto outros ficam em segundo plano (embora estejam no centro da trama) com perguntas sem respostas ao final da leitura.

Bonita Avenue é um romance que destrincha a hipocrisia humana, dá uma descrença na humanidade e nos torna membros de um grupo familiar com relacionamentos frustrados do qual não gostaríamos de fazer parte.


site: http://www.decaranasletras.com/2023/01/bonita-avenue-de-peter-buwalda.html
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Viajante Literário 15/07/2024

A poderosa literatura holandesa.
O que dizer de mais um romance lido de um autor holandês. Dessa vez, Peter Buwalda com sua obra: Bonita Avenue, traz embargado em sua escrita o poder imaginativo, satírico e cru daquilo que representa a humanidade.

Em pouco mais de 500 páginas, ele cria um grupo seleto de personagens que se degradam ao longo da narrativa, através de suas ações e escolhas. Os personagem entram em um redemoinho de consequências até o seu ápice.

Sinceramente não tive como não comparar com outro romance de outro autor holandês, chamado Tirza - do Arnon Grunberg. Esse que também marcou e entrou com os dois pés na porta do meu top livros da vida, o humor refinado, a frieza com os detalhes e o conteúdo perturbador permeiam ambas as obras.

No geral, o saldo é positivo, com este livro que em algumas passagens conseguiu sim me deixar altamente desconfortável, mas que também me fez rir com suas expressões. Na Amazon você encontra com um preço salgado, na faixa de 65 reais, sem contar o frete. Então se tiver interesse, pega numa oferta de usado, desde que esteja em boas condições. Se você gosta de obras de autores holandeses contemporâneos, talvez vá curtir Bonita Avenue.

Exemplo de algumas expressões cômicas: quando um determinado personagem manda uma carta para seu pai com o nome do destinatário de Thomas Turbando. Eu não tive como conter o riso.

Ou quando usam a expressão: é de cai o c@ da bunda. Enfim, muito bom ( mas eu ainda prefiro o Tirza, hahaha)
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Juninho 10/08/2024

A história deste livro é contada sob a perspectiva de três personagens ( Joni (filha), Aron (namorado de Joni que sofre de psicose) e Siem ( matemático bem conceito)). O foco deste livro é relacionamento familiar e como seus membros lidam com os segredos dos outros e as mentiras contadas. Como os personagens reagem ao passado, o presente, a dúvida, negação e o luto. É um livro que contém reviravoltas, porém é uma leitura que exige atenção do leitor. Evitei de dá spoiler, porque a graça do livro está na história.
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