Lauraa Machado 29/03/2022
Forçado do começo ao fim
Quando fui ler o primeiro livro dessa série, muitas pessoas me disseram para eu não desanimar se não gostasse dele, porque os próximos seriam muito melhores e este, o segundo, era o grande favorito da maioria das pessoas. Acho que agora que terminei este e ele foi um dos piores livros que eu já li, posso largar a série de vez. Não tenho a menor vontade de continuar lendo livros dessa autora, infelizmente.
Não sei como a Julia Quinn conseguiu escrever um livro tão parecido com o anterior nas questões mais importantes do romance, e quase ninguém percebeu ou se incomodou com isso. Eu, em compensação, achei que esse conseguiu ficar ainda mais forçado que o anterior, mesmo que os truques do enredo fossem os mesmos, e passei quase o livro todo revirando os olhos.
O livro inteiro foi forçado, tosco e infantil, mas fiquei surpresa pelo romance ser tão superficial e corrido. Não existe nenhuma construção de tensão entre os dois protagonistas antes do primeiro beijo e mais nada consegue carregar a história depois disso. A cena da abelha foi ridícula e ela levar aonde levou foi ainda pior. Estava completamente desacreditada, nesse ponto, de que ainda aconteceria alguma coisa relevante, interessante ou coerente no resto da história. Pelo menos não me surpreendi aí.
Outra decepção para mim foi a personagem da Kate. Me disseram que ela era independente, segura de si e que faria o Anthony de tonto. Definitivamente não foi assim, muito pelo contrário. Ela é bastante palerma e ingênua em muitos sentidos, a ponto de um beijo ser algo monumental para ela e, a partir daí, qualquer suspiro do Anthony a desmancha do nada. Foi bem difícil comprar a imagem de inabalável e forte que a autora não segurou para ela por nem um terço do livro.
Mas nada foi pior do que o próprio Anthony. Como alguém consegue gostar de um personagem tão tosco e mal construído como esse, nunca vou entender. Primeiro que ele é descrito como libertino (rake) umas quarenta vezes nos primeiros três capítulos. Ele claramente diz que não se importar em arruinar garotas contanto que elas não sejam da nobreza. Engravidar e acabar com qualquer chance de uma garota comum se casar, tudo bem. Sem problemas. Só não pode com aquelas que nasceram "em uma boa família. Uma ótima pessoa ele.
Claro que nenhum personagem precisa ser perfeito, mas esse jeito absurdamente misógino dele continua até o final. Pelo amor de deus, ele (e eu vou dar um spoiler aqui, então pula para o próximo parágrafo se quiser evitar) pisa na mão da Kate e é como se nada estivesse acontecendo, se casa com uma garota virgem que pede uma única semana por não se sentir pronta para perder a virgindade e ele fica bravo e diz que não gosta que tirem seu direito. Como alguém pode não achar isso extremamente problemático? Uma semana, pelo amor de deus. Uma única semana, e ele não só não consegue respeitar, como briga com ela dizendo que é direito dele? Fala sério.
Ele realmente não tem uma única qualidade que o recomende. Não, se importar com seus irmãos não conta, é o mínimo. A única atitude boa e relativamente altruísta dele veio de uma cena forçadíssima de rivalidade feminina em que ele se vê como o salvador (ainda que não tivesse nada a ver com ninguém ali) que precisa ir se meter no meio para sair de bonzinho e proteger as pobres mulheres indefesas que não conseguem se defender nem verbalmente.
Peguei raiva dele nesse ponto, confesso, e só não abandonei o livro porque tinha o audiobook. Quase abandonei o audiobook, porque absolutamente nenhuma cena aqui foi interessante ou divertida. Até o humor é infantil e forçado, só conseguiu me fazer revirar os olhos. Sei que o livro foi escrito há muito tempo, mas nem Jane Austen era misógina, Julia Quinn não tem nenhuma desculpa. Aliás, comparar as duas e dizer que a Julia é a Jane Austen da nossa época é a coisa mais ofensiva do livro todo.
Tenho um novo respeito pelos roteiristas da série que conseguiram fazer aquela segunda temporada emocionante, torturante e impecável do começo ao fim, sendo que a inspiração deles foi esse desperdício de livro.